As ondas de calor que estão a atingir várias partes do mundo estão a intensificar-se, aguardando-se que se atinjam temperaturas recorde na Europa, China e Estados Unidos, indicam especialistas climáticos. O fenómeno está a obrigar as autoridades a tomar medidas drásticas para fazer face às vagas de calor, que, segundo os cientistas, devem ser vistas como um resultado das alterações climáticas da nossa inteira responsabilidade.
A Espanha, o leste de França, a Alemanha e a Polónia também estão a sofrer uma onda de calor generalizada. Porém, a situação parece mais grave na Grécia e em Itália.
No final da semana passada, o anticiclone Cerberus – uma região de alta pressão atmosférica – prometeu fazer subir os termómetros em grande parte da Itália. Nas ilhas italianas da Sicília e da Sardenha as temperaturas podem chegar aos 48 graus Celsius.
Agora, um novo anticiclone apelidado Caronte, que na mitologia grega era o barqueiro dos mortos, entrou na região, vindo do norte da África, no domingo, e pode elevar as temperaturas acima de 45 graus Celsius em algumas partes da Itália no início desta semana.
"A bacia mediterrânica e o centro e sul de Itália estão cobertos por um manto de ar muito quente. Infelizmente, isto não é novidade: as alterações climáticas estão a tornar este tipo de situação muito mais frequente e muito mais intensa do que no passado, incluindo o passado recente", disse Claudio Cassardo, meteorologista e professor na Universidade de Turim, citado sexta-feira pelo diário Il Messaggero.
Itália enfrenta a terceira vaga de calor do Verão, que atingiu temperaturas recorde neste domingo, 16 de Julho. Prevê-se que a nova vaga de calor atinja o seu pico a 18 de Julho, altura em que as temperaturas nas zonas do sul da Sardenha poderão atingir os 48 graus Celsius, de acordo com as previsões. Em 15 de Julho, o Ministério da Saúde pôs em alerta vermelho as principais cidades italianas.
Ainda na Europa, a norte do Mediterrâneo, a Grécia também enfrenta uma vaga de calor que obrigou as autoridades locais a encerrar sexta-feira a Acrópole de Atenas durante as horas de maior calor.
Aliás, o calor também está a afectar intensamente a margem sul do Mediterrâneo, atingindo particularmente Marrocos, que tem vindo a sofrer uma série de ondas de calor desde o início do Verão, com as autoridades a emitirem sexta-feira um alerta vermelho para várias províncias.
Um pouco mais distante, na Ásia, algumas regiões da China, incluindo a capital Pequim, estão também a ser afectadas pelo calor excessivo, bem como algumas zonas do leste do Japão.
Uma cidade remota no árido noroeste da China suportou temperaturas de mais de 52 graus Celsius no domingo, informou a imprensa estatal, estabelecendo um recorde para um país que, há cerca de seis meses, estava a debater-se com 50 graus negativos.
As temperaturas no município de Sanbao, na depressão de Turpan, em Xinjiang, atingiram 52,2 graus Celsius no domingo, informou o jornal estatal Xinjiang Daily nesta segunda-feira, prevendo-se que o calor recorde persista pelo menos mais cinco dias.
Desde Abril, os países asiáticos têm sido atingidos por vários recordes de calor, o que suscita preocupações quanto à sua capacidade de adaptação a um clima em rápida mudança. O objectivo de manter o aquecimento global a longo prazo dentro de 1,5 graus Celsius está a ficar fora de alcance, avisam insistentemente os especialistas em clima.
Do outro lado do mundo, o sul dos Estados Unidos está igualmente sob uma forte onda de calor, em que dezenas de milhões de norte-americanos, da Califórnia ao Texas, se debatem desde sexta-feira com temperaturas perigosamente elevadas. Phoenix, a capital do Arizona, registou sexta-feira o 15.º dia consecutivo com mais de 43 graus Celsius, de acordo com o serviço meteorológico dos EUA
O Serviço Nacional de Meteorologia dos EUA emitiu avisos, alertas e avisos de calor excessivo para áreas onde vivem cerca de 100 milhões de norte-americanos. Previa-se que as condições de calor sufocante se agravassem durante o fim-de-semana e que continuassem esta semana.
Na semana passada, o Copérnico, programa europeu de monitorização do clima, esteve de olhos postos no Sul da Europa. Na quarta-feira, mostrou imagens impressionantes sobre a onda de calor que afectou esta região, revelando que a temperatura à superfície do solo em Espanha ultrapassou os 60 graus Celsius.
Na quinta-feira foi a vez da Agência Espacial Europeia (ESA) revelar os efeitos do anticiclone Cerberus que está a fazer subir os termómetros na Europa. A Europa está a escaldar e “isto é só o início”, avisavam os cientistas da ESA, partilhando mais um mapa do território marcado por altas temperaturas. Infelizmente, os mapas marcados a vermelho estão a tornar-se cada vez mais frequentes.
A Organização Meteorológica Mundial (OMM) anunciou na passada segunda-feira que o início de Julho foi a semana mais quente no planeta desde que há registos. Antes, também já tinha sido confirmado que Junho foi o mês mais quente do historial de registos da Terra.
Para piorar a situação, o planeta conta com a influência do El Niño. As notícias “preocupantes” coincidem com o desenvolvimento do El Niño, fenómeno climático natural que tem origem em águas invulgarmente mornas do oceano Pacífico oriental, próximo da costa do Peru e do Equador, sendo comummente acompanhado por um abrandamento ou uma inversão dos ventos alísios de Leste.