Na quarta etapa do Tour, nem os fugitivos queriam fugir

Num dos dias mais aborrecidos da história da Volta a França, a etapa trouxe mais um triunfo de Jasper Philipsen, que voltou a mostrar que, entre velocistas, é o mais forte da actualidade.

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Philipsen celebra em França Reuters/STEPHANE MAHE
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- Por que motivo estão aqui?
- Nem sei bem.

Este diálogo aconteceu entre um operador de câmara e um dos fugitivos da etapa desta terça-feira da Volta a França e é uma forma de explicar o que se passou durante uma tarde de pouco mais do que nada.

Depois da vitória de segunda-feira, houve novo triunfo de Jasper Philipsen (Alpecin) num final ao sprint, mas, antes disso, houve uma etapa que roçou a comédia. Foi o pesadelo de qualquer organização de corridas de ciclismo, com ciclistas em cavaqueira e risos no pelotão, bicicletas a rolarem a baixíssima velocidade, equipas de filmagem sem nada de interessante para mostrar, comentadores a “encherem chouriços” e até dificuldades para se eleger quem foi o ciclista mais combativo do dia, com os consequentes dois mil euros de prémio para a equipa.

Nas redes sociais houve quem apontasse que era a etapa mais aborrecida da história da competição, já que durante largos quilómetros se rolou a cerca de 30km/h e sem qualquer ciclista em fuga.

Neste “passeio” por estradas francesas, nem mesmo os ciclistas das equipas mais pequenas se prestaram a minutos de publicidade para os seus patrocinadores. Porquê? Há uma possível explicação.

O Tour é a “grande volta” que mais seduz os sprinters – e em velocistas há um plantel de luxo nesta edição. Nesta medida, quase todas as equipas têm um sprinter, pelo que não só não entrarão em fugas como serão formações mais do que suficientes para anularem fugas com facilidade. Com menos candidatos a fugas e menor probabilidade de sucesso dessas fugas, quem arrisca? Dois homens.

Anthony Delaplace e Benoit Cosnefroy acabaram por arriscar. No pelotão havia quem risse da aventura e o próprio Cosnefroy foi rindo durante a fuga, entrando em diálogo com as câmaras.

Ao lado tinha Delaplace, um ciclista com uma alcunha mordaz: tal como contado nas Histórias do Tour, é o “placette” – em tradução literal, uma “placette” é uma pequena praça ou um pequeno lugar. “Ganhei essa alcunha desde os primeiros anos, porque, apesar de andar sempre no meio dos sprints, ficava numa segunda linha e somava ‘lugares pequenos’ com alguma frequência”, apontou.

Com um pelotão faminto por uma chegada em pelotão compacto, um fugitivo a rir da própria aventura e a dizer que nem sabe bem o que ali faz e um outro com alcunha de quem nada ganha, o cenário estava mais do que traçado.

A "brincadeira" dos dois aventureiros terminou a cerca de 20 quilómetros da meta e houve, depois, trabalho dos “comboios”. Antes da entrada no circuito final, Mathieu van der Poel voltou a deixar Philipsen na posição certa e no momento exacto para o sprint vitorioso do velocista belga, que bateu novamente Caleb Ewan (terceiro na etapa anterior) e Phil Bauhaus (segundo na etapa anterior).

Com três quedas nos últimos dois quilómetros, o sprint não teve todo o "plantel" de velocistas, nomeadamente Fabio Jakobsen. E ainda não foi desta para Mark Cavendish, que ficou em quinto.

Para esta quarta-feira está desenhada uma tirada de montanha, mesmo não sendo com chegada em alto, que deverá ser bastante mais rica do que a corrida desta terça-feira.

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