Novo recorde de temperatura, novo aviso, y no pasa nada!

A cada recorde, a cada evento extremo possível de ser associado às alterações climáticas, soam os alarmes, tocam as sirenes, multiplicam-se os avisos. O clima segue o seu caminho.

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Como já era esperado, e várias vezes anunciado, este último mês de Junho bateu novo recorde. Tornando-se o mês de Junho mais quente desde os últimos 200 anos, desde o período pré-industrial. No último mês de Junho, segundo dados do centro europeu Copernicus, a média mensal da anomalia da temperatura média global foi de 1.36 ºC, batendo os recordes 1.20 ºC de 2019 e bem acima dos 1.09 ºC de 2016 (o ano do último El Niño intenso).

Em termos de média semestral verifica-se este ano o 3.º valor mais elevado de sempre (desde 1880 com dados da NOAA), em ex aequo com 2017, com 1.21 ºC, mas abaixo dos máximos alcançados em 2016 e 2020, com 1.34 e 1.33 ºC, respectivamente.

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Anomalia da temperatura média global no mês de junho, desde 1980 Copernicus

Contudo, bem acima do valor atingido em 2015, de 1.00 ºC, ano em que se iniciou o último El Niño, tal como está a ocorrer este ano (iniciado em Maio). Configurando-se assim, o que já foi anunciado pela Organização Mundial de Meteorologia (WMO), de que, com grande probabilidade, 2024 poderá vir a ser o ano de novo recorde de aquecimento global, superando-se novamente os 1.5 ºC. O tal limiar que a partir de 2015, com o Acordo de Paris (na COP21), passou a figurar o limite máximo de aquecimento global desejável a alcançar até ao final do século.

Na década de 1980 tínhamos um aquecimento global que era em média 0.50 ºC acima da média global do período pré-industrial. Nos anos 90 era de 0.62 ºC, com um aumento de 0.12ºC em uma década, voltando novamente na década seguinte a aumentar para 0.78 ºC. Contudo, foi na última década que assistimos ao maior aumento da anomalia da temperatura média global, de 0.24 ºC, o dobro do aumento que ocorreu na década de 90. Ou seja, em 20 anos duplicou o ritmo de aumento do aquecimento global, i.e., a superfície da Terra está a aquecer a um ritmo que é o dobro do que acontecia há cerca de 20 anos.

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Anomalia da temperatura média global no primeiro semestre de cada ano e médias por década Copernicus

Qualquer processo natural que duplique a cada X anos é um processo de crescimento exponencial. Será que é o que está a acontecer? A Terra está a aquecer de forma exponencial? A próxima década o dirá, aí poderemos confirmar a hipótese de estarmos a assistir a um aquecimento exponencial no presente século.

Mas uma coisa é certa, apesar dos hiatos de aquecimento que se observam de forma natural na evolução do aquecimento global (tal como o que se verificou na década de 2000), a tendência da curva de anomalia da temperatura média global é a de se superar 1.5 ºC no final desta década e a caminhar para os 2 ºC por volta de 2050. É que, em princípio, tudo leva a crer que 2024 interrompa o último hiato de aquecimento médio global que se vem verificando desde 2015.

Para este recorde, e mais do que esta fase inicial do El Niño, muito terão contribuído as anomalias positivas de temperatura à superfície do Atlântico Norte, cujas temperaturas durante o mês estiveram muito acima da média, tal como as anomalias na Antárctida (com anomalias que chegaram a superar os +10ºC) e no círculo polar Árctico, em particular, no Canadá, Escandinávia e Sibéria.

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Anomalia da temperatura média global e respectiva tendência Copernicus

A cada recorde, a cada evento extremo possível de ser associado ao aquecimento global e às alterações climáticas, soam os alarmes, tocam as sirenes, multiplicam-se os avisos. Os decisores políticos e líderes mundiais desdobram-se em discursos e promessas, enumeram a lista de decisões tomadas, dos projectos de mitigação climática em curso, das metas já alcançadas… mas, vai-se a ver, e nada! O clima segue o seu caminho. O clima não responde à vontade política, o clima está a responder ao crescimento demográfico, ao crescimento económico e ao aumento do consumo.