Cientistas lamentam o fim do radiotelescópio de Arecibo: “É muito triste”

Fundação de Ciência Nacional dos EUA planeia transformar o local numa instalação educativa. Contratos de até 90 funcionários, incluindo 25 investigadores, terminam a 14 de Agosto.

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O Observatório de Arecibo em Novembro de 2020 UNIVERSIDADE CENTRAL DA FLORIDA
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Investigadores e funcionários do Observatório de Arecibo, em Porto Rico, enfrentam um futuro incerto depois de, em 2020, o radiotelescópio gigante ter desabado e de, dois anos mais tarde, a Fundação de Ciência Nacional (NSF, na sigla em inglês) dos Estados Unidos, a sua proprietária, ter anunciado que o local deixaria de ser um observatório astronómico.

Uma reportagem da revista Science, publicada na semana passada, revela que a NSF planeia transformar o local numa instalação educativa e que os contratos de até 90 funcionários, incluindo 25 investigadores, terminam a 14 de Agosto.

“Estamos a encerrar todas as actividades científicas”, afirmou a física Julie Brisset, da Universidade da Florida Central (UCF), responsável pela manutenção e investigação em Arecibo, citada pela Science.

Os cientistas lamentam a decisão. “É muito triste”, afirma a física brasileira Pedrina Terra dos Santos, que trabalhou no observatório durante 17 anos e que, tal como muitos dos seus colegas, procura agora um novo emprego. Muitos terão de abandonar a ilha para prosseguir as suas carreiras. “Não há maneira de eu ficar”, diz a física, acrescentando que o seu filho, que nasceu em Porto Rico, sonhava em trabalhar em Arecibo.

Recolher os últimos dados e instrumentos

A importância do Observatório de Arecibo não é esquecida: ainda recentemente, segundo a Science, astrónomos basearam-se em dados obtidos pelo radiotelescópio gigante para elaborarem um relatório sobre o zumbido das ondas gravitacionais de buracos negros supermaciços. Mesmo depois do desabamento, o Observatório de Arecibo continuou a observar os céus com os instrumentos que resistiram, incluindo um radiotelescópio de 12 metros e um laboratório óptico para sondar partículas e ventos atmosféricos.

Foi em Outubro de 2022 que a NSF anunciou que não iria reconstruir o radiotelescópio gigante. Agora, tem vindo a encerrar também a maior parte dos instrumentos mais pequenos que fazem parte do observatório. De acordo com Olga Figueroa-Miranda, directora do Observatório de Arecibo, serão despedidos funcionários e investigadores da UCF, da Universidade Metropolitana de Porto Rico e da Yang Enterprises, uma empresa de engenharia, incluindo ela própria.

A NSF diz estar ainda receptiva a propostas para cientistas visitarem Arecibo e utilizarem os instrumentos que restam. Por agora, os investigadores estão a tentar recolher os últimos dados, arquivá-los e transportar os instrumentos antes de abandonarem o local. “Temos um mês para obter os dados”, destaca o físico Anish Damodaran sobre as observações solares que efectuou com o telescópio de 12 metros. Já Robert Kerr, um físico que foi director do observatório durante seis anos, tem cerca de um milhão de dólares em instrumentos no seu laboratório óptico que tem de transportar de volta para os Estados Unidos.

A revista Science revela que os planos para o futuro incluem a construção do que terá a designação de Centro de Arecibo para a Educação e Investigação STEM (ACSER) e as autoridades esperam que o novo centro continue a ter um papel importante na educação em Porto Rico. O ACSER prevê atribuir financiamento, num total de cinco milhões de dólares ao longo de cinco anos, a uma proposta para explorar o local até ao final do ano. Porém, especialistas questionam qual será a eficácia de programas para explorar aquilo que antigamente era o Observatório de Arecibo se não houver astrónomos ou físicos no local e os estudantes não puderem testemunhar a ciência a ser desenvolvida.

Uma das áreas de investigação que tornaram o radiotelescópio de Arecibo famoso foi a procura de inteligência extraterrestre, ou SETI, a sigla em inglês pela qual essa procura é conhecida.

A 14 de Agosto, as luzes serão apagadas e as portas trancadas. A partir daí, resta a incerteza sobre o que reservará o futuro.

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