Taliban dispersam com tiros protesto contra fecho de salões de beleza

Governo proibiu a existência destes salões para mulheres, argumentando que violam a lei islâmica. Organização humanitária sueca suspendeu operações no país.

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Direitos das mulheres afegãs têm sido atacados desde que os taliban regressaram ao poder Reuters/STRINGER
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Um grupo de cerca de 30 mulheres afegãs que são donas ou trabalhadoras em salões de beleza protestou esta quarta-feira contra o encerramento forçado pelo regime taliban no início de Julho. A polícia disparou tiros para o ar e usou jactos de água para dispersar as manifestantes.

As mulheres, que levavam cartazes a exigir “subsistência, justiça, trabalho e educação”, queixaram-se ainda de terem sido agredidas com bastões e de lhes terem sido apreendidos os telemóveis.

“Os relatos sobre a supressão forçada de protestos pacíficos por mulheres contra a proibição dos salões de beleza – o último ataque aos direitos das mulheres no Afeganistão – são profundamente preocupantes”, reagiu no Twitter a missão das Nações Unidas naquele país. “Os afegãos têm o direito de expressar as suas visões sem enfrentar violência. As autoridades de facto devem respeitar isto.”

O governo taliban, que não é reconhecido por nenhum país ou organização internacional, estabeleceu o prazo de um mês para que todos os salões de beleza e cabeleireiros para mulheres sejam encerrados. O grupo extremista considera que estes locais violam a lei islâmica (sharia) porque “implantam cabelo e arranjam sobrancelhas". Além disso, segundo o Ministério da Prevenção do Vício e da Promoção da Virtude, os salões de beleza representam um encargo pesado para os homens, sobretudo na preparação para o casamento.

Tem havido manifestações esparsas desde que a decisão foi tornada pública, com as mulheres envolvidas a negar que violam a lei islâmica e a argumentar que estão condenadas à pobreza se os salões realmente fecharem.

Este foi o mais recente ataque aos direitos das mulheres feito pelo regime taliban, que desde que chegou novamente ao poder, em Agosto de 2021, mandou encerrar liceus femininos, proibiu as mulheres de frequentarem a universidade e de outros espaços públicos.

Também esta quarta-feira, o Comité Sueco para o Afeganistão anunciou a suspensão da maioria das suas operações no país. Na semana passada, em retaliação por uma queima do Corão em Estocolmo em Junho, os taliban proibiriam todas as actividades da Suécia no Afeganistão. A organização humanitária, que presta ajuda sanitária a cerca de 2,5 milhões de pessoas e trabalha ainda nas áreas educativa e de desenvolvimento rural, diz que ainda tentará falar com o governo para se poder manter a laborar.

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