A “doença dos pezinhos” vai ter um modelo humano dos neurónios afectados
Cerca de dez mil pessoas em todo o mundo têm a “doença dos pezinhos”. Em Portugal são quase dois mil os doentes afectados por esta doença.
Uma equipa de cientistas do Porto vai desenvolver um modelo humano dos neurónios que são afectados pela "doença dos pezinhos", para descodificar o que acontece no estado inicial da doença e travar a neurodegeneração.
Os cientistas do Instituto de Investigação e Inovação em Saúde (i3S) vão descodificar o que acontece nos neurónios sensitivos que são afectados pela polineuropatia amiloidótica familiar (PAF), ou paramiloidose. Também é vulgarmente designada por "doença dos pezinhos".
A polineuropatia amiloidótica familiar é uma doença genética rara causada por mutações na proteína transtirretina (TTR). Esta proteína deposita-se nos neurónios sensitivos e causa a neurodegeneração. É esta degeneração que os investigadores do i3S vão tentar travar, durante dois anos, ao abrigo de um programa de bolsas médicas da empresa farmacêutica Pfizer.
A "doença dos pezinhos" afecta cerca de dez mil pessoas em todo o mundo e tem um "impacto relevante" em Portugal, com quase dois mil doentes, o equivalente a 20% de todo o mundo.
Actualmente, as opções terapêuticas para a doença incluem o transplante de fígado, órgão onde a proteína TTR é sintetizada, bem como estratégias para estabilizar a proteína para diminuir a progressão da doença. "Contudo, estas opções não revertem a neurodegeneração causada pela deposição da TRR nos nervos periféricos, ou seja, não curam as lesões já existentes", esclarece o i3S em comunicado.
Financiada em 137 mil euros pela Pfizer, a investigação visa descobrir os "mecanismos que acontecem inicialmente na doença e caracterizar melhor a neurodegeneração progressiva para encontrar novas terapias que possam ser aplicadas antes que a doença se instale", refere, citada no comunicado, a investigadora Marina Silva.
Para isso, a equipa vai gerar "células que podem ser diferenciadas em vários tipos de células e criar neurónios sensitivos humanos para estudar a doença nos estádios iniciais e monitorizar as alterações que a TTR vai causando". A investigação "vai aumentar significativamente o conhecimento sobre a PAF, além de ser um impulso para o futuro desenvolvimento de novas terapias para a doença", acrescenta a investigadora.
Os resultados obtidos no estudo vão ser validados, posteriormente, com recurso a amostras de biopsias de doentes, no âmbito de uma colaboração com o médico Ricardo Taipa, da Unidade de Neuropatologia do Centro Hospitalar Universitário do Porto (CHUP).