Portugal proíbe embarcações de se aproximarem de grupos de orcas

Casos de orcas que colidem com barcos ao longo da costa portuguesa e espanhola têm aumentado, apesar de ainda não existir uma explicação para esta interacção.

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O instituto determina que nos casos em que as orcas se tentem aproximar das embarcações, estas se afastem Stuart Westmorland/GettyImages

O Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF) proíbe, a partir desta terça-feira, as embarcações marítimo-turísticas de se aproximarem activamente de grupos de orcas, de forma a evitar consequências graves. De acordo com o ICNF, desde 2020 que se têm registado interacções entre orcas e embarcações, maioritariamente veleiros, na zona do Estreito de Gibraltar, costa portuguesa e Galiza (Espanha).

"Sendo desconhecidas as razões deste comportamento recente e repetitivo para com as embarcações, sabe-se que as interacções iniciais, conduzidas por um reduzido grupo de orcas juvenis, são actualmente realizadas por um conjunto mais alargado de animais", explica.

Estes inesperados encontros entre orcas e embarcações têm aumentado nos últimos anos. Os primeiros relatos surgiram no início do Verão de 2020 com vários casos de orcas a aproximarem-se dos barcos em Portugal e Espanha, colidindo muitas vezes com as embarcações. No entanto, não foi possível até agora esclarecer os motivos deste comportamento.

Há várias teorias. Desde especialistas que sugerem que os animais são atraídos por embarcações como uma espécie de brincadeira até outros que argumentam que esta poderá ser uma forma das orcas reagirem ao barulho provocado pelos barcos.

Como diferentes embarcações já foram atacadas (e até afundadas) desde Maio de 2020, quando uma orca fêmea sofreu uma interacção muito violenta com um barco, há cientistas que aventam a hipótese de essa experiência traumática poder estar na origem de um novo comportamento animal. Ou seja, pode estar aqui envolvido algum tipo de "aprendizagem social" no grupo de animais nesta região e que leva estes animais a adoptar este comportamento.

207 "encontros" em 2022

De acordo com o Grupo de Trabalho Orca Atlântica (GTOA), que rastreia as populações da subespécie de orca ibérica, este ano já soma vários incidentes deste tipo. Só em Maio, foram registadas pelo menos 20 interacções entre pequenas embarcações e estes cetáceos no estreito de Gibraltar. Ao longo de 2022, houve 207 interacções comunicadas, indicam os dados do GTOA.

Tripulantes que testemunharam interacções com orcas relatam que estes animais mordem, vergam e, por vezes, acabam por partir os lemes das embarcações. Daí emergir a hipótese de que haveria um padrão de imitação no comportamento destes cetáceos ibéricos.

Num edital publicado no "site", o ICNF alerta que, face ao tamanho dos animais adultos (um máximo de oito a nove metros de comprimento e três a cinco toneladas de peso), a interacção mais intensa das orcas com semi-rígidos ou outro tipo de embarcações de menores dimensões, como os utilizadas para a observação de cetáceos, podem ter consequências mais graves.

O instituto determina que nos casos em que as orcas se tentem aproximar das embarcações, estas se afastem e que sempre que os animais cheguem perto dos barcos sem que a tripulação se aperceba, a embarcação seja parada, deixando, contudo o motor em funcionamento, só retomando quando os animais se afastarem.

Estas proibições estão abrangidas por um decreto-lei que visa a conservação de habitats naturais e da fauna e da flora selvagens do território da União Europeia. Todas estas proibições serão válidas até ao último dia do ano.

No final do mês de Maio, as orientações do Ministério dos Transportes da Espanha estipulavam que sempre que os navios observarem qualquer alteração no comportamento das orcas – como mudanças bruscas de direcção ou velocidade – devem deixar a área o mais rapidamente possível.

Embora sejam conhecidas como “baleias assassinas”, as orcas não são baleias. A espécie Orcinus orca integra a família dos golfinhos. Estes animais ameaçados de extinção podem medir até oito metros e pesar até seis toneladas quando adultos.