Camboja vai a votos numa eleição que é apenas preâmbulo para sucessão nepotista

O homem forte do país há quase 40 anos, Hun Sen, afastou os principais opositores e anunciou na véspera do sufrágio que o filho deve assumir o seu cargo “em três ou quatro semanas”.

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Hun Manet apareceu no comício final do Partido do Povo do Camboja CINDY LIU/Reuters
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O primeiro-ministro Hun Sen, do Camboja, um dos líderes que há mais tempo está no poder no mundo, anunciou que o seu filho mais velho e sucessor designado, Hun Manet, poderá assumir o cargo já no próximo mês, numa revelação surpreendente na véspera das eleições unilaterais deste domingo.

Já toda a gente esperava que Hun Manet, de 45 anos, formado nos Estados Unidos e no Reino Unido, sucedesse ao pai, que governa o Camboja há quase quatro décadas, mas nenhum prazo tinha sido dado anteriormente para essa sucessão.

"Em três ou quatro semanas, Hun Manet pode tornar-se o primeiro-ministro. Depende se Hun Manet será capaz de fazê-lo ou não", disse Hun Sen em entrevista à emissora de televisão chinesa Phoenix TV, transmitida na quinta-feira.

O autodenominado homem forte e ex-guerrilheiro do Khmer Vermelho, Hun Sen, completará 71 anos no próximo mês. Hun Manet, um dos principais generais do Camboja e ex-chefe da unidade de guarda-costas de seu pai, estreia-se como candidato nas eleições deste domingo.

O Partido do Povo do Camboja (CPP) concorre praticamente sem oposição, após seu único rival significativo ter sido desqualificado por uma questão técnica relacionada com os documentos de registo.

Organizações de direitos humanos classificaram a eleição como uma farsa e acusam Hun Sen de controlar os media, ameaçar críticos e desmantelar sistematicamente a oposição com acusações criminais forjadas. O governo nega perseguição aos opositores.

Transição suave

Muitos analistas acreditam que a repressão da oposição foi planeada para garantir que a eleição fosse efectivamente uma corrida de um candidato só, permitindo uma transição suave de poder entre os Hun.

Hun Manet frequentou a academia militar de West Point nos Estados Unidos e possui um mestrado pela New York University e um doutoramento pela Universidade de Bristol, ambos em economia.

Questionado na sexta-feira sobre a sucessão, um porta-voz do CPP, Sok Eysan, afirmou que o partido tinha dois candidatos a primeiro-ministro – Hun Sen e Hun Manet – e que não havia "nada mais a confirmar" além do que o líder disse na entrevista televisiva.

Hun Manet tem-se mantido discretamente fora do Camboja durante sua ascensão nas fileiras militares e desde que foi gradualmente introduzido na política interna.

Não está claro que tipo de líder poderá vir a ser, considerando todos os anos que viveu em democracias ocidentais e sob o governo autocrático do seu pai.

Na sexta-feira, Hun Manet apareceu num comício na capital cambojana, Phnom Penh, no último dia de campanha, e expressou confiança numa vitória esmagadora para o CPP, que disse ser o único partido capaz de governar o país e que conta com o total apoio dos cidadãos.

"Eles comprometeram-se a votar no Partido do Povo do Camboja para garantir um futuro brilhante e próspero para a nação na próxima geração", disse um sorridente Hun Manet para uma multidão animada.

O sucessor falou sobre como o CPP manteve a paz e a estabilidade após décadas de guerra e afirmou que um grupo não especificado de "extremistas" malignos estava a tentar "destruir esta eleição", numa retórica muito semelhante à do pai. Reuters

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