Acho que é um livro

Andas a ler, Esperança? Como fazia a tua mãe? Os livros servem para levantar paredes? Para martelar um prego?

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O vizinho que era quase polícia começou a visitar a Esperança com frequência, aproveitando o tempo em que o Alberto estava a trabalhar. Chegava sedutor, com bolo de arroz e sorriso impante, levava elogios barrocos, que a Esperança nem sempre entendia, mas intuía, levava uma flor apanhada num canteiro alheio. Ela vivia aquelas visitas com uma certa excitação, um nervosismo infantil, fugindo aos avanços do homem, trancando-se no quarto se a intensidade aumentava, deixando-o a murmurar, com a boca encostada à fechadura, não sejas má, tem piedade de mim, abre a porta, minha ternura, e a Esperança soltava um risinho, talvez de nervosismo, talvez de medo, talvez de alegria por ser alvo da atenção de alguém.

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