Restaurantes: o mar à mesa, de Matosinhos a Caminha
Têm tudo o que o Verão pede: boa comida, o mar por perto e vinhos que refresquem tudo isto. Apontamos quatro moradas de olhos no Atlântico que casam à mesa Vinhos Verdes e o melhor da apanha do dia.
O Verão, já se sabe, pede comidas com sabor a mar. Escolhemos, para esse fim quatro restaurantes que têm muitas semelhanças – todos ficam junto à costa, nas suas ementas entram maioritariamente peixes e mariscos e a sua clientela dá uma forte preferência aos Vinhos Verdes. Com as devidas diferenças: dois deles apresentam comidas mais elaboradas, os outros dois têm ementas mais simples.
Também aos pares, dois ficam na Área Metropolitana do Porto e distam menos de 3 quilómetros entre si, e outros dois no distrito de Viana do Castelo, separados por pouco mais de 10 quilómetros. Tal como no cardápio de peixes e mariscos, escolha é palavra de ordem.
Casa da Guripa, Angeiras (Matosinhos)
A publicidade, feita pelo próprio restaurante, não podia ser mais sedutora: “Venha passar uma noite simpática a saborear iguarias da comida portuguesa num ambiente acolhedor...”. Mas há mais: “Desfrute do nosso maravilhoso espaço exterior e se o tempo arrefecer, temos uma esplanada aquecida que lhe oferece um ambiente agradável e protegido do frio.” E tudo isto é verdade.
Na Casa da Guripa, restaurante aberto em Julho de 2015 na Praia de Angeiras, a pouca distância do Mercado Municipal, em complemento a uma decoração cuidada e muito atenta aos pormenores, serve-se comida de forte influência mediterrânica em que cerca de 80% são produtos muito frescos vindos do mar.
Marisco em várias confecções, nomeadamente num famoso arroz do mar caldoso, mas também em paelha ou num risotto de gambas com espumante e lima. Há polvo e peixes grelhados vários, conforme a faina dá. Mas a lista tem também dois ou três pratos de carne para os alérgicos ao mar e um vegetariano. O chefe é Hélder Sá Maia, vindo de fora e rendido aos encantos de Angeiras.
A alma da casa é Manuela Sousa, que depois de uma profícua carreira em marketing resolveu recuperar esta casa centenária e abrir o restaurante. Casa essa que não é muito grande (60 lugares e a esplanada com mais oito), logo a garrafeira também não poderia ser de dimensões desmedidas, mas, afirma a dona, “tem grande rotação e os vinhos com maior saída são brancos, com forte preferência para os da casta alvarinho”.
Casa da Guripa
Travessa de Angeiras, 20, Lavra (Matosinhos)
Tel.: 966941449
Das 12h às 15h30 e das 19h às 22h. Encerra ao fim-de-semana
Preço médio: 35 euros
Castro de São Paio, Labruge (Vila do Conde)
Aurora Rodrigues confessa que antes de ter aberto o restaurante, há oito anos, nunca estivera ligada à restauração. Surgiu tudo quase como uma brincadeira, mas agora a descoberta, feita a sério, vai-se fazendo com segurança. Avisa: “Isto não é um restaurante gourmet, é de comida que tradicionalmente fazíamos em nossas casas e mais de 90% é peixe e marisco, sempre de muito boa qualidade. Carne só por encomenda.” A excepção é um prato de bifinhos de frango, que tem lugar na ementa com as crianças em mente.
A clientela desta casa é interessante, três quartos são portugueses e o restante são espanhóis. Há ainda os peregrinos que percorrem o Caminho da Costa para Santiago de Compostela, que passa ali mesmo ao lado.
Vale a pena, diz quem sabe, provar o arroz de polvo, que é de comer e chorar por mais, mas a iguaria mais pedida são as petingas fritas (no tempo delas) com arroz de tomate, a par com as lulas salteadas e a feijoada de chocos. Para começo de conversa, a canja de robalo também é muito elogiada. No reino dos petiscos, a lista inclui pastéis de bacalhau, pataniscas, percebes, navalheiras e vieiras.
Em jeito de finalização, as canilhas (rolinhos recheados de creme e polvilhados de canela e açúcar) e o bolo de cenoura com chocolate estão entre os grandes sucessos da casa.
Com este tipo de comida é natural que a preferência dos clientes vá para vinhos brancos frescos. Assim sendo, entre os mais pedidos são os Verdes da casta alvarinho.
