A energia está em toda a parte. Inclusive, na escola
VIII Encontro Internacional da Casa das Ciências junta cerca de 500 professores na Universidade de Aveiro. Esta edição tem como tema central a energia.
Muito poucos terão consciência disso, mas a verdade é que o telemóvel que trazemos no bolso é responsável por um consumo de energia significativa. E se a isto somarmos o relógio digital que já passou a fazer parte da vida da maioria das pessoas, o gasto é ainda maior. “As tecnologias de informação e comunicação começaram a ter uma implantação de tal ordem que já começam a ser um problema. São responsáveis por 4% do consumo total de electricidade. Prevê-se que em 2030 esse número seja entre 10 a 20%”, alertou o professor e investigador Nuno Borges Carvalho, na conferência de abertura do VIII Encontro Internacional da Casa das Ciências, a decorrer na Universidade de Aveiro, desde segunda-feira, e que tem como tema principal a energia.
Perante uma assistência de cerca de 500 professores, sobretudo do ensino básico e secundário, o director do Departamento de Electrónica, Telecomunicações e Informática da Universidade de Aveiro fez questão de lembrar que gestos tão simples como usar o telecomando da televisão levam a que sejam consumidas cerca de “23 milhões de pilhas, todos os anos, em Portugal”. Isto para já nem falar nos “carregadores de telemóvel que continuam ligados à tomada mesmo quando não estão a carregar nada” e nas “televisões em modo stand-by”, exemplificou, notando que o grande desafio dos investigadores da área das tecnologias passa, cada vez mais, por “olhar para a energia” que os equipamentos e dispositivos consomem e procurar fontes de energia limpa.
Alertas que, no entender de João Nuno Tavares, coordenador da Casa das Ciências, só vêm demonstrar a pertinência do tema escolhido para a edição deste ano do encontro promovido por aquele projecto educativo. “É um tema que interessa muito aos professores, muito motivador de projectos de escola para sensibilizar as camadas mais jovens para o enorme problema que é a energia”, vincou João Nuno Tavares, no início dos trabalhos que abrangem três painéis de debate – “Energia e clima”, “Eficiência energética: Comunidades energéticas (autoprodução)” e “Política energética” –, para além de diversas palestras e oficinas.
Ainda que o número de participantes inscritos tenha ficado ligeiramente aquém do registado na edição de 2019, decorrida na Faculdade de Ciências da Universidade Lisboa, a organização está agradavelmente surpreendida com a participação na edição deste ano. “As pessoas habituaram-se muito ao convívio e formação à distância; sendo esta a primeira edição depois da pandemia, este número é bastante satisfatório”, avaliou João Nuno Tavares, esperançoso de que os participantes saiam da Universidade de Aveiro, esta quarta-feira, “com muitas ideias para implementar nas suas aulas e nas suas escolas”.
Professores desafiados a criar leitores mais atentos
Entre essas “ideias”, está o desafio para criarem jornais digitais escolares, na certeza de que o saber fazer é parte importante no combate à desinformação. “Se os alunos fizerem um texto de opinião, vão saber qual a diferença entre a opinião e uma notícia. Se fizerem uma entrevista, vão perceber a importância de pesquisar e também vão perceber melhor os objectivos de quem está a entrevistar”, argumentou Luísa Gonçalves, coordenadora do projecto Público na Escola, durante a oficina “Jornalismo, Ciência e Educação – Pontos de encontro”.
“Trabalhar a educação para os media não pode ser uma coisa esporádica ou feita apenas numa disciplina”, defendeu, aludindo à experiência que já vai sendo feita nalguns países, com uma aposta “num trabalho transdisciplinar”. Da teoria à prática há ainda muito por fazer, notaram alguns dos professores presentes – reconhecendo a dificuldade em fazer projectos transdisciplinares.
“O trabalho ainda é muito virado para os exames”, notaram Margarida Curado e Susana Ribeiro, professoras de matemática na Escola Sebastião e Silva, de Oeiras. “Mas seria muito interessante poder levar projectos como os jornais escolares para as escolas”, acrescentava Maria José Quintas, docente da Escola Secundária de Estarreja, enquanto conversavam com o PÚBLICO, à margem dos trabalhos e já depois de terem tido conhecimento do projecto TRUE, plataforma colaborativa gratuita, disponibilizada através do Público na Escola, que dá resposta a uma vontade manifestada por professores e alunos de levar cada vez mais jornalismo aos jornais escolares.
A segunda parte da oficina debruçou-se sobre a importância de articulação entre jornalistas, cientistas e comunidade educativa, e foi orientada por Teresa Firmino. A editora de Ciência do PÚBLICO falou sobre os encontros e desencontros entre jornalistas e investigadores, começando, desde logo, por essa grande diferença numérica: “Há cerca de 50 mil investigadores a fazer ciência em Portugal” e “menos de dez jornalistas especializados em ciência”, referiu, notando a inexistência de secções especializadas em ciência nos meios de comunicação social portugueses, à excepção do PÚBLICO. Apesar das diferenças, também existem pontos em comum. “A procura pelo rigor e o gosto pelo saber são comuns”, notou Teresa Firmino.
Além desta oficina, o VIII Encontro Internacional da Casa das Ciências contempla acções de formação de professores nas mais variadas áreas científicas, da matemática à biologia e geologia, e nas quais colaboram vários especialistas nacionais e estrangeiros.