Anticiclone Cerberus deixa Europa a escaldar: ilhas italianas podem chegar aos 48 graus

Anticiclone Cerberus faz subir os termómetros na Europa. A Agência Espacial Europeia refere que recordes históricos de temperatura podem ser quebrados em breve, e avisa que “isto é só o início”.

Foto
Imagem mostra temperatura à superfície do solo na Europa Copérnico/DR
Ouça este artigo
00:00
03:42

A Europa está a escaldar e “isto é só o início”, avisa a Agência Espacial Europeia (ESA, na sigla em inglês). Um anticiclone – uma região de alta pressão atmosférica – promete fazer subir os termómetros em grande parte da Itália. São esperados novos recordes europeus de temperatura nas ilhas italianas da Sicília e da Sardenha, onde as temperaturas podem chegar aos 48 graus Celsius.

“A temperatura mais alta da história europeia foi quebrada no dia 11 de Agosto de 2021, quando um valor de 48,8 graus Celsius foi registado em Floridia, uma cidade italiana na província siciliana de Siracusa. Esse recorde pode ser quebrado novamente nos próximos dias”, refere uma nota da ESA divulgada nesta quinta-feira.

O anticiclone em causa é oriundo do Sul e chama-se Cerberus (uma referência ao mitológico monstro com três cabeças que figura no inferno dantesco, descrito na primeira parte da Divina Comédia, de Dante Alighieri).

A animação abaixo destaca a temperatura da superfície terrestre na Itália entre 9 e 10 de Julho. A imagem revela que diferentes pontos do território italiano ultrapassaram os 45 graus Celsius, tais como Roma, Nápoles, Taranto e Foggia. “Ao longo das encostas a leste do monte Etna, na Sicília, muitas temperaturas ultrapassaram os 50 graus Celsius”, refere a ESA.

Foto

Além da Itália, países como a França, Alemanha, Polónia e Espanha também estão a enfrentar temperaturas extremas. Dados do programa europeu Copérnico mostravam que, nalgumas áreas da Estremadura, a temperatura à superfície do solo ultrapassou os 60 graus Celsius na terça-feira. Já em Madrid e Sevilha, atingiram 46 e 47 graus Celsius, respectivamente. As previsões indicam que, no final desta semana, as temperaturas do ar devem chegar aos 44 graus Celsius nalgumas partes do país.

A Organização Meteorológica Mundial (OMM) anunciou na segunda-feira que o início de Julho foi a semana mais quente no planeta desde que há registos. A agência das Nações Unidas também adiantou que os níveis de gelo da Antárctica tinham atingido em Junho o nível mínimo, 17% abaixo da média,​ desde que há observações de satélite.

A “ajuda” de El Niño

Estas notícias “preocupantes” chegam pouco depois de sabermos que Junho foi o mês mais quente do historial de registos da Terra. E coincidem com o desenvolvimento do El Niño, fenómeno climático natural que tem origem em águas invulgarmente mornas do oceano Pacífico oriental, próximo da costa do Peru e do Equador, sendo comummente acompanhado por um abrandamento ou inversão dos ventos alísios de Leste.

PÚBLICO -
Aumentar

Recorde-se que a medição do calor à superfície do solo não equivale à da temperatura do ar. O que a visualização de dados fornecidos por medições do Radiómetro de Temperatura da Superfície do Mar e da Terra (SLSTR, na sigla em inglês) nos mostra, na imagem principal, é uma representação detalhada da temperatura da superfície terrestre do planeta. Este dispositivo dos satélites europeus Sentinela 3 mede unicamente a quantidade real de energia irradiada da Terra (e não a temperatura do ar).

“Os cientistas monitorizam a temperatura da superfície terrestre para entender e prever melhor os padrões climáticos, bem como os incêndios. Essas medições também são particularmente importantes para os agricultores, que optimizam a irrigação das zonas de cultivo e para os técnicos municipais, que procuram melhorar as estratégias de mitigação do calor nas zonas urbanas”, refere o documento.

Um estudo da revista científica Nature Medicine, publicado nesta segunda-feira, estimava que as ondas de calor provocaram mais de 61 mil mortes na Europa durante o Verão de 2022. Desse total, os investigadores calculam que mais de 2200 óbitos terão tido lugar em Portugal. “Este Verão provavelmente será pior”, alerta a ESA.