Castro de São Paio
Rua de São Paio, 580, Labruge (Vila do Conde)
Tel.: 919717050
Das 10h às 19h (jantares só por encomenda). Encerra à segunda
Preço médio: 30 euros
Tasquinha da Linda, Viana do Castelo
Não se deixe enganar: Tasquinha é mesmo nome próprio, não é atributo. Assim sendo, o que vai encontrar na Tasquinha da Linda é um restaurante bem situado, à beira do cais do Lima, ao lado do Forte de Santiago da Barra, praticamente na desembocadura do rio no mar, num antigo armazém de pesca.
Um ambiente contemporâneo, decorado com bom gosto, muito confortável, onde o peixe e o marisco são reis (não há pratos de carne) e onde os preços moderados (referidos no selo Bib Gourmand atribuído pelo Guia Michelin e afixado à entrada) não significam “baratos”.
Deolinda Ferreira, cujo diminutivo deu nome à casa, sempre esteve ligada ao mar, e os seus antepassados até ao bisavô eram pescadores. Antes de se lançar na restauração já tinha uma empresa de venda e exportação de peixe, juntamente com o marido, o que lhe acrescenta uma grande vantagem na escolha das vitualhas que serve aos seus clientes.
Como se compreende, o grosso da ementa é composto por frutos do mar, com toda a espécie de marisco. Depois vêm os peixes e aí a diversidade está muito ligada ao que o mar deu naquele dia.
As sobremesas estão a cargo da filha que tem 28 anos e é pasteleira.
Na clientela há muitos estrangeiros e clientes responsáveis por empresas que trazem aqui os seus convidados e, por último, famílias.
Quem trata dos vinhos é o filho de Linda, Sérgio Ramos, 35 anos, que também dá um apoio na sala. Disse-nos que de um total de mais de 350 referências (no total de vinhos portugueses e estrangeiros), têm mais de 40 referências da Região dos Vinhos Verdes, sendo os mais vendidos os da casta alvarinho, por reconhecimento internacional, e loureiro, por ser o vinho da região.
E o futuro da casa estará assegurando? Sem dúvida, não só pelos dois descendentes de Linda que já lá trabalham, como pela filha mais nova, de 19 anos, que estuda Gestão na Universidade Católica.
Tasquinha da Linda
Doca das Marés A-10, Viana do Castelo
Tel.: 258847900 / 963012360
Das 12h15 às 15h e das 19h15 às 22h30. Encera ao domingo
Preço médio: 40 euros
Camarão, Praia do Forte do Cão (Caminha)
Mesmo no fim da praia do Forte do Cão, para quem vem de Vila Praia de Âncora em direcção ao Sul, fica o Restaurante Camarão, não muito longe de duas referências históricas: o Forte do Cão e o que em tempos foi o Manicómio da Gelfa, agora uma unidade de saúde de cuidados continuados.
Quem oficia no restaurante Camarão, é José Neves, que abriu o estabelecimento em 2009. “Estou aqui para vender mar”, diz-nos, nos olhos o brilho de quem gosta do que faz e tem o bom senso de mimar os seus clientes com produto fresco, seja a humilde sardinha ou o ostensivo lavagante.
Também há modas, se assim se podem meter no mesmo saco as chamadas tendências, e a que está a ganhar peso no Camarão é o arroz de marisco, a par do um pouco mais gourmet (leia-se também mais caro) arroz de lavagante.
A sardinha que vende é de pesca artesanal, apanhada junto à costa. “É mais saborosa, até pelo plâncton de que se alimenta.” Depois há o pargo, o linguado, o rodovalho e o camarão da costa que, diz o anfitrião, “é mais escuro e de muito melhor sabor quando apanhado entre a foz dos rios Minho e Lima”.
O restaurante Camarão esteve em obras há menos de dois anos. Uma varanda foi fechada, está mais confortável e maior. Tem agora 70 lugares e uma esplanada na relva, cá em baixo, no rés-do-chão, ao nível da praia.
Quanto à preferência de vinho, o branco é rei, com o alvarinho a atingir a quota dos 50 por cento, e a outra metade repartida por outras regiões.
Camarão
Avenida Forte do Cão, 497, Praia do Forte do Cão, Gelfa, Âncora (Caminha)
GPS: 41.7989, -8.8713
Tel.: 965704489
Das 12h às 15h e das 19h às 22h. Encerra domingo ao jantar
Preço médio 30 euros
Este artigo foi publicado no n.º 9 da revista Singular.