O rapto de Soderbergh em Nova Iorque

Full Circle é uma minissérie de seis episódios que foca um crime com ligações entre várias personagens. Falámos com Timothy Olyphant, Zazie Beetz, Jim Gaffigan e Jharrel Jerome, do elenco.

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Claire Danes e Zazie Beetz em Full Circle DR
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Um miúdo é raptado em Nova Iorque. A ideia é fazer a família rica dele pagar um resgate. E a família, quando recebe uma chamada, move-se depressa para fazer isso. O problema? O miúdo supostamente raptado chega a casa são e salvo. Os raptores, afinal, pegaram no miúdo errado, mas ainda não sabem disso.

É esta a premissa de Full Circle, a nova minissérie da HBO Max cujos seis episódios, todos eles realizados por Steven Soderbergh e escritos por Ed Solomon, se estreiam de uma só assentada esta quinta-feira. É a mesma equipa que fez a série-experiência Mosaic em 2018 e o filme No Sudden Move em 2021, também da HBO. Se, nesse filme, o assalto era claramente inspirado em Selva Humana, de Peter Yates, o clássico do crime dos anos 1970, aqui há ecos de Céu e o Inferno de Akira Kurosawa no rapto que correu mal.

Como o nome Full Circle parece indicar, todos os elementos da história acabam por estar ligados. E revelam segredos. A dar vida às personagens está um elenco recheado de nomes sonantes e caras reconhecíveis, com Claire Danes, Timothy Olyphant, Dennis Quaid, Jharrel Jerome, Zazie Beetz, Jim Gaffigan ou CCH Pounder.

Ed Solomon, que escreveu filmes como MIB - Homens de Negro, começou a carreira em sitcoms. A série é aparentemente dramática, mas, quando foi estreada na edição deste ano do Tribeca Film Festival, as pessoas começaram a rir-se. Zazie Beetz, que faz de agente da Inspecção Postal dos Estados Unidos, fez-se notar em Atlanta, a série cómica de Donald Glover. Nessa sessão, a actriz ficou a pensar que Full Circle "é um bocadinho uma comédia", conta ao PÚBLICO durante uma série de mesas-redondas com parte do elenco e jornalistas internacionais via Zoom no final de Junho. "Não sei se toda a gente vai pensar nisso assim, talvez seja diferente em casa, ou no teu computador, sozinho. Acho que estamos todos, todos os dias, a navegar nesse limite. Chorar de manhã, rir à noite. É assim a vida", conclui. "Mas o drama também é ridículo", sugere, e a escrita de Solomon "faz um trabalho" a resumir isso. "Há muitas coisas absurdas que acontecem e, ainda que sejam muito sérias, a justaposição torna-se hilariante."

Além disso, muito do trabalho de Soderbergh, lembra a actriz, tem comédia. O Delator!, filme de 2009, tem inúmeros cómicos, de stand-up e não só, no elenco. Jim Gaffigan, que aqui faz de chefe da personagem de Beetz, conta que só não participou nesse filme porque estava preso a uma série de televisão que não o deixou sair.

Timothy Olyphant, de Deadwood e Justified, série que acabou em 2015 mas tem regresso marcado para este mês, foi outra pessoa surpreendida com pessoas a rirem. Há uma parte em que a sua personagem, a quem ele chama "um pobre tipo", está a correr pelo Washington Square Park a pedir a pessoas carregadores para ter bateria suficiente para falar com os raptores. "Quando filmei aquilo foi destroçador: ele está a desfazer-se, a tentar manter-se à tona, e ouvir o público a rir de algo que não estamos a fazer para fazer rir é óptima escrita", diz.

Tal como para Olyphant, o grande projecto deste ano de Jharrel Jerome é outro: I'm a Virgo, uma fantasia cómica e surreal em que é protagonista e produtor executivo. Jerome é dos mais interessantes jovens actores norte-americanos e é conhecido pelos papéis em filmes como Moonlight, de Barry Jenkins, e a série When They See Us, de Ava DuVernay, que lhe valeu um Emmy. Seria de esperar que aqui tivesse menos pressão, afirma que não: "Foram ambas desafiantes à sua maneira. Aqui estás a trabalhar com o Steven Soderbergh, que é um realizador muito militante e focado, rápido, tens de aparecer pronto, com tudo memorizado, com escolhas feitas, pronto a trabalhar."

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