As frases que marcaram o inquérito parlamentar à TAP
Total das audições da comissão parlamentar de inquérito (CPI) à tutela política da gestão da TAP, que decorreram em menos de três meses, chegou às 168 horas.
Foram cerca de 168 horas de audições parlamentares só na comissão parlamentar de inquérito (CPI) à TAP, a que acrescem as audições na comissão de economia e debates nos plenários que acabaram por versar sobre o mesmo tema. Houve também respostas por escrito, e ausências no processo, como os escritórios de advogados envolvidos no processo de Alexandra Reis e responsáveis da Comissão Europeia. Aqui ficam 25 frases que marcaram os trabalhos da CPI, numa altura em que se aguarda o relatório que será conhecido esta terça-feira.
- “O único documento oficial foi subscrito por duas pessoas [Manuel Beja e Christine Oumières-Widener] e foi sobre essas que nós entendemos que recaíam responsabilidades.” António Ferreira dos Santos, inspector-geral de Finanças;“
- Sou um mero bode expiatório. (...) Eu fui demitida pela televisão, por dois ministros com um processo ilegal (…) Vou tentar reparar a minha honra.” Christine Ourmières-Widener, ex-presidente executiva da TAP;
- “A partilha de informação é absolutamente normal, seria anormal não haver partilha de informação.” Carlos Pereira, ex-coordenador do PS na CPI sobre a sua participação na reunião preparatória com a ex-CEO da TAP da audição na Comissão de Economia;“
- “A Presidência da República nunca contactou a TAP, nem nenhum membro do Governo sobre tal assunto.” Presidência da República, em nota enviada na sequência do relato sobre um pedido de alteração de um voo, ao qual o ex-secretário de Estado Hugo Mendes deu anuência;
- “Não tenho dúvida de que foi a vontade da CEO. Esta é a minha convicção pessoal: a CEO queria que eu saísse da empresa. Confesso que tenho dúvidas sobre os motivos.” Alexandra Reis, ex-administradora da TAP;“
- Como tem sido muito evidente ao longo deste processo, o papel do grupo parlamentar do PS não é o papel de escrutínio enquanto grupo parlamentar da Assembleia da República, é um papel de protecção do Governo e poderá ser a melhor forma que têm para proteger o Governo.” Manuel Beja, ex-presidente do conselho de administração da TAP;
- “A CMVM [Comissão do Mercado de Valores Mobiliários] não tinha motivos nenhuns para duvidar da veracidade de um comunicado que é emitido por uma entidade com obrigações cotadas.” Luís Laginha de Sousa, presidente da CMVM;
- “A forma como foi questionado, de uma forma até deselegante, o meu papel no cumprimento do mandato da comissão leva-ma a questionar se continuo a ter as melhores condições para o fazer e entendo que é essa reflexão que urge fazer.” Jorge Seguro Sanches, ex-presidente da comissão de inquérito;
- “Tentei ficar na TAP até ser possível ficar (…) Quando chegou a altura em que verifiquei que não tinha condições para continuar, saí, com prejuízo”. Humberto Pedrosa, ex-accionista da TAP;
- “Vai ter de fazer essa pergunta a quem tomou essa decisão (…) Eu não a compreendo.” Diogo Lacerda Machado, ex-administrador não-executivo da TAP, sobre os 55 milhões pagos a David Neeleman para sair da TAP em 2020;
- “Tomámos hoje conhecimento, através dos meios de comunicação social, de nova divulgação pública de conteúdos, documentos e elementos que se encontram no arquivo documental desta comissão.” António Lacerda Sales, presidente da comissão de inquérito, em documento enviado ao presidente da Assembleia da República sobre fugas de informação;
- “Enquanto cidadão anónimo sem poder de decisão, fui ameaçado pelo SIS, fui injuriado e difamado pelo primeiro-ministro e pelo ministro das Infra-Estruturas.” Frederico Pinheiro, ex-adjunto do ministro das Infra-Estruturas;
- “Quando tomei conhecimento de que afinal havia notas, solicitei a Cátia Rosas que as pedisse, mas que pedisse o ficheiro informático em que as mesmas [notas] foram feitas porque o ficheiro permitiria, pelo menos, verificar que tinham sido feitas no dia 17 de Janeiro. Frederico Pinheiro não entregou o ficheiro informático, mas um papel.” Eugénia Correia, chefe de gabinete do ministro das Infra-Estruturas, João Galamba;
