Protestos em Israel após demissão do chefe da polícia de Telavive

Comandante acusa políticos de pressão para usar força exagerada contra manifestantes anti-Governo.

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Manifestantes saem de novo à rua após acusação de chefe da polícia de Telavive ao Governo NIR ELIAS/Reuters

O comandante da polícia de Telavive Ami Eshed anunciou esta quarta-feira a sua demissão, acusando o executivo de Benjamin Netanyahu de o pressionar para que a polícia usasse mais força contra as pessoas que participam em protestos contra o Governo

Os enormes protestos, provocados pela intenção do Governo aprovar o chamado “golpe judicial”, uma série de leis que retirariam o poder do Supremo chumbar leis e deixariam o Parlamento sem contrapeso, repetem-se desde o início do ano.

Numa declaração na televisão pública, Eshed disse que “o escalão ministerial” tinha quebrado todas as regras e interferido de forma gritante em processos de decisão profissionais. Eshed disse que para cumprir as expectativas dos políticos, teria tido de ordenar o uso de força exagerada que teria resultado no “encher das urgências do [Hospital] Ichilov [de Telavive] no fim de cada protesto”, cita a agência Reuters.

“Pela primeira vez em três décadas de serviço”, continuou, “deparei-me com uma realidade absurda, em que não me era requerido assegurar calma e ordem, mas fazer precisamente o contrário”.

O comandante, que foi na prática despromovido por uma oferta para treinar a força policial, pondo fim às suas ambições de chefiar a polícia nacional, disse que pagou "um preço intoleravelmente alto por evitar uma guerra civil", cita o Haaretz.

Pouco depois do anúncio de Eshed, centenas de manifestantes com bandeiras de Israel, que se tornaram o símbolo do movimento de protesto, e gritando “democracia!” saíram à rua em Telavive e em várias outras cidades, com multidões a bloquearem, por exemplo, a auto-estrada para Telavive.

Figuras como a líder do Partido Trabalhista Merav Michali ou o antigo primeiro-ministro Ehud Olmert (do Likud, o partido de Netanyahu) também estiveram nos protestos e protagonizaram momentos tensos com a polícia (no caso de Olmert, antes de os agentes perceberem quem era).

Houve quem comparasse a situação com os enormes protestos após a demissão, que não chegou a concretizar-se, do ministro da Defesa, Yoav Gallant, por ter criticado os planos para a reforma judicial do Governo (Netanyahu apenas anunciou a demissão, mas nunca entregou a carta a Gallant que, por isso, se manteve). "Os líderes israelitas deveriam ter aprendido com o caso Gallant que os israelitas não gostam de ver os mais altos cargos de segurança afastados por motivos políticos", comentou a jornalista Noga Tarnopolsky no Twitter.

À medida que a noite avançava, foi usado ainda um canhão de água para tentar dispersar o protesto que cortava o trânsito na auto-estrada. Em Jerusalém, as autoridades classificaram o protesto como ilegal, usaram polícia a cavalo para fazer recuar os manifestantes, e detiveram pessoas, numa atmosfera cada vez mais violenta em que vários agentes perderam a calma, relatavam alguns jornalistas israelitas no Twitter.

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