Monstro do lago Ness: ainda andamos às voltas com esta lenda
O mito da besta no lago Ness tem sido alimentado através de várias teorias, como a sua relação com um animal pré-histórico – o plesiossauro. Agora há um fóssil, chamado “Nessie”, que vai a leilão.
Não falta espaço para a imaginação e a mitologia por todo o mundo. O monstro do lago Ness, na Escócia, é uma das lendas mais conhecidas em todo o mundo: um animal, carinhosamente apelidado de Nessie, que habita esse lago profundo há milhares de anos. Não é mais do que um mito, mas continua a alimentar debates sobre a sua origem.
Uma das possibilidades elencadas é a relação do monstro do lago Ness com um réptil pré-histórico, do tempo dos dinossauros: o plesiossauro. Apesar de o lago Ness existir há apenas dez mil anos, desde o final do último período glacial na Terra, e de tanto os plesiossauros como os dinossauros terem morrido há 65 milhões de anos, ainda há quem defenda que estes animais pré-históricos são a inspiração do monstro do lago Ness. Um dos fósseis inspiradores vai mesmo a leilão esta quarta-feira, na Sotheby’s, a partir das 19h: um fóssil de um plesiossauro (um réptil marinho) com cerca de 190 milhões de anos.
A leiloeira britânica apelida, inclusive, este fóssil de Nessie, como o monstro escocês. O fóssil que vai esta quarta-feira a leilão, com um valor estimado entre 700 mil e 900 mil euros, foi descoberto na década de 1990 em Gloucestershire, na parte inglesa do Reino Unido, mas a apenas 800 quilómetros do lago Ness – o que motivou alguma especulação. O fóssil tem pouco mais de três metros e poderá tornar-se um dos exemplares mais caros de plesiossauros já vendidos.
Neste leilão estará ainda um fóssil mais novo, mas mais valioso. Um pterossauro, um réptil voador, do género Pteranodon, que viveu há cerca de 85 milhões de anos, tem seis metros e poderá valer entre cinco e sete milhões de euros.
Uma fotografia de 1934
Mas no que toca à mitologia, a ideia de que o monstro do lago Ness poderia ser um plesiossauro não é nova e já tem uma longa história. A origem mais recorrente deste mito é uma fotografia falsa de 1934: nela conseguimos notar o longo pescoço que segura uma cabeça pequena e o corpo encontra-se submerso no lago – e que se assemelha muito aos plesiossauros. É a fotografia mais famosa desta criatura mítica, tirada por Robert Wilson, mas não é nada mais do que uma montagem. Seguiram-se muito mais imagens, sobretudo com pouca qualidade, e a maioria revelar-se-ia falsa.
Apesar da especulação em torno da besta da qual há relatos datados de há 1500 anos, quando um monge irlandês se terá deparado com o monstro – que só se afastou depois de o monge ter feito o sinal da cruz cristã –, a ciência tem provado repetidamente que o monstro do lago Ness não existe, nem existiu. Por exemplo, em 2019, o estudo de amostras de ADN recolhidas no lago escocês detectaram mais de 3000 espécies, mas não detectaram qualquer monstro – ou répteis marinhos de grande porte.
Além disso, a presença de um animal ao longo de centenas ou milhares de anos num determinado local implicaria a reprodução do mesmo. Mais: do conhecimento adquirido pelos cientistas até hoje, não seria possível um único animal viver tanto tempo.
Não era uma enguia gigante
Uma das hipóteses que, no entanto, não foram excluídas por Neil Gemmel, investigador responsável pelo estudo das amostras de ADN do lago Ness, foi a possibilidade de o monstro ser uma enguia gigante. No entanto, essa hipótese é agora também descartada por uma nova investigação, publicada na revista JMIRx Bio.
O intuito da investigadora Floe Foxon, autora do estudo e membro da Sociedade de Zoologia Popular norte-americana, era precisamente demonstrar se era possível (ou não) encontrar enguias gigantes no lago Ness – conforme o tamanho monstruoso relatado nos avistamentos. Através dos dados de pesca e animais existentes no lago Ness, bem como noutros corpos de água em território europeu, este estudo procurou perceber qual seria a probabilidade de observar enguias tão grandes como as estimativas existentes para o monstro do lago Ness.
A estimativa para este monstro seria uma enguia com seis metros. Ou seja, como refere a cientista no estudo, “um exemplar com seis metros precisaria de viver em crescimento constante durante cerca de 200 anos, uma idade similar ao peixe mais longevo, o tubarão-da-gronelândia”. Algo bastante improvável, portanto. Até porque as enguias têm um crescimento não-linear, dado que, tal como os humanos, param de crescer quando envelhecem.
Mesmo a probabilidade de encontrar uma enguia com um metro no lago Ness já é bastante baixa: aproximadamente de um em cada 50 mil. E a probabilidade de encontrar uma enguia ainda maior é virtualmente zero, o que torna esta hipótese inválida. Nada, no entanto, que já não desconfiássemos: afinal, a probabilidade de um monstro no lago Ness não ter sido observado por cientistas, ao longo de décadas de estudos no local, era também ela bastante baixa. Mas a lenda do Nessie continua bem viva na tradição popular e a ciência ainda continua, de vez em quando, a olhar para este fenómeno.