Onze cirurgiões do Amadora-Sintra ameaçam deixar o hospital
Médicos não querem trabalhar ao lado dos dois colegas que denunciaram casos de alegada má prática médica e que vão regressar ao hospital após 90 dias de suspensão.
Onze cirurgiões do Hospital Fernando da Fonseca (Amadora-Sintra) ameaçam ir-se embora da unidade em protesto contra o regresso dos dois colegas que denunciaram casos de alegada má prática médica no serviço de cirurgia geral. Deste grupo, segundo o jornal Expresso, oito cirurgiões entregaram já cartas de rescisão que terão efeito no prazo de 30 dias.
Mas o novo conselho de administração do hospital, que acaba de tomar posse, acredita que vai conseguir ultrapassar “este impasse relacional” e garante que “a realização de cirurgias programadas à população não está em risco no curto prazo com a posição negocial que foi assumida por alguns cirurgiões”.
Os dois cirurgiões - um dos quais é o antigo director do serviço de cirurgia geral - vão regressar ao serviço depois de terem cumprido 90 dias de suspensão no âmbito dos procedimentos disciplinares que o anterior conselho de administração do hospital lhes instaurou, com o argumento de terem acedido indevidamente a processos clínicos e dados de doentes, sem conseguir despedi-los com justa causa, como pretendia.
No ano passado, apresentaram uma lista com mais de duas dezenas de denúncias de má prática e violação das leges artis (boas práticas médicas, de acordo com o actual conhecimento científico) contra os colegas, acusações que acabariam por se revelar quase todas infundadas, segundo as conclusões da perícia então levada a cabo pelo colégio da especialidade de cirurgia geral da Ordem dos Médicos (OM). Nas 18 situações denunciadas que avaliou, o colégio da especialidade da OM concluiu que poderá ter havido uma “má opção” cirúrgica no caso de um doente sujeito a uma segunda operação, má opção essa que considerou poder configurar má prática médica — e os três cirurgiões que realizaram a cirurgia foram por isso alvo de processos disciplinares.
Terminado o período de suspensão, está previsto o regresso dos dois cirurgiões ao Amadora-Sintra em meados de Agosto. E é este regresso que a maior parte dos especialistas do serviço que evitar. Aliás, já tinham no início do ano pressionado a anterior administração para que afastasse os dois colegas, num abaixo-assinado subscrito por quase todos os médicos do serviço e em que ameaçavam demitir-se em bloco.
Sublinhando que está “a trabalhar activamente – desde o seu primeiro dia de mandato, há 72 horas – com o director do serviço de cirurgia geral num conjunto de soluções” para ultrapassar estes “constrangimentos”, o novo conselho de administração está convencido de que vai conseguir evitar a saída dos médicos. No comunicado, explica que “iniciou com os especialistas envolvidos uma atitude de diálogo e concertação diárias” e que já mandatou o director de serviço para a “apresentação de propostas justas e equilibradas para a resolução do conflito latente”.
"As negociações decorrem com espírito de abertura e a bom ritmo, acreditando o CA [conselho de administração] que a Direcção de Serviço tem todas as condições para ultrapassar este momento", acrescenta, concluindo que "o elevado sentido de responsabilidade demonstrado pela instituição e pelos seus profissionais será mantido na gestão deste diferendo, pois assim o exigem a reputação construída ao longo de 28 anos e a necessidade de dar resposta perante uma comunidade de mais de 550 mil utentes".