Incêndios na Grécia: turistas voltam para casa e habitantes imploram ajuda
Incêndios florestais, alimentados por uma onda de calor, lavram há já mais de uma semana em Rodes e não deverão abrandar nos próximos dias. Mais de 2000 turistas regressaram a casa.
As operadoras de turismo levaram mais de 2000 turistas para casa esta segunda-feira, enquanto os incêndios florestais assolavam a ilha de Rodes, no que o Governo grego disse ser a maior operação de retirada de pessoas já realizada no país. Mas o pior será mesmo para quem fica. "Estamos em guerra", resume o primeiro-ministro, Kyriakos Mitsotakis, concluindo em tom de aviso: "A crise climática já está aqui, vai manifestar-se em todo o Mediterrâneo com catástrofes maiores."
"Durante as próximas semanas temos de estar em alerta permanente. Estamos em guerra, vamos reconstruir o que perdemos, vamos indemnizar os que ficaram feridos", disse o primeiro-ministro grego Kyriakos Mitsotakis ao Parlamento.
No aeroporto de Colónia-Bona, os turistas alemães que regressavam falaram de férias ao sol que se transformaram em tormento, tendo um deles contado como a sua família teve de caminhar 11 km para ficar em segurança. "Queríamos beber e as pessoas estavam nas suas casas e borrifavam-nos com as suas mangueiras e nós bebíamos das mangueiras. Toda a gente estava a andar e nós não sabíamos para onde ir", disse Violetta Kaczmarzyk à Reuters.
Outros expressaram o seu alívio por terem escapado. Porém, para os residentes locais, não houve tréguas. E o fogo não deverá abrandar tão cedo.
Na estância balnear de Kiotari, no Sul do país, o fumo pairava sobre a praia vazia e uma bandeira grega chamuscada tremulava sobre um camião incendiado. Muitos habitantes locais abrigaram-se num restaurante perto da costa, temendo pelas suas casas. Outros despejaram água do mar num grande tanque empilhado num camião para combater as chamas.
"O vento está muito forte hoje. Na quarta-feira, vai ser pior. A situação é muito, muito má. Precisamos de ajuda. Mandem-nos ajuda de todo o lado", disse Lanai Karpataki, residente local.
A Protecção Civil afirmou que praticamente todas as regiões da Grécia enfrentavam a ameaça de incêndios florestais esta segunda-feira, que variava entre alto, muito alto e estado de alerta. As temperaturas na última semana ultrapassaram os 40 graus Celsius em muitas partes do país e prevê-se que se mantenham nos próximos dias.
Os serviços de emergência também estavam a lidar esta segunda-feira com novos focos de incêndios na ilha de Evia, a leste de Atenas, e em Aigio, a sudoeste de Atenas.
As forças de combate a incêndios, juntamente com voluntários em Rodes, Corfu, Egio, Karystos e Yliki, combateram os incêndios florestais durante toda a noite de segunda-feira, enquanto os aviões começaram a operar no início da manhã. Um total de 99 bombeiros, 35 camiões de água e quatro equipas a pé, dois aviões, dois helicópteros e o centro operacional Olympos estão a operar na zona.
Fim de férias, regresso a casa
Mais voos de repatriamento estavam previstos para esta terça-feira, uma vez que os incêndios continuavam fora de controlo e a autoridade da Protecção Civil avisou que a ameaça de novos incêndios era elevada em quase todas as partes da Grécia, assolada por uma vaga de calor.
O Ministério dos Negócios Estrangeiros de Portugal afirmou estar "em contacto com 19 portugueses" na Grécia: "A Embaixada de Portugal em Atenas acompanha a situação de incêndios florestais que se vive na Grécia e está a prestar todo o apoio necessário aos portugueses que se encontrem no país, e em particular na ilha de Rodes, sejam os que entraram em contacto com a embaixada, como contactando os residentes ou que estão registados naquela secção consular", lê-se num comunicado enviado à Lusa.
Os incêndios que lavram desde quarta-feira em Rodes obrigaram já 19 mil pessoas a abandonar as suas casas e hotéis durante o fim-de-semana, quando um inferno atingiu as estâncias costeiras no Sudeste da ilha. Um incêndio florestal também levou a evacuações na ilha de Corfu.
Rodes e Corfu estão entre os principais destinos da Grécia para os turistas, principalmente do Reino Unido e da Alemanha.
Depois de abandonarem os hotéis e as estâncias, muitos turistas passaram a noite no chão do aeroporto de Rodes, à espera dos voos de repatriamento, os primeiros dos quais partiram durante a noite.
De domingo até ao meio-dia de segunda-feira, 2115 turistas foram repatriados, principalmente para a Grã-Bretanha, Alemanha e Itália, em 17 voos, informou o Ministério dos Transportes grego. O porta-voz do Governo, Pavlos Marinakis, descreveu a evacuação como a maior efectuada no país.
O ministro dos Negócios Estrangeiros britânico, Andrew Mitchell, estima que cerca de 10 mil britânicos se encontravam na ilha.
A TUI levou três aviões carregados de passageiros de regresso à Grã-Bretanha durante a noite, a companhia britânica easyJet efectuou dois voos adicionais na segunda-feira e a Jet 2 efectuou três voos adicionais para 600 pessoas. A Air France também voou de Rodes com capacidade acrescida.
Michael O'Leary, diretor executivo da Ryanair, afirmou que a sua companhia aérea não tinha visto passageiros a tentar cancelar voos para Rodes durante o fim-de-semana, uma vez que os incêndios ocorreram mais no Sul da ilha e o aeroporto e a maioria das estâncias turísticas estão no Norte.
Em Corfu, cerca de 2500 pessoas receberam abrigo, incluindo em estádios, embora muitas tenham regressado aos seus hotéis esta segunda-feira.
A Grécia é frequentemente atingida por incêndios florestais durante os meses de Verão, mas as alterações climáticas conduziram a ondas de calor mais extremas em todo o Sul da Europa, aumentando as preocupações de que os turistas se mantenham afastados.
O turismo representa 18% do PIB da Grécia e um em cada cinco postos de trabalho. Em Rodes e em muitas outras ilhas gregas, a dependência do turismo é ainda maior.