Uma visita a Samuel Delany

É isto que Delany é, aos 81 anos: uma subcultura com um habitante. É também a rara promessa cumprida de um dos clichés da divulgação cultural; trata-se mesmo de “um dos melhores escritores vivos”.

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A edição mais recente da New Yorker — um número duplo dedicado à “Ficção” — trouxe um inesperado perfil longo de Samuel R. Delany. Inesperado não porque Delany não mereça o destaque (a sucessão de óbitos dos últimos anos só reforçou a sua inclusão nessa dúbia categoria do jornalês: “Um dos melhores escritores americanos vivos”), mas pela dissonância de ver o imprimatur do mainstream depositado sobre uma das bibliografias mais transgressivas e heterodoxas da literatura. Foi como ver Kathy Acker em Estocolmo, ou o Marquês de Sade entrevistado em horário nobre por Helena Sacadura Cabral. A História está repleta destas retrodomesticações de ex-produtores de tabus — como as canonizações tardias de Burroughs e de Henry Miller, ambos promovidos a patuscos avós-pornógrafos da América —, mas o caso de Delany parece diferente, em género e grau.

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