Bem-vindos à casa de Chelsea Tung, agente de seguros de 23 anos que vive em Hong Kong. Trinta metros quadrados de felicidade e oportunidade — algo raro para uma pessoa jovem no mercado imobiliário mais incomportável do mundo.
A viver com o namorado, a área onde dormem no estúdio é a sua parte favorita — graças às luzinhas por cima da cama.
É uma das sortudas seleccionadas no novo programa de alojamento para jovens de Hong Kong, que dá oportunidade de viver neste chamado “hostel da juventude”, pago pelo Governo.
“Quando estávamos à procura de um apartamento, sentimos que a maioria dos sítios eram muito caros ou muito distantes da cidade, e com o transporte íamos gastar cerca de 1300 dólares por mês.” E isso seria cerca de 40% do salário de Chelsea.
Em vez disso, está a pagar cerca de 500 dólares por mês — menos do que pagam os habitantes de Hong Kong que vivem nas piores condições: em apartamentos subdivididos, que são unidades fraccionadas, e não têm, normalmente, casa de banho privativa e onde quase não cabe uma cama.
“Nessa altura, pensei, porque não viver em casa [dos pais], se só posso pagar uma habitação desse tipo? Mas baixa a tua qualidade de vida. Esta é a linha entre sair de casa e ser independente. Sei que tenho de lidar com o mundo real e com as responsabilidades, faz parte do crescimento.”
Sair de casa dos pais é um ritual de passagem para jovens de todo o mundo. Mas, em Hong Kong, tem sido uma preocupação para as autoridades. A cidade foi considerada a mais incomportável em termos de mercado imobiliário nos últimos 13 anos, de acordo com a empresa de investigação Demographia.
Os males da habitação são também amplamente acusados de ser um dos responsáveis pelos problemas sociais de Hong Kong — a par com os protestos de 2019 que abalaram a cidade.
O programa de hostels acelerou no ano passado, por pressão pressão do presidente chinês Xi Jinping, que se deslocou à cidade em Julho último e referiu que o Governo local deveria fazer mais para mitigar os problemas relacionados com a habitação e emprego de jovens.
“Se os jovens tiverem futuro, Hong Kong tem futuro. Temos de guiar a próxima geração para os ajudar a entender o seu papel na China e no mundo, e fazer crescer o seu sentido de orgulho nacional. Temos de ajudar os jovens com os problemas práticos que enfrentam na educação, emprego, empreendedorismo e habitação.”
Contudo, nem todos pensam que os hostels para jovens são uma solução a longo prazo. Até porque o programa do Governo só deverá garantir 3000 apartamentos.
Ainda que o alojamento social esteja disponível para os que têm baixos salários, a média de tempo de espera é de cinco anos e meio. Desta ajuda, beneficiam também famílias com idosos, por isso, a hipótese de pessoas solteiras conseguirem um destes alojamentos é praticamente nula.
Ngai Ming Yip é professor de Habitação e Estudos Urbanos na Universidade da Cidade de Hong Kong. “Se o Governo está realmente preocupado com o problema da habitação dos jovens, talvez devesse reconsiderar a política de habitação pública para jovens. Porque agora, se és jovem, não tens hipóteses de entrar na habitação pública.”
A procura por estes hostels é alta — há cerca de cinco candidatos por cada apartamento. Os critérios também são rígidos e incluem 200 horas por ano de serviço comunitário. Mas para Chelsea e o namorado, isto continua a ser a oportunidade de uma vida.