Candidato progressista perde votação para ser o próximo primeiro-ministro da Tailândia
Deputados conservadores e senadores nomeados pelo poder militar travam eleição histórica de Pita Limjaroenrat. Líder do partido mais votado nas eleições de Maio tem mais duas tentativas.
Quando os progressistas e sociais-democratas do Partido Avançar souberam que tinham obtido o maior número de votos nas eleições legislativas tailandesas de 14 de Maio, o seu líder apresentou-se da seguinte forma: “Sou Pita Limjaroenrat, o próximo primeiro-ministro da Tailândia.”
Nesta quinta-feira, porém, a sua candidatura à chefia do Governo do país asiático, apoiada por oito partidos, foi travada pela maioria dos membros da Assembleia Nacional, em Banguecoque, num sinal de que o establishment político e militar tailandês ainda não está pronto para largar as rédeas.
A precisar de 375 votos entre os 750 membros do Parlamento – 500 deputados e 250 senadores –, e, apesar de ser o único candidato a primeiro-ministro, Pita, de 42 anos, ficou-se pelos 324 apoios.
A curta distância a que ficou do “número mágico” pode dar a entender que não está tudo perdido e que pode alcançá-lo numa das duas tentativas que ainda tem, até porque houve quase 200 abstenções. E, pouco depois da votação, o líder do Avançar prometeu que vai “elaborar uma estratégia e consolidar a voz” da sua coligação para garantir a maioria dos votos na Assembleia.
Mas o que esta primeira votação demonstra é que a sua candidatura só conseguiu convencer 13 senadores, já que os restantes votos que Pita recebeu estavam garantidos, por pertencerem a deputados dos oito partidos que o apoiam – incluindo o histórico partido liberal e reformista Pheu Thai.
Com o Palang Pracharath e o Partido da Nação Tailandesa Unida – duas forças políticas conservadoras e nacionalistas ligadas ao governo civil que sucedeu à junta militar que tomou o poder na sequência de um golpe em 2014 – indisponíveis para apoiar o candidato do Avançar, a chave para a escolha do sucessor do general Prayuth Chan-ocha na chefia do executivo está nas mãos do Senado.
Mas esse é precisamente o grande entrave à candidatura de Pita Limjaroenrat, uma vez que os 250 senadores em funções foram nomeados pela junta militar, pelo que a sua lealdade permanece com os partidos conservadores e próximos do Exército e dos protagonistas da ditadura militar entre 2014 e 2019.
Apesar de o Palang Pracharath e de o Partido da Nação Tailandesa Unida terem ficado na quarta e na quinta posição nas eleições; de esse resultado ter levado o primeiro-ministro Prayuth a anunciar a retirada da política; e de milhões de tailandeses, sobretudo os jovens que participaram nos protestos pró-democracia de 2020 e de 2021, terem votado maciçamente no Avançar, o establishment conservador tailandês diz temer pelo futuro constitucional do país.
Isto porque, entre outras medidas, o Avançar defende a saída dos militares da política, promete acabar com os principais monopólios empresariais e rever as punições previstas na legislação sobre crimes de lesa-majestade – insultar ou difamar o rei tailandês pode levar a uma pena máxima de 15 anos de prisão.
“Os milhões de tailandeses que estão a assistir (…) questionam-se sobre para que serve sequer haver eleições, se em dois meses os seus votos não são respeitados”, criticou Chaitawat Tulaton, secretário do partido progressista, citado pela Reuters. “Estão a questionar se a soberania pertence verdadeiramente ao povo.”
A dimensão da montanha que Pita Limjaroenrat tem para escalar não se cinge apenas à aritmética na Assembleia Nacional, com as revelações dos últimos dias a serem encaradas pelo seu partido como fazendo parte de uma estratégia concertada na justiça para o impedir de ser primeiro-ministro.
Dias antes da votação parlamentar desta quinta-feira, a Comissão Eleitoral recomendou ao Tribunal Constitucional que retirasse o mandato de deputado a Pita, por violação das regras eleitorais, pelo facto de este ter acções numa empresa de comunicação social.
Para além disso, o próprio Tribunal Constitucional informou que aceitou uma queixa contra o Avançar e o seu líder por causa da proposta de revisão da legislação sobre a difamação da monarquia.
Apesar de tudo, Pita Limjaroenrat não desiste. “Obrigado pelos 13 votos daqueles [senadores] que são suficientemente corajosos para reflectirem a voz do povo”, agradeceu. “Compreendo que haja imensa pressão sobre eles, assim como diversos incentivos que não lhes permitiram votar alinhados com o povo. Mas eu não vou desistir.”
Na próxima semana há nova votação, com possibilidade de haver outras candidaturas.