Sermão da ressurreição

Quem tiver ouvidos que ouça: esse dia está a chegar. Será uma revolução.

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— A ressurreição — dizia a irmã gorda enquanto as meninas e as outras religiosas almoçavam — não será acordar num corpo idêntico a este que usamos todos os dias, será, isso sim, acordar num corpo de glória, um corpo que será uma humanidade inteira, que não tem nada que ver com esta prisão de vísceras e pele e ossos em que vivemos, uns mais alegres do que outros, uns poucos opulentos, outros, a esmagadora maioria, com fome, mas todos miseráveis dentro desta penitenciária da carne [Somos mulheres repletas de Deus]. Assim será a ressurreição, [Somos mulheres repletas de Deus] seremos outros, formas impensáveis de ser, não voltaremos aos corpos antigos e brandos, isso seria voltar a gatinhar. A ressurreição será como libertar-se de um corpo de macaco para habitar um corpo divino [Somos mulheres repletas de Deus], ninguém quererá a sua vida antiga, porque ninguém ressuscita para ser menos, mas para ser mais, ninguém ressuscita para ser o mesmo, mas para se elevar. Saiamos das trevas onde vivemos [Somos mulheres repletas de Deus] para a vida luminosa do futuro, saiamos deste útero com coragem, porque a luz que vemos no mundo é apenas uma metáfora da verdadeira. A morte é somente a velha aia que nos vem despir, e assim deixaremos para trás o que éramos para, nus, abraçarmos o que seremos [Somos mulheres repletas de Deus]. A morte é uma revolução.

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