Rússia ataca rota fluvial do Danúbio, vital para a exportação de cereais ucranianos

Ataque com drones destrói armazéns nos portos de Izmail e Reni, já perto da fronteira com a Roménia. Guterres apela ao regresso de Moscovo ao acordo do mar Negro.

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Armazém de cereais destruído na região de Odessa após ataque russo Reuters/UKRAINIAN ARMED FORCES
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A Rússia não dá tréguas na campanha militar contra as infra-estruturas essenciais à exportação de cereais da Ucrânia que lançou após ter abandonado o acordo do mar Negro e, esta segunda-feira, destruiu vários armazéns de cereais ucranianos situados nos portos de Izmail e Reni, nas margens do rio Danúbio.

Após os bombardeamentos da semana passada, que atingiram os portos marítimos de Odessa e Mikolaiv, os últimos ataques, levados a cabo com drones de fabrico iraniano, visaram as infra-estruturas ao longo do Danúbio, cuja importância para o escoamento da produção cerealífera da Ucrânia aumentou com o fim do acordo que permitia o transporte de cereais ucranianos através do mar Negro.

“Os terroristas russos voltaram a atacar a região de Odessa durante a noite. Desta vez, o alvo são as infra-estruturas portuárias no rio Danúbio”, escreveu o governador regional, Oleh Kiper.

O site noticioso Reni-Odesa citou um funcionário local dizendo que três armazéns de cereais foram destruídos na cidade portuária de Reni, junto à fronteira com a Roménia, membro da NATO e da União Europeia.

“Esta escalada representa sérios riscos para a segurança no mar Negro”, escreveu o Presidente romeno, Klaus Iohannis, no Twitter.

Desde o início da invasão russa, em Fevereiro de 2022, a Ucrânia aumentou as exportações de cereais por via terrestre através da UE para cerca de um milhão de toneladas por mês, com grandes volumes a serem exportados dos portos romenos e ao longo do Danúbio.

Horas depois do ataque desta segunda-feira de madrugada, o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, voltou a apelar à Rússia para que regresse ao acordo do mar Negro, alertando em Roma para o impacto devastador nos “países vulneráveis que lutam para alimentar o seu povo”.

“Peço à Federação Russa que retome a aplicação dos acordos do mar Negro e exorto a comunidade internacional a permanecer unida neste esforço para encontrar soluções efectivas”, disse Guterres na abertura na capital italiana da Cimeira das Nações Unidas sobre sistemas alimentares.

A interrupção do tráfego fluvial ao longo do Danúbio “poderá afectar rapidamente o abastecimento internacional de cereais”, disse um comerciante europeu citado pela Reuters, com outro operador francês a acrescentar: “Sem o corredor do mar Negro e agora com os ataques às rotas alternativas, será cada vez mais difícil levar os cereais ucranianos para fora do país".

As autoridades ucranianas deram poucos pormenores sobre os ataques desta segunda-feira. A polícia disse que, para além dos armazéns de cereais, foram atingidas infra-estruturas destinadas a armazenar outros produtos, causando um incêndio que, segundo o governador do oblast de Odessa, feriu sete pessoas, uma delas em estado crítico.

“A Rússia está a tentar bloquear totalmente a exportação dos nossos cereais e fazer com que o mundo passe fome”, acrescentou Oleh Kiper.

Já o ministro dos Negócios Estrangeiros da Ucrânia, Dmitro Kuleba, acusou a Rússia de “manter 400 milhões de pessoas como reféns” e apelou a “uma resposta global unida” contra o que classificou como “terrorismo alimentar”.

Algumas agências noticiosas ucranianas relataram também explosões durante a madrugada na área de Izmail, outro porto do Danúbio na região de Odessa.

Do lado russo, o Kremlin informou ter “neutralizado” dois drones ucranianos durante a madrugada desta segunda-feira em Moscovo, no que afirmou ser um “acto terrorista” na capital russa.

O Ministério da Defesa da Rússia acusou ainda a Ucrânia de atacar a Crimeia, afirmando que Kiev lançou 17 drones com este objectivo, mas os ataques foram impedidos e não resultaram em baixas. Segundo Moscovo, 11 drones caíram no mar Negro após serem atingidos por equipamento antiaéreo, três caíram em território da Crimeia e outros três foram destruídos por defesas aéreas.

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