O asfalto fechou a porta a Cavendish na Volta a França

O ciclista caiu e só se levantou com ajuda, para entrar numa ambulância. Braço imobilizado, substância para as dores e porta fechada: Cavendish não vai ser o recordista único de vitórias no Tour.

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Mark Cavendish, ciclista inglês Reuters/BENOIT TESSIER
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Como se dizia no Eurosport, a imagem da porta de uma ambulância a fechar-se, com Mark Cavendish sentado, de braço imobilizado, é uma das imagens desta Volta a França.

O olhar do inglês – vazio, embora aparentemente tranquilo – e o desaparecimento com o movimento da porta a fechar-se traduz simbolicamente aquilo que o momento significa: que o ciclista britânico, depois da queda na etapa deste sábado, não vai ter, só para si, o trono do recorde de vitórias no Tour e vai sair do ciclismo com os mesmos 34 triunfos de Eddy Merckx.

A etapa estava a ser tranquila e pouco ou nada se passava, com uma fuga inócua e condenada ao fracasso. No pelotão, rolava-se a uma velocidade interessante, mas longe de muito intensa, porque nem os próprios fugitivos acreditavam na sua probabilidade de sucesso.

De repente, às 14h39, Cavendish foi ao chão. Manteve-se no asfalto, deitado, com a mão agarrada ao ombro. O mundo torcia para que ele se levantasse, porque, mesmo com dores, teria dias mais do que suficientes para recuperar e ainda se atirar aos sprints – a Volta a França, embora não pareça, ainda não está nem a metade.

Mas ele não se levantou. Quando o fez, foi com ajuda, para ir para a ambulância. Braço imobilizado, uma substância para as dores e porta fechada. Cavendish não vai ser o recordista único de vitórias no Tour.

Ou talvez seja. O recorde falhado não foi por culpa da incapacidade física – prova disso é o segundo lugar na etapa anterior –, pelo que uma saída tão inglória pode seduzir Cavendish a não sair desta forma.

Haverá quem diga que, pelo menos, não sai como alguém que falhou as 35 por falta de capacidade. Mas também haverá quem diga que, a falhar, que seja a tentar – e não dentro de uma ambulância.

Se “Cav” mantiver a sua palavra, vai reformar-se no final da temporada – e não há motivos para crermos que assim não seja. Mas um final deste tipo tem de permitir a especulação: com um convite de uma equipa, voltará em 2024, para o recorde?

Pedersen venceu

O abandono de Cavendish roubou as atenções à etapa. Numa tirada globalmente plana, mas com pequenas elevações no final, esperava-se um duelo de velocistas – sprinters puros talvez não, mas sprinters com valências em pequenas inclinações.

E assim foi. Numa etapa com Wout van Aert “escrito na testa”, o belga ficou tapado nos metros finais e foi Mads Pedersen, outro velocista capaz em pequenas subidas, quem ergueu os braços na meta. Jasper Philipsen, mesmo num final que não seria perfeito para os seus predicados, foi segundo e esteve perto de vencer.

Entre os candidatos ao triunfo no Tour nada de relevante se passou, com um dia tranquilo para os três do pódio. Menos tranquilo foi para Rúben Guerreiro, com o português a cair a cerca de cinco quilómetros do fim, num incidente que envolveu Simon Yates, quarto classificado, que perdeu 47 segundos.

O tempo perdido por Guerreiro não tem, ainda assim, relevância para o português, cujo objectivo, assim permitam as eventuais feridas e dores, somar apenas pontos para a classificação de melhor trepador.

Para este domingo está desenhada uma etapa de montanha, com previsível duelo pelo triunfo.

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