Macron promete dar “respostas de fundo” aos problemas dos subúrbios

Presidente recebeu 250 autarcas e garantiu uma reconstrução rápida, depois dos tumultos que destruíram muito património público. Pelo menos 350 pessoas foram já condenadas a penas de prisão efectiva.

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Emmanuel Macron, Presidente de França, num encontro com autarcas franceses EPA/LUDOVIC MARIN / POOL
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As ruas de centenas de cidades e vilas francesas foram o cenário de tumultos violentos durante cinco noites na semana passada, mas a situação acalmou nas madrugadas de domingo e de segunda-feira, em que as autoridades não registaram incidentes de maior. Agora, o tempo é de avaliar estragos.

Na origem da onda de violência começou por estar a morte de um rapaz de 17 anos, Nahel, baleado por um agente da polícia numa operação-stop. Mas os protestos rapidamente assumiram contornos de motim, com pilhagens, ataques a edifícios e funcionários públicos e a autarcas, vandalismo, assaltos e confrontos com a polícia. Nas contas do Governo francês, mais de 5000 automóveis foram incendiados e mais de mil edifícios, entre os quais cerca de 270 esquadras de polícia, 80 estações de correios, escolas e uma prisão, foram vandalizados ou incendiados.

Só em Marselha, uma das cidades em que a violência foi mais extrema, pelo menos 200 lojas foram atacadas e pilhadas – o total nacional ronda os 1000 estabelecimentos comerciais. As autoridades detiveram mais de 3400 pessoas em sete noites e muitas estão já a ser julgadas graças a uma norma legal que permite um procedimento judicial expedito. A primeira-ministra, Élisabeth Borne, declarou na Assembleia Nacional que 350 participantes nos tumultos foram condenados a penas de prisão efectiva desde domingo.

As ruas estão mais tranquilas, enquanto nas salas de audiência dos tribunais se vivem momentos de tensão. Num julgamento em Marselha, relata o L’Obs, a sessão arrancou com gritos e insultos da assistência aos procuradores e aos juízes. Sete pessoas entre os 18 e os 25 anos acabaram por ser condenadas a penas que oscilam entre os dois meses de prisão efectiva e um ano de pena suspensa.

Em Paris, o Presidente reuniu-se com 250 autarcas das localidades mais afectadas pelos tumultos e prometeu rapidez na reconstrução. “Vamos apresentar uma lei urgente para acelerar todos os prazos”, disse Emmanuel Macron, segundo relatou um participante do encontro à AFP.

A reunião foi à porta fechada, mas algumas ideias do chefe de Estado apareceram na imprensa francesa. Macron afirmou que “o pico [de violência] das primeiras noites já passou”, mas que se mantém “muito prudente em relação aos próximos dias e semanas”.

O Presidente também prometeu, segundo a BFMTV, “respostas de fundo” dirigidas aos banlieues das grandes cidades, onde habitam comunidades migrantes e desfavorecidas – como é o caso de Nanterre, em que vivia Nahel.

Entre as medidas na cabeça de Macron estarão, de acordo com a AFP, a construção de mais habitação social e novas regras para a sua atribuição, a “simplificação” e “descentralização” dos processos de decisão política e “acompanhar melhor, responsabilizar melhor e, por vezes, punir melhor” os pais dos menores que participam activamente em tumultos violentos.

Entretanto, o Le Parisien obteve um testemunho escrito do passageiro que seguia no banco de trás do carro que Nahel conduzia. O relato de “Adam”, nome fictício, é semelhante ao que o outro ocupante do automóvel fez no fim-de-semana, ao mesmo jornal. “Adam” tem 14 anos e afirma que “os polícias apontaram as armas a Nahel” e um deles terá dito “que lhe ia meter uma bala na cabeça”. O rapaz de 17 anos tirou o pé do travão, “certamente por pânico” e “a viatura avançou sozinha” porque “é [um carro] automático”, descreveu “Adam”.

Nahel não tinha carta de condução e fontes judiciais adiantaram a vários meios de comunicação que já tinha desobedecido a ordens policiais noutras ocasiões. A sua morte reavivou um debate antigo sobre o excesso de violência policial, que muitos consideram desproporcionada para com pessoas de origem magrebina.

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