Dúvida: as toalhitas usadas podem ser deitadas na sanita?

Toalhitas descartadas na sanita podem não só agravar a contaminação do oceano com microplásticos, mas também causar entupimentos na canalização e dificuldades no tratamento das águas residuais.

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As toalhitas húmidas não devem ser depositadas na sanita, mesmo quando são anunciadas como biodegradáveis, refere fonte das Águas do Algarve Towfiqu Barbhuiya/DR
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As toalhitas húmidas servem hoje os mais variados propósitos: da higiene infantil à remoção de maquilhagem, passando pela limpeza de diferentes superfícies. O produto simplificou várias rotinas domésticas, mas, como é muitas vezes descartado incorrectamente, também criou problemas ambientais de difícil resolução. As toalhitas que são deitadas na sanita podem não só agravar a contaminação do oceano com microplásticos, mas também causar entupimentos na canalização e dificuldades no tratamento das águas residuais.

“Há embalagens que sugerem que é possível deitar as toalhitas na sanita, mas, mesmo que estas se apresentem como biodegradáveis, é algo totalmente desaconselhável”, afirma ao PÚBLICO Teresa Fernandes, porta-voz das Águas do Algarve e responsável pela área de comunicação e educação ambiental da entidade.

Teresa Fernandes explica que as toalhitas, ainda que sejam feitas de fibras naturais como o bambu, não se dissolvem imediatamente na água. E, por isso, tendem a acumular-se nas vias de escoamento, podendo causar entupimentos tanto nas tubagens domésticas como na rede de esgoto. “Isto pode vir a ter um custo elevado para o próprio consumidor”, refere a porta-voz das Águas do Algarve.

A sanita não é o balde do lixo. Estamos a falar aqui de toalhitas, mas este problema estende-se a outros resíduos: restos de comida, cabelo, cotonetes, óleo de cozinha, medicamentos e até fraldas. Nós, infelizmente, encontramos de tudo nas estações de tratamento de águas residuais (ETAR), mesmo após tantas campanhas de sensibilização”, lamenta Teresa Fernandes.

Custos acrescidos de tratamento

Todos os resíduos estranhos que vão parar às ETAR têm de ser removidos através de um processo de separação de materiais – uma etapa adicional, com custos acrescidos, que poderia ser evitada se o lixo fosse depositado nos destinos correctos.

“As ETAR são constituídas por equipamentos para remover resíduos da água, mas quanto mais resíduos, maior é o esforço a que os equipamentos são sujeitos, logo maior é o respectivo desgaste. Logo mais custos de manutenção e, por intermédio de impostos, mais custos para os consumidores”, lê-se numa página da Recicla, a revista da Sociedade Ponto Verde.

Além dos custos económicos, há também uma alta factura ambiental a pagar. Muitas toalhitas apresentam matéria plástica na sua composição. Uma vez descartados na água, estes resíduos libertam lenta e gradualmente pequeninos fragmentos de plástico que persistem nos rios e no oceano, contaminando ecossistemas e prejudicando a vida aquática.

Os materiais plásticos fabricados a partir do combustível fóssil são tão, mas tão estáveis que, mesmo que se fragmentem, continuam a ser uma ameaça. Toalhitas de origem plástica que “navegam” no oceano decompõem-se lentamente em pedaços cada vez menores, passando da escala “macro” à “micro”, até se transformarem em nanoplásticos. Trata-se de algo tão ínfimo que pode entrar no corpo humano. Já foram encontrados microplásticos no sangue humano e até no leite materno.

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As toalhitas húmidas tornaram-se um produto tão popular que hoje são usadas para limpar óculos, roupas, electrodomésticos e até telemóveis MildredR/DR

Um problema global

O descarte selvagem de toalhitas é um problema global. Em Espanha, o lixo acumulou-se de tal forma no rio Guadalquivir que acabou por dar origem a uma “ilha” de toalhitas na cidade espanhola de Córdova.

No Reino Unido, a deputada Fleur Anderson propôs uma moldura legal que proibisse a venda destes produtos contendo plástico. Após uma visita ao rio Tamisa, em 2021, a responsável britânica relatou a existência de pilhas de toalhitas nas margens fluviais – um acúmulo tão grande que passou a condicionar o curso fluvial e até a formar “uma ilha de toalhitas”. A proposta de lei ainda não avançou.

Um estudo científico publicado este ano na revista Plos One mostra que as toalhitas de “bioplástico” podem ficar intactas durante meses a fio. Ao contrário do que afirmam muitos fabricantes, produtos feitos a partir de ácido poliláctico (PLA, na sigla em inglês) não se degradam assim tão facilmente. A investigação liderada pela cientista Sarah-Jeanne Royer revelou que o PLA persiste inalterado na água do mar durante, pelo menos, 14 meses.