Costa recupera expressão de Rio e rejeita “julgamentos de tabacaria” sobre buscas ao PSD

António Costa e Augusto Santos Silva defendem que é preciso esperar para tirar conclusões relativamente às buscas de que Rui Rio foi alvo. Mortágua recusou comentar e Ventura exigiu explicações.

Foto
Primeiro-ministro está na capital da Lituânia para participar numa cimeira da NATO EPA/FILIP SINGER

O primeiro-ministro, António Costa, rejeitou esta quarta-feira fazer "julgamentos de tabacaria" sobre as buscas nas sedes do PSD e na casa de Rui Rio, considerando que é matéria que deve ser tratada na justiça. Já o presidente da Assembleia da República, Augusto Santos Silva, relembrou que "até as responsabilidades estarem apuradas, todos são inocentes".

António Costa falava aos jornalistas à margem da cimeira da Organização do Tratado do Atlântico Norte (NATO), em Vílnius, capital da Lituânia, quando foi questionado sobre as buscas na casa do ex-presidente do PSD Rui Rio, no Porto, e nas sedes do partido, em Lisboa e no Porto, por suspeitas de peculato e abuso de poder.

"Não vale a pena querermos trazer para a praça pública aquilo que deve ser tratado no local próprio, que é na justiça. E eu aí sempre tive uma concordância absoluta com o doutor Rui Rio, quando o doutor Rui Rio dizia que não devemos fazer julgamentos de tabacaria, e é esse o meu entendimento", afirmou.

Costa sustentou que a sua confiança no sistema de justiça passa por "confiar na justiça" e no seu funcionamento, "sem andar a teorizar, a opinar ou a transferir para a praça pública esses julgamentos".

A opinião é partilhada pelo presidente da Assembleia da República. Augusto Santos Silva defende que "não é o facto de ter saído a lume uma investigação em curso, não é o facto de terem sido realizadas investigações, averiguações, incluindo buscas, que significa que as responsabilidades estão apuradas".

Falando aos jornalistas em Londres, à margem de uma visita ao Parlamento britânico, Santos Silva vincou que "até as responsabilidades estarem apuradas, todos são inocentes - repito, todos são inocentes". "O facto de estar a ser conduzida a uma investigação não significa que haja sequer a formação de culpa. E depois da formação da culpa e da acusação, haverá um julgamento e só no fim — se do julgamento resultar a averiguação de factos indevidos e a responsabilização dos seus responsáveis — é que nós podemos falar de eventuais manchas, nódoas, casos ou o que seja", acrescentou.

Assis e Álvaro Beleza em defesa de Rio

Ao contrário da posição tomada por António Costa e Santos Silva, Francisco Assis, ex-dirigente socialista e actual presidente do Conselho Económico e Social, e Álvaro Beleza, presidente da SEDES e membro da Comissão Política do PS, saíram em defesa de Rui Rio.

Assis assegura que o ex-presidente do PSD "é um homem íntegro e incapaz do cometimento de qualquer acto lesivo do bem público". A opinião é partilhada por Álvaro Beleza: "Ponho as mãos no fogo pelo Rui Rio que conheço há décadas. Tive com ele muitas discordâncias, somos de partidos diferentes, mas é um homem sério e honrado", disse.

Mortágua não comenta e Ventura exige explicações

Enquanto Mariana Mortágua fazia uma visita ao Centro de Acolhimento de Emergência Municipal foi conhecida a notícia de que a Polícia Judiciária (PJ) mobilizou cerca de 100 inspectores e peritos para buscas na casa do ex-presidente do PSD, Rui Rio, e na sede nacional do partido, por suspeitas dos crimes de peculato e abuso de poderes.

Instada a comentar, a coordenadora do Bloco de Esquerda escusou-se a fazê-lo, explicando que não teve "qualquer capacidade para conhecer os pormenores de qualquer notícia". "Eu não vi a notícia. Ouvi porque me disseram enquanto estava no meio da visita. Não tive oportunidade de discutir, de perceber o que é que se passa... Não posso dizer absolutamente mais nada porque não conheço o caso, não tive oportunidade de ler e acho que não é justo nem correcto comentar um caso que não conheço", justificou.

Por seu lado, o líder do Chega reagiu às buscas, defendendo que o Parlamento deve tomar medidas se considerar que a situação "é mais transversal ou abrangente". "Se a Assembleia da República sentir que este pode ser um problema mais abrangente do que este caso do PSD", deve "tomar medidas para garantir que todos têm consciência plena das regras que se aplicam a esta matéria", e que todos têm "a perfeita noção das regras que se aplicam e dos comportamentos que não se podem ter".

Para Ventura, os "factos noticiados são graves" e, por esse motivo, o ex-líder social-democrata deve "dar explicações" publicamente sobre o sucedido.

Actualizado às 18h53 com declarações de Francisco Assis e Álvaro Beleza