As temperaturas recorde e os alertas que continuamos a ignorar

Os alertas têm sido sistemáticos. Não é por isso ignorância, é mesmo egoísmo, o que explica que continuemos a dar-lhes pouca importância.

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O aumento das taxas de juro, a inflação, a guerra têm consequências muito directas nas vidas de todos nós. Sentimo-las todos os dias, quando pagamos as contas da casa, quando fazemos compras no supermercado. Mas há outras notícias preocupantes, que nos falam de ameaças ao nosso modo de vida, cujos efeitos concretos nos parecem estar reservados para um futuro mais ou menos distante. Estarmos a viver, neste momento, uma semana marcada pelas mais altas temperaturas médias alguma vez registadas no planeta está na categoria dessas notícias cujo sobressalto que provocam não corresponde à dimensão do problema.

Na segunda-feira, 3 de Julho, a temperatura média global atingiu 17,01º C. Foi a primeira vez que os registos mostraram valores acima dos 17º C. Na terça-feira, chegou-se aos 17,18º C e nesta quarta-feira ter-se-á igualado este valor.

Entre os jovens, aquela população que mais consciente se tem revelado do que está em causa, a guerra, as alterações climáticas e a saúde são, por esta ordem, as três maiores preocupações, como nos mostra um estudo divulgado nesta quinta-feira a propósito da Jornada Mundial da Juventude — curiosamente, se olharmos só para os jovens católicos, as alterações climáticas saem do top três das inquietações; seja como for, o tema não deixa ser dos mais relevantes para a juventude do nosso tempo.

E todos os outros, os mais velhos, os pais, os avós, os empresários, os decisores políticos? “Os decisores políticos e líderes mundiais desdobram-se em discursos e promessas, enumeram a lista de decisões tomadas, dos projectos de mitigação climática em curso, das metas já alcançadas… mas vai-se a ver, e nada! O clima não responde à vontade política, o clima está a responder ao crescimento demográfico, ao crescimento económico e ao aumento do consumo”, escreveu, nesta quinta-feira, o professor da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa Carlos Antunes, num artigo de opinião no Azul, o site no PÚBLICO dedicado à biodiversidade, sustentabilidade e crise climática.

Os cientistas dizem que 2023 trará novos recordes — ainda que num planeta que já está com os termómetros a subir seja difícil prever o que nos trará desta vez o fenómeno climático El Niño.

Continuam a existir os que negam a relação entre actividade humana e alterações climáticas. Há quem não o faça mas prefira ter fé que o planeta se regenera. Mas são cada vez mais os que não questionam a ciência. Os alertas, dos cientistas e do próprio planeta, têm sido sistemáticos. Não é por isso ignorância, é mesmo egoísmo, o que explica que continuemos a dar-lhes pouca importância.

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