ONU “muito preocupada” com quantidade de urânio enriquecido no Irão
Estima-se que o Irão tenha agora uma quantidade de urânio enriquecido de mais de 20 vezes superior à permitida pelo Plano de Acção Conjunto Global.
As Nações Unidas (ONU) manifestaram esta quinta-feira “grande preocupação” com o facto de as reservas de urânio enriquecido do Irão serem mais de 20 vezes superiores à quantidade permitida pelo Plano de Acção Conjunto Global, conhecido pela sigla JCPOA.
Numa reunião do Conselho de Segurança da ONU sobre o programa nuclear do Irão, a subsecretária-geral para Assuntos Políticos das Nações Unidas, Rosemary DiCarlo, afirmou que se tratam de estimativas, uma vez que a Agência Internacional de Energia Atómica não está a ser capaz de verificar a verdadeira quantidade de urânio enriquecido do país, situação que considerou “alarmante”.
“Estima-se que o Irão tenha agora uma quantidade de urânio enriquecido de mais de 20 vezes a quantidade permitida pelo JCPOA. Isso inclui quantidades aumentadas de urânio enriquecido a 20% e 60%. Esse estoque de urânio enriquecido é motivo de grande preocupação”, afirmou.
De acordo com a embaixadora do Reino Unido junto à ONU, Barbara Woodward, as capacidades de enriquecimento de Urânio do Irão “expandiram para mais de 2500 poderosas centrifugadoras avançadas, adequadas para fins de armas nucleares”.
“Construir essa capacidade deu ao Irão avanços irreversíveis em conhecimento técnico, que o JCPOA procurou limitar. O Irão está a lançar mísseis que podem ser capazes de entregar armas nucleares e está a testar tecnologias directamente aplicáveis a mísseis balísticos de alcance intermediário e intercontinental”, denunciou Woodward durante a reunião.
A retirada dos EUA e as negociação para voltar
Assinado em 14 de Julho de 2015, o JCPOA limitava as actividades atómicas do Irão em troca do levantamento das sanções internacionais. Mas, actualmente, o pacto está suspenso desde a retirada unilateral dos Estados Unidos, decidida em 2018 pelo então Presidente norte-americano Donald Trump.
As negociações sobre o relançamento do JCPOA – que começaram em Viena em Abril de 2021 após a eleição do actual Presidente norte-americano, Joe Biden – chegaram a um impasse em Setembro de 2022. Actualmente integram o plano a China, França, Alemanha, Irão, Rússia e Reino Unido, sendo que a União Europeia actua como coordenadora.
No final da reunião do Conselho de Segurança, a França, Alemanha e Reino Unido lançaram um comunicado conjunto, acusando o Irão de violar os seus compromissos nucleares face ao JCPOA, situação que levou o “seu programa nuclear a escalar para níveis perigosos”.
Os três países também indicaram que o Irão aumentou ainda mais as suas violações ao transferir centenas de aviões não tripulados (drones) para a Rússia desde Agosto de 2022, com um alcance de mais de 300 quilómetros, “mesmo sabendo que Moscovo os usa para atingir cidades ucranianas e infra-estrutura crítica”.
“À luz de tais violações repetidas, encorajamos o secretário-geral, António Guterres, a instruir o secretariado da ONU a examinar e relatar as amplas evidências de que o Irão transferiu armas, materiais, equipamentos, bens e tecnologia ou serviços visados na resolução sobre a questão nuclear do Irão”, instaram. “Gostaríamos ainda de ter uma visita de especialistas da ONU à Ucrânia, conforme solicitado pelo Governo da Ucrânia e apoiado por nós e outros membros do Conselho”, acrescentaram.
Também a embaixadora norte-americana junto à ONU, Linda Thomas-Greenfield, denunciou que Moscovo está a receber do Irão materiais necessários para construir uma fábrica de drones dentro da Rússia. “Esta fábrica poderá estar totalmente operacional no início do próximo ano. Se concluída, a central aumentaria drasticamente a capacidade da Rússia de atacar a Ucrânia, de desactivar as centrais de energia ucranianas, de fechar as suas linhas ferroviárias e de impedir o transporte de produtos agrícolas para os mercados mundiais”, indicou, em comunicado.