Von der Leyen anuncia agenda de investimento na América Latina de 45 mil milhões

Num fórum de negócios antes da cimeira entre a UE e a Comunidade dos Estados da América Latina e Caraíbas, o bloco europeu confirmou o financiamento de 135 novos projectos na região.

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Ursula von der Leyen com Lula da Silva e Pedro Sánchez EPA/OLIVIER MATTHYS
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Antes de começar a discussão política da primeira cimeira entre a União Europeia e da Comunidade dos Estados da América Latina e Caraíbas (CELAC) dos últimos oito anos, esta segunda-feira, em Bruxelas, os líderes europeus estiveram a tratar de negócios. “A União Europeia vai investir fortemente na América Latina e Caraíbas”, anunciou a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, que apresentou a nova agenda de investimentos da iniciativa Global Gateway, no valor de 45 mil milhões de euros, para financiar centenas de projectos de infra-estruturas, conectividade digital e energia.

“Após décadas de amizade, um novo começo”, proclamou a líder do executivo comunitário, que se referiu às mudanças ocorridas desde o último encontro entre os dois blocos, e ao actual contexto geopolítico, para justificar necessidade de reforçar a relação económica transatlântica, de forma a “reduzir riscos, fortalecer e diversificar cadeias de abastecimento e modernizar as nossas economias, de maneira a reduzir as desigualdades e beneficiar todos”.

“O mundo em que vivemos é mais competitivo e conflituoso do que nunca”, assinalou Von der Leyen, que lembrou os “custos pesados da pandemia”, o “duro impacto da guerra da Rússia contra a Ucrânia” e a “crescente assertividade da China no estrangeiro” para argumentar que “a América Latina, as Caraíbas e a Europa precisam umas das outras mais do que nunca”.

“Precisamos dos nossos amigos mais próximos ao nosso lado para enfrentar estes tempos de incerteza”, vincou a presidente da Comissão, insistindo que o bloco europeu “aspira ser um parceiro de escolha” para a América Latina e Caraíbas. E para juntar actos às palavras, Von der Leyen pôs em cima da mesa “uma oferta significativa”.

“Vamos propor 45 mil milhões de euros de investimento de grande qualidade”, anunciou, informando que no programa desenhado pela UE constam, para já, 135 projectos “que vão do hidrogénio verde às matérias-primas críticas, à expansão das redes de cabos de alta velocidade e à produção de vacinas de tecnologia ARNm”. “E além do investimento, ainda podemos contribuir com tecnologia de ponta e o desenvolvimento de novas competências”, acrescentou.

O Presidente do Brasil, Lula da Silva, que teve direito a uma reunião bilateral com Ursula von der Leyen antes da abertura do fórum de negócios entre a UE e os países da CELAC — que contou ainda com a participação de representantes dos bancos de investimento regionais e com dirigentes empresariais dos dois continentes — referiu-se à “intensidade da actividade económica” do seu país e ao seu interesse em “compartilhar essa intensidade com os parceiros das Caraíbas, do Mercosul e da UE”. “Estamos aqui para aprofundar a nossa discussão sobre as questões do desenvolvimento industrial e do crescimento económico, e também a questão climática”, afirmou.

Lula aproveitou a abertura para sugerir novas parcerias no sector das energias renováveis. “Esse é um assunto que eu sei que é do interesse da UE, e é do interesse do Brasil. Apresentamos agora um programa ambicioso de acções para a transição energética e queremos muito convidar a UE a participar”, afirmou. “O Brasil tem uma forte tendência na produção de energia renovável: 50% da nossa matriz energética é renovável, contra 15% do resto do mundo”, reforçou.

A presidente da Comissão não foi exaustiva na apresentação das centenas de projectos que a UE pretende apoiar na América Latina, mas apontou a aposta na produção de hidrogénio verde e na exploração de matérias-primas críticas como dois exemplos de investimentos que ilustram a filosofia da iniciativa Global Gateway — e a diferença da abordagem da UE e outros actores globais interessados em alargar a sua “pegada” na região. Von der Leyen teve o cuidado de não referir a China pelo nome, mas não restaram dúvidas que a comparação era com a Nova da Rota da Seda.

“O nosso foco é a construção de capacidades de extracção e processamento, e a criação de cadeias de abastecimento locais, para que todo o valor acrescentado dos investimentos fique na região”, disse, garantindo que o hidrogénio limpo produzido com a energia renovável que abunda na América Latina alimentará as novas indústrias locais antes de ser exportado para outros continentes, e que as matérias-primas de que a Europa precisa, também permitirão “fazer baterias e veículos eléctricos” na região.

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