Israel ataca Gaza enquanto retira tropas de Jenin, onde já começaram os funerais
Pelo menos 13 palestinianos e um soldado israelita morreram na maior operação israelita em vários anos na Cisjordânia, com Israel a avisar de que esta “não foi uma operação pontual”.
A retirada das mais de mil tropas terrestres que desde a madrugada de segunda-feira tinham participado numa das maiores operações israelitas das últimas duas décadas na Cisjordânia ocupada foi acompanhada do disparo de cinco rockets a partir da Faixa de Gaza – Israel, que diz tê-los interceptado, atacou depois vários alvos em Gaza.
Durante a noite, os habitantes do campo de refugiados de Jenin começaram a sair à rua, para ver de perto os estragos dos bulldozers blindados que abriram caminho para os soldados e dos ataques com drones. Enquanto alguns comerciantes começavam a tentar limpar os destroços, milhares de habitantes que tinham fugido dos combates iam regressando ao campo onde mais de 15 mil pessoas vivem em meio metro quadrado cada.
A água e a electricidade continuam cortadas no campo e em algumas áreas da cidade, depois de os bulldozers cortarem os cabos e um dos principais canos de água. As autoridades locais dizem que o sistema de esgotos também foi destruído.
Pelo menos 13 palestinianos foram mortos – os israelitas dizem ter matado 18 combatentes – e um soldado israelita morreu depois de ser atingido a tiro quando os militares já tinham iniciado a retirada. Há ainda mais de 140 palestinianos feridos, incluindo 20 em estado grave – segundo Wissam Bakr, chefe do Hospital de Jenin, ouvido pela Associated Press, a maioria dos feridos foi atingida a tiro na cabeça e no peito.
Na terça-feira à tarde, um palestiniano residente na Cisjordânia lançou o seu carro contra um passeio cheio de pessoas na cidade de Telavive, antes de sair da viatura e atacar uma mulher com uma faca, num ataque que o Hamas descreveu como “a primeira resposta aos crimes israelitas contra o nosso povo no campo de refugiados de Jenin”. Sete pessoas ficaram feridas, três com gravidade; o atacante, de 23 anos, foi morto a tiro por um civil. Entretanto, outro palestiniano foi morto pelas forças israelitas perto de Ramallah.
Os militares israelitas descrevem o raide de dois dias em Jenin como “um sucesso extraordinário”, afirmando que conseguiram impedir “actividades terroristas”, apreender armas e interrogar dezenas de suspeitos combatentes, relata o correspondente da Al-Jazeera em Jerusalém, Imran Khan.
“Estamos a completar a missão, e posso dizer que a extensa operação em Jenin não é uma operação isolada”, afirmou o primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu, numa visita a um posto militar nos arredores de Jenin. “Vamos erradicar o terrorismo onde quer que o vejamos e vamos atacá-lo”, disse ainda o líder do Governo de extrema-direita no poder em Israel. “A mensagem neste momento é: isto não acabou, eles vão voltar”, resume Khan, sublinhando que o campo de Jenin vai continuar sob pressão.
As ruas de Jenin encheram-se nesta quarta-feira de milhares de pessoas que quiseram participar nos primeiros funerais dos palestinianos mortos. À medida que os corpos eram transportados por entre os destroços, alguns militantes dispararam para o ar, descreve a AFP.
De acordo com a imprensa israelita, a operação que trouxe memórias da chamada "batalha de Jenin", em 2022, durante a Segunda Intifada (2000-2005), focou-se num ramo local do grupo Jihad Islâmica (Batalhão de Jenin) e noutros grupos armados mais pequenos no campo de refugiados e na cidade.
Os palestinianos, por seu lado, denunciam ataques contra civis, famílias assustadas com a entrada de tropas nas suas casas e destruição indiscriminada. Várias organizações não governamentais confirmam que a destruição de estradas impediu a circulação de ambulâncias que tentavam chegar aos feridos, e os Médicos Sem Fronteiras acusam o Exército israelita de disparar gás lacrimogéneo contra um hospital.