- “Eu não menti ao país, o comunicado [sobre a reunião preparatória do PS com a ex-presidente da TAP] é 100% válido (…) Nego categoricamente que tenha ameaçado Frederico Pinheiro, mas afirmo que fui ameaçado por Frederico Pinheiro – e não foi pouco, senhor deputado – e pode ter a certeza que, se havia alguém mesmo muito exaltado naquele telefonema, não era seguramente eu.” João Galamba, ministro das Infra-Estruturas;
- “Os membros do Governo que fizeram a transição de pastas connosco não informaram de nenhuns ‘fundos Airbus’. A Parpública, na reunião que tivemos em Dezembro de 2015, não me informou de nenhuns ‘fundos Airbus’”. Pedro Marques, ex-ministro das Infra-Estruturas;
- “O anormal foi pagar a um accionista privado para ele se livrar do problema e que tenha ficado o problema para nós.” Sérgio Monteiro, ex-secretário de Estado das Infra-Estruturas do Governo PSD/CDS sobre os 55 milhões pagos a Neeleman para sair da TAP;
- “O nosso entendimento é que o Governo não está aberto à possibilidade de vender a totalidade da empresa.” João Nuno Mendes, secretário de Estado das Finanças;
- “A pasta de transição na dimensão TAP era inexistente, nem pens, nem dossiês, não havia nenhuma referência à TAP na pasta de transição da ministra das Finanças do 20.º Governo [Maria Luís Albuquerque] para o ministro das Finanças do 21.º Governo.” Mário Centeno, antigo ministro das Finanças;
- “Devia ter sido comunicado, não há nenhuma razão para uma questão desta natureza [não ser comunicada], aliás, a substituição de um administrador tem sempre de ser feita com conhecimento do accionista [Estado]. O chairman e a CEO da TAP tinham de fazer a ponte com a tutela.” João Leão, ex-ministro das Finanças, sobre a saída de Alexandra Reis;“
- Continuo convencidíssimo de que o negócio que se fez [da compra de aviões envolvendo Neeleman] foi feito a preços de mercado. A TAP não foi prejudicada, bem pelo contrário.” António Pires de Lima, antigo ministro da Economia, sobre o negócio com a Airbus;
- “Penalizo-me pelo comentário que partilhei com a ex-CEO sobre o senhor Presidente da República [implicando a alteração de um voo], embora quisesse tão-só sinalizar, junto de alguém com quem tinha uma relação profissional de confiança, o apoio que o senhor Presidente da República deu à difícil decisão de resgatar a TAP (…) O que queríamos era reforçar a autoridade de Christine Ourmières-Widener como líder da sua equipa [com a saída de Alexandra Reis] (…) Eu pus-me na mão dos advogados, o meu papel não era fazer ‘compliance’ jurídico, [...] e nós agimos de boa-fé, respeitando o princípio da responsabilidade dos gestores.” Hugo Mendes, ex-secretário de Estado das Infra-Estruturas;
- “Há verdades mais inverosímeis do que a mentira, mas não vou passar a mentir só porque ela parece mais credível do que a verdade.” Pedro Nuno Santos, ex-ministro das Infra-Estruturas, sobre não ter tido memória de envolvimento na fase final da indemnização paga a Alexandra Reis, acabando depois por encontrar a mensagem em que a autorizou;“
- Tenho a convicção profunda de que todos os envolvidos no processo agiram na convicção de que o estavam a fazer no cumprimento da lei. Infelizmente, não estavam.” Fernando Medina, sobre indemnização a Alexandra Reis;
- “Os accionistas pretenderam continuar a contar com o meu contributo profissional.” Fernando Pinto, ex-presidente executivo da TAP, a propósito dos 1,6 milhões de euros que recebeu da TAP como consultor por um período de dois anos;
- “[Verba da Airbus aplicada na TAP] foi uma contribuição financeira [do fabricante] (…) Sempre assumi que as vantagens para a Airbus fossem a viabilização de um parceiro e cliente de quem têm sido um fornecedor de eleição e com quem imagino quisessem continuar a manter relações de confiança.” David Neeleman, antigo accionista da TAP, em depoimento por escrito à CPI.