Sinais da Terra inquieta: assinaturas sísmicas em zonas vulcânicas

Esta investigação consiste em analisar crises sísmicas em ambientes vulcânicos e identificar estes diferentes sinais sísmicos. Os métodos usados estão a ser testados em dados registados nos Açores.

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Ilha de São Miguel, Açores Anna Costa
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Decerto que alguns de nós já sentimos a vibração do solo quando ocorre um sismo. Contudo, se pensarmos melhor, existem muitos outros fenómenos que fazem parte do nosso dia a dia e fazem o solo vibrar, como por exemplo a passagem de grandes camiões, comboios, aviões supersónicos, explosões em minas ou pedreiras e ondas do mar quando pressionam o fundo do oceano. Cada uma destas fontes de energia sísmica faz o solo vibrar de forma diferente, gerando uma assinatura sísmica diferente, que os sismólogos tentam decifrar.

Em Portugal continental observam-se geralmente sismos de magnitude baixa ou moderada, distribuídos pela rede de falhas que caracteriza o nosso país, e por vezes, sismos maiores e destrutivos que ocorrem com menor frequência. Contudo, “tudo muda de figura” quando o assunto é a atividade sísmica no arquipélago dos Açores.

Constituídos por ilhas de origem vulcânica, que se encontram numa zona de fronteira divergente entre três placas tectónicas – euroasiática, norte-americana e africana (Núbia) –, os Açores sofrem os efeitos tanto de sismos tectónicos como também de sinais sísmicos chamados “não-convencionais”, como tremor vulcânico e sismos de longo período.

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Os sismos tectónicos são gerados pela rotura de falhas em resposta à deformação tectónica. Sinais chamados “não-convencionais”, comuns em regiões vulcânicas como os Açores, são habitualmente provocados por movimentos de fluidos no subsolo. À medida que a água, gases ou magma se movem através de fissuras e canais subterrâneos, vão gerar tremores sísmicos, diferentes dos causados por sismos tectónicos. Estes sinais são muitas vezes observados antes e durante as erupções vulcânicas. Para complicar este cenário, junta-se o facto de o movimento de fluidos também causar a rotura das rochas do subsolo, gerando sinais semelhantes aos dos sismos tectónicos, difícil de discernir dos sismos de origem puramente tectónica.

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Exemplo de dois tipos de sinais sísmicos registados na componente vertical (HHZ) da estacão sísmica BART, em São Bartolomeu, na ilha de São Miguel: (a) sismo tectónico e (b) tremor vulcânico

Tanto as falhas tectónicas como as regiões vulcânicas têm períodos de acalmia, em que as tensões ou pressões vão aumentando de forma gradual e silenciosa, e períodos de instabilidade em que a energia acumulada é libertada repentinamente, quando os sismos ou as erupções acontecem.

Por vezes, estes períodos de maior atividade manifestam-se pela ocorrência de uma grande quantidade de sismos num curto intervalo de tempo (poucos dias, semanas ou meses), a que chamamos “crise ou enxame sísmico”. Estas crises, que podem combinar sismos tectónicos com tremores e eventos de longo período, estão frequentemente relacionadas com a atividade vulcânica e podem trazer consequências significativas para as comunidades locais.

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A investigadora Analdyne Soares DR

Tratando-se de eventos naturais complexos, estudar as crises sísmicas em zonas vulcânicas é fundamental para compreender melhor os fenómenos que ocorrem em profundidade. Identificar e compreender os padrões e as características dos sinais sísmicos registados, que possam ser interpretados como precursores de erupções vulcânicas, permite estimar a probabilidade de ocorrência das mesmas, mapear áreas de risco e fornecer informações valiosas para a proteção das comunidades.

A minha investigação de doutoramento consiste em analisar crises sísmicas em ambientes vulcânicos e identificar estes diferentes sinais. Conseguimos aplicar métodos de processamento automático que permitem estimar os parâmetros básicos dos sismos tectónicos, como o momento de ocorrência, localização e magnitude. Procuramos, neste momento, detetar os sinais com diferentes assinaturas sísmicas não-convencionais e analisar a sua relação com a atividade vulcânica e hidrotermal em profundidade.

Estes métodos utilizados têm sido testados num conjunto de dados de alta qualidade registados nos Açores pelo Centro de Informação e Vigilância Sismovulcânica dos Açores/Instituto de Investigação em Vulcanologia e Avaliação de Riscos (CIVISA/IVAR) e pelo Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA). O trabalho é realizado em colaboração com estes institutos.

Ao compreender melhor os sismos e a atividade sismo-vulcânica, podemos ajudar a proteger vidas e aumentar a segurança das comunidades que habitam essas regiões.

A autora escreve segundo o novo acordo ortográfico

Aluna de doutoramento em Ciências Geofísicas e da Geoinformação na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa

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