“O mundo está a olhar para nós”, diz o enviado dos EUA John Kerry na China

Os principais pontos de discórdia entre as duas partes incluem a questão do financiamento climático, o consumo de carvão da China e a redução do metano, um potente gás com efeito de estufa.

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O enviado especial do Presidente dos EUA para o clima, John Kerry, cumprimenta o seu homólogo chinês, Xie Zhenhua, antes de uma reunião em Pequim, China, a 17 de Julho de 2023 REUTERS/Valerie Volcovici

A China e os Estados Unidos podem usar a cooperação climática para redefinir a sua relação conturbada e liderar o caminho no combate ao aquecimento global, disse o enviado dos EUA para o clima, John Kerry, a altos funcionários chineses esta terça-feira.

A visita de três dias de Kerry à China, com o objectivo de reavivar a cooperação climática entre os maiores emissores de gases com efeito de estufa do mundo, coincidiu com o registo de condições meteorológicas extremas em todo o planeta, incluindo uma cúpula de calor no oeste dos Estados Unidos que elevou as temperaturas no Vale da Morte, na Califórnia, para 53 graus Celsius, no domingo.

"A nossa esperança é que isto possa ser o início de uma nova definição de cooperação e de capacidade para resolver as diferenças entre nós", disse Kerry ao diplomata Wang Yi, numa reunião no Grande Salão do Povo, o edifício legislativo da China.

Dirigindo-se ao primeiro-ministro Li Qiang, Kerry advertiu que a situação pode piorar este Verão e citou informações de que uma estação meteorológica na região de Xinjiang, no noroeste da China, tinha registado uma temperatura máxima de 52,2ºC no domingo.

"As previsões são muito mais graves do que alguma vez foram", acrescentou Kerry, após uma interrupção invulgar de Li, que manifestou dúvidas sobre a temperatura em Xinjiang.

Li terá reconhecido mais tarde, durante a reunião, os graves impactos climáticos que a China e outros países enfrentam, de acordo com pessoas presentes na sala.

Os principais pontos de discórdia entre as duas partes incluem a questão do financiamento climático, o consumo de carvão da China e a redução do metano, um potente gás com efeito de estufa.

Um novo começo

Kerry disse a Wang que as conversações poderiam proporcionar um novo começo para os dois países, que têm estado atolados em disputas sobre Taiwan e comércio.

"Estamos muito esperançados que este possa ser o início, não apenas de uma conversa entre nós e a China, mas que possamos começar a mudar a nossa relação em geral", disse Kerry a Wang.

Wang referiu-se a Kerry como "meu velho amigo", afirmando que "trabalharam juntos para resolver uma série de problemas entre ambas as partes". Kerry referiu-se também ao trabalho que realizaram em conjunto, nomeadamente no âmbito das negociações nucleares com o Irão.

Kerry encontrou-se com o seu homólogo Xie Zhenhua durante quase 12 horas no Beijing Hotel, na segunda-feira. Wang elogiou Kerry e Xie pelo seu "trabalho árduo" durante as conversações.

Negociações retomam esta terça-feira

Na terça-feira, as delegações dos EUA e da China retomarão as conversações do dia anterior e negociarão durante todo o dia. Questionado sobre o andamento das conversações, Kerry disse que ainda é muito cedo para fazer uma avaliação.

A terceira visita de Kerry à China como enviado dos EUA para o clima marca o reinício formal da diplomacia climática de alto nível entre os dois países. O ex-secretário de Estado é o terceiro alto funcionário dos EUA a visitar Pequim no último mês.

Embora Kerry tenha procurado isolar as questões climáticas de disputas diplomáticas mais amplas, Wang disse durante a visita anterior de Kerry em 2021 que o clima não podia ser separado de preocupações mais amplas.

"Por experiência, se trabalharmos nisso, podemos encontrar o caminho novamente de forma a resolver esses desafios", disse Kerry. "O mundo está realmente a olhar para nós e à espera dessa liderança, especialmente na questão climática."