Debate malsucedido modera expectativas de reviravolta na esquerda espanhola

Pedro Sánchez não conseguiu ter iniciativa no debate de segunda-feira à noite e queixa-se de ter sido alvo de uma “montanha de mentiras” do líder do Partido Popular, Núñez Feijóo.

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Pedro Sánchez diz que o debate televisivo foi marcado por uma "montanha de mentiras" de Núñez Feijóo Reuters/JUAN MEDINA
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Espanha — ou pelo menos uma pequena parte dela, já que este debate foi o menos visto da história da televisão espanhola — assistiu nesta segunda-feira à noite ao primeiro e único frente-a-frente entre os dois homens que querem ser o próximo presidente do Governo. Foi um debate duro, cheio de acusações e dados imprecisos — apoiados na inexistente moderação por parte dos jornalistas escolhidos pelo grupo privado de media Atresmedia — e com muito pouco de futuro para um país que tem na política de pactos o tema quente de campanha eleitoral. Pedro Sánchez (PSOE) e Alberto Núñez Feijóo (PP) sabem que um deles vai ser o próximo presidente, mas ambos também sabem que dificilmente podem chegar à Moncloa sozinhos.

Quando os socialistas apresentavam uma tendência crescente de aproximação, praticamente transversal às várias sondagens diárias publicadas pela imprensa espanhola, há receios de uma inversão depois da má prestação de Sánchez no frente-a-frente com Feijóo. O PSOE quer ultrapassar rapidamente este debate, que o próprio Sánchez diz ter sido marcado por uma “montanha de mentiras de Feijóo”, focando a eleição numa escolha onde “não está em causa a alternância, mas a democracia”.

Já o Partido Popular aposta na mobilização dos eleitores na tentativa de “fazer frente aos extremos” e não depender de mais ninguém para formar governo. Ainda assim, se a maioria se formar à direita e o PP não tiver maioria absoluta, está entregue à vontade do Vox, de extrema-direita, já que as hipóteses de somar com outros partidos regionais são escassas, a fazer fé nas sondagens.

Numa lógica de “diz-me com quem andas e dir-te-ei quem és”, Sánchez teve uma só estratégia para o encontro com Feijóo: dizer que o Vox e o Partido Popular, de centro-direita, “são o mesmo”, alertando para um “túnel de tempo tenebroso que não se sabe onde acaba” se houver acordo entre as duas formações políticas. Feijóo, com resposta pronta e uma postura de estadista, contrapôs com o facto de o PSOE fazer acordos com partidos que “nem a bandeira de Espanha metem nas instituições que governam” [numa referência a várias formações independentistas].

Foi por isso que, em cima da mesa do frente-a-frente, o líder dos populares resolveu assinar uma folha A4 com um “acordo para garantir a estabilidade da democracia espanhola”. A proposta resume-se a um acordo de regime entre os socialistas e os populares para a facilitação da investidura do partido mais votado através da abstenção do outro, evitando a necessidade de fazer cedências a outras formações políticas para chegar a uma maioria parlamentar.

Claramente que a proposta não é por acaso: dificilmente serão os socialistas a conseguir ser o partido mais votado neste 23 de Julho e assim Feijóo ficaria com carta-branca para acusar Sánchez de empurrar Espanha para um governo partilhado com a extrema-direita. Sánchez, que riu e ignorou a proposta, mandou o líder do PP ir falar antes com o presidente do governo da Estremadura, Guillermo Fernández Vara, que, graças a um pacto que coloca o Vox no executivo regional juntamente com o PP, não será reconduzido no cargo apesar de os socialistas terem sido os mais votados na região.

Pedro Sánchez, visivelmente mais nervoso, teve dificuldade em responder às acusações de Feijóo, muitas delas mentiras ou imprecisões, perdendo demasiado tempo a justificar-se — nomeadamente sobre a utilização do uso da frota dos Falcon para deslocações — e sem espaço para apresentar ideias de futuro. Aliás, sobre o futuro, alterações climáticas, soluções para enfrentar a crise na habitação ou a inflação pouco ou nada se disse, mas houve tempo para falar da extinta ETA ou da Cimeira das Lajes.

No final do dia, o desinteresse por este debate pode mostrar também o cansaço dos espanhóis com a política, especialmente em período estival. Fora este encontro a dois, Sánchez queria apenas um debate a quatro (com o Vox e a plataforma de esquerdas Sumar) e Feijóo queria com sete, incluindo os independentistas da Esquerda Republicana da Catalunha e os independentistas bascos do Bildu. Agora, quanto a mais debates nestas eleições, resta o de 19 de Julho — a três, já que Feijóo recusou-se a estar presente —, no grupo de rádio e televisão pública RTVE.

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