Incêndios florestais trazem morte e destruição a um Mediterrâneo assolado pelo calor

Condições extremas em Julho estão a causar estragos por todo o planeta, com temperaturas recorde na China, EUA e sul da Europa, provocando incêndios, escassez de água e aumento de internamentos.

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Incêndio na ilha grega de Rodes NICOLAS ECONOMOU/REUTERS
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Incêndio na ilha grega de Rodes NICOLAS ECONOMOU/REUTERS
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Incêndio na ilha grega de Rodes DAMIANIDIS LEFTERIS/EPA
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Incêndio na ilha grega de Rodes LEFTERIS DAMIANIDIS/EPA
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Incêndio na ilha grega de Rodes NICOLAS ECONOMOU/REUTERS

Um avião que combatia os incêndios florestais na Grécia despenhou-se nesta terça-feira e causou a morte a duas pessoas, numa semana em que vastas zonas do Mediterrâneo estão sob uma intensa vaga de calor, com países como a Argélia a lutar para controlar fogos infernais que já mataram pelo menos 34 pessoas.

O avião, que estava a lançar água, caiu numa encosta perto da cidade de Karystos, na ilha grega de Evia, a leste de Atenas. O capitão e o co-piloto da aeronave, com idades de 34 e 27 anos, morreram, segundo informou a força aérea grega. ​A Grécia tem sido particularmente afectada pelos incêndios, tendo as autoridades retirado mais de 20 mil pessoas nos últimos dias de casas e estâncias de férias no sul da ilha de Rodes. Cerca de 3000 pessoas que estavam de férias na região voltaram aos seus países de avião e várias agências estão a cancelar as viagens que tinham planeadas.

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Um avião larga água para ajudar a combater os incêndios florestais em Karystos, onde um avião se despenhou, causando a morte aos dois tripulantes GEORGE VITSARAS/EPA

Esta terça-feira, um outro incêndio provocou o encerramento temporário do aeroporto de Palermo, na ilha de Sicília, no sul de Itália.

Mais a Norte, o tempo era o oposto: uma intensa tempestade nocturna arrancou telhados e derrubou árvores em cidades como Milão, causando a morte a uma mulher e a uma rapariga de 16 anos. No sul, um homem de 98 anos que estava acamado morreu quando um incêndio devastou a sua habitação. Os habitantes de Milão assistiram à confusão depois da dramática tempestade da noite e dos ventos de mais de 100 quilómetros por hora. “Foi muito curto mas muito intenso, derrubou várias árvores... com as rajadas de vento, elas descolaram e partiram-se”, disse à Reuters Roberto Solfrizzo, de 66 anos.

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Estragos da tempestade em Milão, Itália MOURAD BALTI TOUATI/EPA

Várias dezenas de bombeiros estavam também nesta terça-feira a usar meios aéreos e terrestres para combater um incêndio florestal perto do aeroporto de Nice, no sul de França.

Planeta em chamas

As condições meteorológicas extremas registadas durante o mês de Julho estão a causar estragos por todo o planeta, com temperaturas recorde na China, nos Estados Unidos e no sul da Europa, provocando incêndios florestais, escassez de água e um aumento dos internamentos hospitalares relacionados com o calor.

Sem as alterações climáticas induzidas pelos humanos, os acontecimentos deste mês teriam sido “extremamente raros”, de acordo com um estudo do World Weather Attribution, um colectivo de cientistas de vários países que examina o papel desempenhado pelas alterações climáticas nos fenómenos meteorológicos extremos.

As temperaturas que ultrapassaram os 40 graus Celsius são muito superiores às que normalmente atraem os turistas que se deslocam às praias do sul da Europa. As temperaturas elevadas fazem-se sentir de ambos os lados do Mediterrâneo. No Norte de África, o calor foi ainda mais intenso, com temperaturas de 49 graus Celsius registadas em algumas cidades da Tunísia.

Nesta terça-feira, a Argélia também luta para conter incêndios florestais devastadores ao longo da sua costa mediterrânica, num incêndio que já matou pelo menos 34 pessoas. Alimentados por ventos fortes, os incêndios obrigaram também ao encerramento de dois postos fronteiriços com a vizinha Tunísia.

Malta, outro importante destino de férias no Mediterrâneo, sofreu uma série de cortes de energia em todo o país, afectando o seu maior hospital, após uma semana de calor intenso.

Calor, o “assassino silencioso”

Os cientistas descrevem o calor extremo como um “assassino silencioso” que afecta fortemente as pessoas mais pobres, idosas e com problemas de saúde.

Segundo um estudo publicado este mês na revista científica Nature Medicine, as ondas de calor que varreram a Europa no Verão de 2022 podem ter provocado mais de 61 mil mortes, o que sugere que os esforços de preparação estão a ser fatalmente insuficientes. Desse total, os investigadores estimam que mais de 2200 óbitos terão acontecido em Portugal.

Segundo os cientistas do World Weather Attribution, o calor também provocou perdas de gado e danos em grande escala na agricultura, tendo as culturas de milho e soja dos EUA, o gado mexicano, as azeitonas do sul da Europa e o algodão chinês sido gravemente afectados.

Salvar o hotel

O primeiro-ministro grego, Kyriakos Mitsotakis, afirmou que o seu país é um dos que estão na linha da frente contra as alterações climáticas e que não há soluções fáceis para travar os seus efeitos.

“Vou dizer o óbvio: face ao que todo o planeta está a enfrentar, especialmente o Mediterrâneo, que é um hotspot das alterações climáticas, não existe um mecanismo de defesa mágico. Se existisse já o teríamos implementado”, afirmou Mitsotakis.

Os incêndios vão afectar o sector do turismo, um dos pilares da economia grega, que representa 18% do PIB e um em cada cinco postos de trabalho no país, com uma contribuição ainda maior em ilhas como Rodes.

Lefteris Laoudikos, cuja família é proprietária de um pequeno hotel na cidade balnear de Kiotari, em Rodes, um dos epicentros de um incêndio no fim-de-semana, disse que os seus 200 hóspedes –​ principalmente da Alemanha, Grã-Bretanha e Polónia – foram retirados em carros alugados.

O seu pai, o seu primo e duas outras pessoas estavam a tentar apagar as chamas utilizando um tanque de água próximo. “O meu pai salvou o hotel. Telefonei-lhe e ele não queria sair. Disse-me: ‘Se eu me for embora, não haverá hotel’”.