Carta aberta solicita ao Grupo Secil a desactivação da pedreira na Arrábida
Liga para a Protecção da Natureza e mais seis associações ambientalistas portuguesas contra a ampliação da cimenteira no Parque Natural da Arrábida.
A Liga para a Protecção da Natureza (LPN) divulgou esta sexta-feira uma carta aberta contra a tentativa de o Grupo Secil aumentar a área de exploração de calcário no Parque Natural da Arrábida e pede à cimenteira para, em vez disso, encerrar a actividade naquela região e definir um plano para reabilitar do ponto de vista paisagístico as áreas que foram exploradas.
“A LPN vem agora solicitar à Secil a apresentação de um plano de desactivação das suas pedreiras na Arrábida, bem como um plano de encerramento faseado da fábrica do Outão e a renaturalização da área afectada”, lê-se no documento.
A carta foi elaborada pela organização e tem o apoio das organizações não-governamentais de ambiente da Coligação C7: a Associação Natureza Portugal em associação com WWF (ANP/WWF), a Associação Portuguesa para a Conservação da Biodiversidade (Fapas), o Grupo de Estudos de Ordenamento do Território e Ambiente (GEOTA), a LPN, a Associação Nacional de Conservação da Natureza (Quercus), a Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves (SPEA) e a Zero – Associação Sistema Terrestre Sustentável.
O Parque Natural da Arrábida é um dos mais importantes redutos de floresta mediterrânica de Portugal, e tem espécies únicas. A classificação do parque só ocorreu em 1976, dois anos após o 25 de Abril. Em 2005, o Plano de Ordenamento do parque interditava a “instalação de novas explorações de recursos geológicos, nomeadamente pedreiras, e a ampliação das existentes por aumento de área licenciada”, segundo o regulamento.
No entanto, a Secil esteve a estudar nos últimos anos a ampliação da exploração de matéria-prima para a produção de cimento feita na fábrica do Outão, que também está situado no Parque Natural da Arrábida. Neste momento, a cimenteira explora a matéria-prima numa área de 98,67 hectares – cerca de um quilómetro quadrado da serra da Arrábida. Agora, a empresa quer abrir um novo buraco de 18,5 hectares (o equivalente a 5,4 vezes a área do Terreiro do Paço, em Lisboa).
O novo Novo Plano de Pedreira Vale de Mós A esteve em consulta pública entre 16 de Fevereiro e 29 de Março deste ano e actualmente encontra-se em análise, segundo o portal Participa. A carta divulgada agora pela LPN vem aumentar a pressão numa altura em que estará “para breve a conclusão deste processo”, de acordo com o comunicado lançado pela organização ambientalista.
“No lugar de atempadamente planear o seu fim de vida, a Secil esperou pelo final do jogo para, quase desesperadamente, lançar uma última cartada: o pedido de alteração das regras – os instrumentos jurídicos de ordenamento do território – a seu favor”, lê-se na carta da LPN. Ou seja, “pede a reclassificação do uso do solo para a área de ampliação, compatível com a actividade extractiva, e a modificação do perímetro das pedreiras no Plano Director Municipal de Setúbal”.
Em Março último, ainda estando o processo em consulta pública, a Câmara Municipal de Setúbal alegou que “não são admitidas alterações aos instrumentos de gestão territorial em vigor e em revisão (…) que permitam enquadrar a pretensão da Secil de ampliação das áreas de exploração da pedreira”, de acordo com um parecer técnico aprovado, avançava na altura uma notícia da Lusa.
Há mais de um século que a fábrica de Outão produz cimento na serra da Arrábida. Num artigo de opinião de Março intitulado Arrábida: a Secil de novo a atirar cimento à parede, o biólogo Gonçalo Calado apontava para os impactos perenes de uma empresa apostada em perpetuar a sua actividade.
“Se já era penoso conviver com os direitos adquiridos de uma indústria extractiva a céu aberto numa área de valores naturais extremamente relevantes (…), é ainda pior assistir a estas tentativas de perpetuação de actividade económica em tudo incompatível com os valores naturais que nos comprometemos a preservar”, observava Gonçalo Calado. “Para sempre teremos uma vista de uma serra cortada em enormes taludes, que a vegetação, por muito frondosa que seja, não poderá esconder.”