Miguel Abreu, o curador do tesouro que é a Quinta de Carapeços

A Quinta de Carapeços, propriedade secular, foi completamente reconvertida na década de 1980 para a produção de vinhos de qualidade.

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Miguel Abreu divide-se entre o imobiliário turístico e a produção de vinhos na Quinta de Carapeços, em Amarante. Rui Oliveira
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“Era a única forma de mantermos isto. As pessoas tinham fugido dos campos, já não havia caseiros e ou se abandonava a terra ou se reconvertia para monocultura”, explica Miguel Abreu, que além de produtor se assume também como uma espécie de curador do tesouro de família.

Enquadrado por um lado, a Norte, pelo bosque frondoso, e dos outros pelos amplos patamares de vinha, o monumental solar de granito e seu recheio são testemunho vivo da riqueza e ancestralidade da Quinta de Carapeços. As origens perdem-se no tempo, mas documentos de 1338 atestam que já nessa altura a propriedade era de um antepassado de Miguel Abreu, muito embora no século XVII tenha passado a integrar os domínios do vizinho Mosteiro de Travanca.

Com o liberalismo, a extinção das ordens religiosas, em 1834, e consequente venda pelo Estado, a quinta haveria e voltar à posse da família. Foi já nos anos 60 do século passado que Miguel Pereira de Abreu, o pai de Miguel, juntou mais duas propriedades vizinhas, Portela e Lugarinho, que completam os actuais 20 hectares de vinhedos.

A família, desde sempre dedicada à advocacia, no Porto, tinha de encontrar alguém que, depois da reconversão, se encarregasse do negócio do vinho. “Tinha que ser alguém, coube-me a mim”, brinca Miguel Abreu, que, de par com os seu afazeres na área do imobiliário turístico, o faz com evidente gosto e empenho. E cada vez mais com o apoio da filha Filipa, esta de permeio com as ocupações como psicóloga.

Quinta de Carapeços, Amarante Rui Oliveira
Na gestão deste negócio de família, Miguel Abreu conta com a ajuda da filha Filipa, que acumula as funções com o seu trabalho como psicóloga. Rui Oliveira
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Quinta de Carapeços, Amarante Rui Oliveira

A par do solar e da riqueza histórica, Miguel Abreu tem em mãos outros tesouros que são as castas plantadas nas três propriedades. Sobretudo a vinhão e a espadeiro, com clones vindos dos antepassados que usaram na enxertia quando foi feita a reconversão das vinhas, mas também alvarinho, que então foi pela primeira vez plantada fora do Alto Minho. Uma inovação a que juntou depois a novidade do primeiro colheita tardia da região dos Vinhos Verdes, um espadeiro da colheita de 2005, vindimado em Fevereiro.

Hoje é um dos ícones da produção da região, mas Miguel Abreu diz que, face ao baixíssimo rendimento, “em termos de custo é uma desgraça”. Mas não é uma queixa, é antes a forma de enfatizar o orgulho que sente na gestão dos tesouros de Carapeços.


Este artigo foi publicado no n.º 9 da revista Singular.

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