Universidade desigual: a infeliz realidade da propina internacional

Em Coimbra, um estudante internacional irá desembolsar 7000 euros, enquanto um estudante nacional pagará 697 euros. Será a educação oferecida aos estudantes internacionais dez vezes mais valiosa?

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Megafone P3: Universidade desigual: a infeliz realidade da propina internacional Matilde Fieschi
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Mudar de país para estudar é uma dança poética entre o conhecido e o desconhecido. Por um lado, temos a promessa de novas experiências, a descoberta de novas culturas, o encanto de incontáveis novidades. Por outro, temos a saudade da família, dos amigos, da comida. Mas é justamente essa mistura de medo e excitação que torna a experiência tão valiosa.

Agora, imagina-te a ser transportado para uma trama rica e complexa de história, que pulsa uma cultura vibrante. Bem-vindo a Portugal, um autêntico íman de estudantes internacionais, especialmente brasileiros. E, no coração deste país fascinante, a Universidade de Coimbra é destaque. Por ser uma das mais antigas e prestigiosas instituições de ensino superior da Europa, tem-se vindo a tornar destino cada vez mais popular entre os estudantes brasileiros. Mas porquê? O que a torna tão fascinante para os estudantes internacionais?

Talvez a resposta esteja na propaganda que a própria universidade faz de si mesma: a sua notoriedade, a sua história rica, o seu prestígio académico ou até mesmo a sua localização central no país. A verdade é que a Universidade de Coimbra possui um charme especial que encanta todos os que a visitam. E é esse fascínio — muito bem trabalhado pelo núcleo de marketing da universidade — que a torna tão atraente aos olhos dos estudantes brasileiros. Arrisco dizer, muito mais atraente do que deveria ser.

Apesar de todo este suposto encanto, a realidade para os alunos internacionais em Coimbra é muito dura. Não é novidade que as propinas internacionais ultrapassam, e muito, o valor cobrado aos estudantes nacionais. Na Universidade de Coimbra a propina para estudantes internacionais é de 7000 euros por ano, enquanto para estudantes nacionais é de 697 euros. Esta é a única universidade do país que cobra o valor máximo permitido pela lei: outras universidades em Portugal (muitas vezes melhor classificadas) cobram até 80% menos.

É certo que a Universidade de Coimbra é património mundial. Com a sua história rica e reputação académica, é compreensível perceber o porquê de tantos estudantes internacionais sonharem em estudar cá. Mas será a qualidade do ensino que um estudante internacional recebe dez vezes superior à de um estudante nacional? Certamente que não.

As universidades justificam as propinas internacionais alegando que cobrem os custos adicionais que os estudantes internacionais carregam consigo. Quais são exactamente estes serviços tão especiais e custosos? Não me recordo de ter recebido nenhum apoio diferenciado. Acredito que os meus colegas estudantes internacionais diriam o mesmo.

Outro argumento comum é o do financiamento. Afirma-se que as propinas dos estudantes internacionais ajudam a financiar a universidade e a manter a sua qualidade, já que estes não contribuem para o sistema fiscal. Mas, se assim o é, porque é que o trabalhador-estudante, como eu, que declara IRS e paga os mesmos impostos que qualquer outro cidadão continua a ter propinas mais elevadas?

Talvez a resposta destas questões esteja no que aprendi nos meus primeiros dias cá, como qualquer outro estudante de uma faculdade de economia: se existe procura, porque não lucrar?Provavelmente, para o reitor actual, a universidade seja apenas mais um sector que deve ser lucrativo. O que é claro é que a diferença nas propinas levanta questões sobre equidade e inclusão no ensino superior português.

Não nos esqueçamos, a educação não é um negócio é um direito humano. O objectivo da educação não é tornar o conhecimento acessível a todos? Talvez esteja na hora das universidades reavaliarem suas abordagens às propinas.

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