“Turista-vândalo”: canadiano crava nome em templo milenar do Japão para “matar tempo”

“Se não queremos seguir as regras, não temos o direito de visitar os locais”. Os turistas querem deixar a sua ‘marca’ por onde passam? Alguns sim: o Japão está ofendido com crime contra o património.

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O templo Toshodaiji situa-se na cidade de Nara, no Japão UNESCO/Vesna Vujicic-Lugassy
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Na semana passada, um turista, que as autoridades informaram ser um adolescente, cravou o seu nome num pilar do templo Toshodaiji, na província japonesa de Nara. Este é, segundo as autoridades, o episódio mais recente de mau comportamento dos turistas neste Verão.

De acordo com as informações avançadas pela polícia, o jovem canadiano, de 17 anos, usou a unha para gravar a letra "J" e o nome "Julian" no monumento milenar, que é considerado Património Mundial da UNESCO.

As inscrições – com medidas aproximadas de 2,5 cm de comprimento e uma delas com 4,5 cm de largura – foram descobertas no salão principal do templo, conhecido como ‘Salão Dourado’. O momento foi testemunhado por um turista japonês, por volta das 13h10 do dia 7 de Julho, que comunicou o sucedido de imediato às autoridades. O jovem admitiu o crime e disse que o fez “para matar tempo”.

No dia seguinte, foi colocado um cartaz com uma mensagem escrita em inglês e japonês à entrada do templo: “Por favor, não danifique o salão. Será punido por violar a Lei de Protecção de Bens Culturais”. De acordo com esta lei, quem danificar objectos que sejam considerados “propriedade cultural importante”, pode ser punido com pena de prisão até cinco anos, ou com uma multa que pode ir até um milhão de ienes (cerca de 6 mil e quinhentos euros).

Um porta-voz do templo classifica o crime de lamentável e triste, mas diz que não foi feito de forma maldosa. Este episódio ocorreu numa altura em que o turismo interno começa a aumentar e, no futuro, vão ser colocados sinais de aviso em diferentes línguas para prevenir que aconteça algo semelhante.

O ‘Salão Dourado’ é descrito como “a maior estrutura da Era Tempyo (do século VIII) que resta actualmente no Japão”, e sobre a qual “se escreveu em muitos poemas antigos famosos”. Além disso, “os seus pilares fazem lembrar o Partenon de Antenas, na Grécia”. O salão reabriu em 2009, depois de estar encerrado durante uma década para obras de restauro.

Desculpar um crime?

Ao contrário dos erros comuns de etiqueta turística no Japão, mas compreensíveis e facilmente desculpáveis, como não saber quando tirar os sapatos ou quando fazer uma vénia, “profanar um templo ou santuário importante é um nível totalmente diferente de desrespeito”, refere Catherine Heald, directora executiva do operador turístico de viagens de luxo Remote Lands, focado no mercado asiático. “É como gravar um graffiti numa igreja”.

O incidente acontece depois de um episódio de vandalismo no Coliseu de Roma, quando um turista cravou uma declaração de amor nos muros do milenar anfiteatro italiano. Na semana passada, numa carta dirigida ao presidente da câmara, à Procuradoria de Roma e ao município, Ivan Dimitrov, de 31 anos, afirmou que desconhecia a importância do monumento e pediu desculpa pelos danos causados.

Naomi Mano, presidente e directora executiva da empresa de viagens de luxo Luxurique, sediada em Tóquio, diz que o vandalismo não é um problema exclusivo do Japão ou apenas praticado por turistas estrangeiros. E, tendo em conta a idade do suspeito, não acha justo estar a difamá-lo.

“Estou a criar dois filhos adolescentes”, diz a directora. “Embora [espero], os tenha ensinado a serem respeitadores, às vezes estas coisas acontecem”.

O templo Toshodaiji situa-se nos arredores da cidade de Nara, um dos destinos turísticos mais populares do Japão, a seguir a Tóquio, Osaca e Quioto. A cidade é famosa pelos seus templos budistas, santuários xintoístas e pela grande população de veados que andam livremente pelos parques e locais históricos da cidade.

A cidade de Nara está apenas a uma hora de comboio de Quioto, e Catherine Heald afirma que a empresa envia para lá um “grande número de clientes”, quer como viagem de um dia, quer para estadias de uma a duas noites.

Desde que o Japão reabriu as suas fronteiras ao turismo em Outubro de 2022, as normas de etiqueta tiveram de ser relembradas aos visitantes através de anúncios de serviço público. Embora a directora da Remote Lands afirme que a maioria dos seus clientes tende a comportar-se correctamente no Japão, há “pessoas que não querem seguir as regras”, assevera. “E no fim de contas, se não queremos seguir as regras, não temos o direito de ir visitar os locais”.

Exclusivo PÚBLICO/The Washington Post

Tradução: Catarina Damas

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