Cineasta ucraniano Oleg Sentsov ferido no campo de batalha
Vencedor do Prémio Sakharov em 2018, alistou-se no exército da Ucrânia logo após a invasão da Rússia, país onde esteve preso durante cinco anos.
O realizador ucraniano Oleg Sentsov, Prémio Sakharov 2018 e que em Março do ano passado se alistou no exército que está a combater contra a invasão russa do seu país, foi ferido no campo de batalha, na região de Zaporijjia.
Foi o próprio que, na sua página de Facebook, citada pela Agência France-Presse (AFP), divulgou esta segunda-feira pormenores do incidente. “Na primeira saída em combate após o nosso regresso, no decorrer do desembarque, recebemos tiros de artilharia. O ‘Bradley’ salvou-nos a vida mais uma vez. Três feridos, principalmente por estilhaços de obuses”, escreveu o realizador e produtor, de 47 anos, na sua página na internet, referindo-se ao veículo blindado de combate de infantaria ‘Bradley’, cujos exemplares foram fornecidos pelos Estados Unidos ao Governo de Kiev.
E Oleg Sentsov acrescentou na sua mensagem: “Já me tiraram estilhaços da cara. Outros, menores, no braço e na perna, ficarão comigo para sempre. Os outros combatentes feridos também estão bem; os médicos de Zaporijjia fazem bem o seu trabalho”.
Já no dia 9 de Julho, também no Facebook – avança o diário Le Figaro –, Sentsov tinha publicado um vídeo com ele próprio deitado no campo de batalha, também ferido, situação que o levara mesmo a ser hospitalizado.
No incidente mais recente, o cineasta-militar regressava ao palco da guerra, no sul do seu país, depois de na passada sexta-feira – acrescenta o diário francês – ter recebido em Kiev, do Governo de Paris, as insígnias da Legião de Honra. Foram-lhe entregues pelo embaixador de França na capital ucraniana, Étiene de Poncin, que no Twitter classificou Sentsov como “um verdadeiro herói da Ucrânia”.
O realizador tinha-se alistado no exército do seu país natal em Março de 2022, no mês logo a seguir à invasão russa, como voluntário na chamada Defesa Territorial.
Mas, já antes, o seu nome correra o mundo como símbolo da resistência ucraniana às pretensões imperialistas de Vladimir Putin: em 2018, o Parlamento Europeu distinguiu-o com o Prémio Sakharov para a Liberdade de Pensamento. Nesse ano, Oleg Sentsov encontrava-se preso na Rússia, desde 2014. Na sequência da sua participado numa manifestação em Kiev contra a anexação russa da Crimeia, foi detido, acusado de “preparação de actos terroristas”, e condenado a 20 anos de cadeia, num processo denunciado pela Amnistia Internacional como “injusto”.
A forte movimentação internacional contra a sua prisão – na cadeia, Sentsov chegou a cumprir uma greve de fome de 145 dias, entre Maio e Outubro de 2018 – terá pesado no facto de ele ter sido incluído, em Setembro de 2019, numa troca de prisioneiros, maioritariamente militares, entre a Ucrânia e a Rússia.
Como cineasta, Sentov realizou apenas três longas-metragens numa década: Gamer (2011), Numbers (2020) e Rhino (2021). Este último, história de um jovem delinquente no bas-fond do crime na Ucrânia dos anos 90, teve estreia a concurso no Festival de Cinema de Veneza. Mas o nome e o caso do realizador já tinha sensibilizado a comunidade cinéfila extra-fronteiras (e não só), como o provaram os apelos para a sua libertação por parte de figuras da Sétima Arte, como Pedro Almodóvar, Wim Wenders ou Ken Loach. Mas também pela citada entrega do Prémio Sakharov, que, após a sua libertação, acabaria por receber em Estrasburgo, em Novembro de 2019, das mãos do então presidente do Parlamento Europeu, David Sassoli.