Mark Rutte anuncia saída da política após eleições antecipadas em Novembro

Primeiro-ministro dos Países Baixos resignou após “divergências irreconciliáveis” com parceiros de coligação e diz que não está interessado em cargos internacionais.

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Rutte, de 56 anos, foi eleito pela primeira vez em 2010 EPA/ROBIN UTRECHT
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Após 13 anos como primeiro-ministro dos Países Baixos, ao longo dos quais soube sobreviver a sucessivos escândalos que afectaram quatro governos, Mark Rutte surpreendeu o país – e a União Europeia, onde era o segundo chefe de Governo há mais tempo em funções – ao anunciar o fim da sua carreira política.

O anúncio surgiu de forma inesperada, na manhã desta segunda-feira, no arranque de um debate parlamentar para discutir as consequências da queda do Governo neerlandês que Rutte formalizou no sábado, numa audiência com o rei Willem-Alexander.

No final da semana passada, o primeiro-ministro anunciou a queda do Governo devido a “divergências irreconciliáveis” entre os quatro parceiros de coligação sobre uma proposta de reforma das leis de asilo, mas não tocou no tema da sua disponibilidade para se recandidatar em eleições antecipadas.

Até prova em contrário, seria ele, mais uma vez, o candidato do Partido para a Liberdade e a Democracia (VVD, liberal do centro-direita) a liderar o Governo nas próximas eleições, em Novembro, numa data ainda a anunciar.

Saída do VVD

A mudança de planos, que põe fim a uma era na política do país, só foi conhecida nesta segunda-feira, com o anúncio de que Rutte irá manter-se na liderança do Governo, na qualidade de primeiro-ministro interino, até às próximas eleições.

Ao mesmo tempo, Rutte anunciou também a sua saída imediata da liderança do VVD – a formação que liderava desde 2006 e que transformara na principal força política do país a partir de 2010.

“Nos últimos dias especulou-se muito sobre o que me motiva. A única resposta é: os Países Baixos”, disse Rutte, na fase final do seu discurso de abertura da sessão parlamentar desta segunda-feira.

“A minha situação está completamente subordinada a isso. No domingo, decidi que não estarei disponível como líder do VVD nas próximas eleições. Assim que houver um novo Governo, após as eleições, irei abandonar a política”, disse o primeiro-ministro neerlandês.

Cargos internacionais

Aos 56 anos, e após 13 anos consecutivos na liderança do Governo neerlandês, Rutte não escapa a ver o seu nome ligado a cargos internacionais, com destaque para o de secretário-geral da NATO e o de presidente da Comissão Europeia.

Segundo o site Politico, o agora primeiro-ministro interino dos Países Baixos disse nesta segunda-feira que não está interessado em cargos internacionais.

Empossado pela primeira vez como chefe do Governo em Outubro de 2010, Rutte é o segundo primeiro-ministro há mais tempo no cargo nos países da União Europeia, apenas superado pelo húngaro Viktor Orbán (Maio de 2010).

A queda do Governo neerlandês (o quarto liderado por Rutte) aconteceu na sequência da rejeição de uma proposta do seu partido no seio da coligação governamental. Segundo uma proposta do VVD para um novo sistema de asilo, os refugiados vítimas de perseguição teriam mais direitos do que os refugiados de guerra.

O novo sistema, rejeitado pelo D66 e pela União Cristã (ambos centristas), e muito criticado pelas organizações de apoio a imigrantes e refugiados, limitaria a 200 por mês o número de familiares de refugiados de guerra que seriam autorizados a entrar nos Países Baixos para se reunirem com as respectivas famílias; e obrigaria os filhos dos refugiados que estão a viver no país a terem de esperar dois anos para receberem autorização de entrada.

Elogios de Wilders

O anúncio de Rutte foi recebido na oposição – tanto à esquerda como à direita – com um misto de satisfação pela oportunidade de uma mudança na governação do país e de elogios à sua dedicação na liderança de vários governos.

Entre os discursos de agradecimento a Rutte destacou-se o de Geert Wilders, deputado e líder do Partido pela Liberdade (PVV, da extrema-direita), que elogiou a proposta de reforma do sistema de asilo defendida pelo VVD e apoiada pelo outro partido de direita na coligação governamental, o CDA (Apelo Democrata-Cristão).

Na sua intervenção, Wilders – conhecido pelas suas posições contra a imigração de cidadãos de países de maioria muçulmana – apelou aos restantes partidos que “deixem de excluir o PVV” do debate sobre as políticas de imigração e de asilo nos Países Baixos.

Do outro lado, entre os partidos mais à esquerda, Rutte foi acusado de provocar uma crise política ao trazer para primeiro plano uma “discussão artificial” sobre o sistema de asilo, “à custa das pessoas mais vulneráveis”, segundo Esther Ouwehand, líder do Partido pelos Animais.

Numa segunda intervenção no debate parlamentar desta segunda-feira, Rutte agradeceu as palavras de apoio que foi ouvindo durante o dia: No que diz respeito aos assuntos mais importantes, estamos lado a lado como marido e mulher.

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