Stephen Curry é subestimado e há um documentário para o provar

Novo filme da Apple TV+ e da A24 estreia-se sexta-feira sem grande espírito crítico, mas com muita sinceridade e centrado num jogador da NBA que inspira mais do que simpatia.

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Stephen Curry JOHN G. MABANGLO/EPA
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Stephen Curry tem 35 anos e as primeiras coisas que aparecem quando se pesquisa o seu nome online, além da sua fotografia, são as suas estatísticas. Além do peso e da altura, 1,88m, o que é um problema e sempre foi um problema na sua carreira — até deixar de ser. Curry é o centro de mais um documentário sobre um atleta de topo e, sim, Stephen Curry: Underrated é um “vanity project”, um documentário com o seu selo de aprovação e que aprova sem rodeios o seu alvo. Calha bem ser uma produção A24, o estúdio do momento, e Curry ser uma figura bastante aprovável.

Stephen Curry: Underrated estreia-se na sexta-feira, dia 21, na plataforma Apple TV+ e colam-lhe logo o rótulo de “cinema verité”, coisa pomposa para, repita-se, um projecto galvanizador da figura que retrata, com a mão da NBA e de simpáticos produtores como Ryan Coogler por trás da experiência. É boa altura para apresentar Stephen Curry, jogador de basquetebol de primeira água da NBA, a liga norte-americana, quatro vezes campeão pelos Golden State Warriors, detentor do recorde de mais lances triplos alguma vez acumulados em campo, e um tipo simpático.

É Underrated, ou seja subestimado, mas também subvalorizado. Como tantas destas histórias, nem sempre há um sobredotado da classe média que passa de patinho feio a estrela do lago. Steph era bom, era filho do ex-jogador Dell Curry, mas estava “muito abaixo dos padrões da NBA em termos de expansividade e atletismo. Com 1,88m é extremamente baixo para a posição de segundo-base. Não contem com ele para conduzir a vossa equipa. Não é um grande finalizador junto ao cesto.” Este era o relatório do “draft”, a escolha anual de jovens jogadores para a liga, sobre Curry. É lida no documentário pela lenda Reggie Miller, pouco depois de passarem as imagens do recorde, atingido em Dezembro de 2021, do maior número de triplos marcados por um jogador no activo.

O cenário é o mítico pavilhão e sala de concertos Madison Square Garden, em Nova Iorque, e é bonito. Depois, mais-valias dos documentários em processo, o realizador Peter Nick leva o espectador à festa depois do jogo, em que dominam os bonés e as emoções de homenzarrões contidas. Até que chega Kevin Durant, ex-colega de equipa de Curry nos Warriors, para o abraçar. “Lembras-te da altura em que pensavas que eu era um miudinho branco?”, pergunta-lhe Curry. “Penso nisso montes de vezes”, responde, semiembaraçado, o jogador também conhecido como “KD”. “O tipo mais mal-interpretado de toda a liga”, diz Curry sobre o ex-companheiro de equipa.

São meras cenas do início de um filme com um pouco menos de uma hora que intercala Stephen Curry na porta de entrada da história do desporto com imagens de Stephen Curry como um miúdo tímido, cheio de dúvidas (como tinham os seus treinadores e pais) sobre o seu futuro como desportista profissional. E também com as suas experiências mais recentes, uma má época, o suposto fim da “era Curry ”na Bay Area californiana.

O que é que isto pode importar para alguém que não aprecia o jogador ou a modalidade? Não se pode responder que Underrated seja The Last Dance, a épica série documental sobre Michael Jordan. Nem Winning Time, a série de ficção que irritou meio mundo sobre a ascensão da dinastia dos Los Angeles Lakers nos anos 1980. Mas é um retrato intimista de um jogador que inspira o que os chamados “modelos de comportamento” devem exalar: resiliência, ética de trabalho, modéstia e outra vez a bendita simpatia.

As mulheres da família reúnem-se em volta das fotografias de Steph ao longo da vida, a mãe admite candidamente como ele é fruto de uma gravidez não-planeada, da sua luta para terminar a universidade (Stephen Curry também é um estudante em vias de terminar a licenciatura), um rapazinho que aos 15 anos ainda não tinha entrado na puberdade, tudo isto acessível porque a família Curry deixou. O jogador viu antes da estreia, no Festival de Sundance deste ano; a família, não — só assistiu à viagem pela curta mas preenchida vida do jogador nesse dia frio de Janeiro.

O lançador à distância mais dominante da história apresenta-se de várias formas neste filme orquestrado pela produtora Unanimous Media, unidade de promoção da NBA. “Sou diferente”, diz sobre a altura e envergadura. “Mas sabia que sabia lançar. Isso era parte do que podia dar à equipa.” Agora, é também entretenimento, à imagem de outros documentários recentes sobre Magic Johnson (Apple TV+), Shaquille O’Neal (HBO Max) ou The Redeem Team (Netflix), sobre a selecção nacional de basquetebol dos EUA (2022). E, claro, The Last Dance (Netflix), obrigatório.

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