Sánchez e Feijóo medem forças de olhos postos no terceiro lugar
É provável que nenhum dos dois maiores partidos obtenha maioria absoluta nas legislativas antecipadas de 23 de Julho, pelo que a formação do próximo Governo espanhol passará pelo Vox ou pela Sumar.
A campanha só arranca oficialmente na próxima sexta-feira, mas Espanha entrou em Julho com o termómetro político a ferver e as locomotivas partidárias já em velocidade máxima a caminho das legislativas antecipadas, daqui a três semanas. Depois da derrota do PSOE nas regionais de Maio, os mais de 35 milhões de eleitores vão às urnas para decidir o fim ou a continuidade do sanchismo.
Foi o próprio Pedro Sánchez, na comunicação ao país em que adiantou as eleições em meio ano, que colocou a espada da incerteza sobre o seu futuro político. Cinco anos depois de ter chegado à presidência do Governo espanhol, o líder socialista admitiu que a vitória expressiva do PP nas eleições municipais e autonómicas continha “uma mensagem que vai mais além” do contexto local.
E foi para evitar uma viragem de Espanha à direita, tentando apanhar os adversários fora de pé, que o governante convocou eleições para meio do Verão, com milhões de eleitores a banhos, numa decisão a que os analistas chamaram “arriscada” e até “suicida”.
A 20 dias da ida às urnas, as sondagens não favorecem os socialistas. O Partido Popular, liderado há ano e meio por Alberto Núñez Feijóo, segue à frente em todos os inquéritos de opinião, em média com mais seis ou sete pontos percentuais do que o PSOE.
O Vox, de extrema-direita, surge como terceira força política, com intenções de voto a rondar os 15%, e o Sumar, plataforma agregadora de esquerdas, é apontado como preferido por cerca de 13% dos entrevistados.
Sem uma maioria absoluta à vista para nenhum dos dois principais partidos, será decisivo o desempenho dos mais pequenos, sobretudo de Vox e Sumar, dos quais deverá depender a criação de maiorias à direita ou à esquerda. Neste momento, segundo os cálculos do especialista em sondagens do El País, Kiko Llaneras, o PP e o Vox, com ou sem outras pequenas formações, têm mais probabilidade de alcançar os 176 deputados necessários à maioria do que o bloco de esquerda.
Nas últimas semanas, o partido de Feijóo fechou acordos de governação com o de Santiago Abascal em 135 câmaras municipais e nas regiões de Valência, Baleares, Aragão e Estremadura. Neste último caso, a líder regional dos populares, María Guardiola, começara por rejeitar totalmente qualquer entendimento com a extrema-direita, mas viu-se forçada a “engolir as suas palavras”, como descreveu Juanma Moreno esta segunda-feira.
O presidente da Andaluzia, que governa a região pelo PP com maioria absoluta há um ano, definiu ao El Mundo a linha que o partido vai seguir em campanha: pedir a maioria absoluta para não ter de depender do Vox.
“Não é uma manifestação de intenções, é um objectivo possível”, declarou Feijóo no domingo à Telecinco, admitindo, no entanto, um entendimento com Abascal. “Se precisarmos do sim do Vox, o lógico é que o Vox esteja no Governo. Se não tiver de lhe pedir o voto, o lógico é que não esteja”, afirmou o líder popular.
“Filme tenebroso”
Para Sánchez, que também no domingo deu uma entrevista ao catalão El Periódico, os acordos regionais entre Feijóo e Abascal são “o trailer de um filme tenebroso”. E definiu o tom das próximas semanas: “A meu ver, claramente estamos a falar de se queremos continuar nos próximos quatro anos com os avanços que verificámos durante os cinco anos em que estou à frente do Governo de Espanha ou se retrocedemos.”
Duas sondagens publicadas esta segunda-feira, uma pelo El País e pela rádio SER, a outra pelo ABC, apontam para uma queda do bloco de direita nas intenções de voto ao longo das semanas passadas.
Mas o barómetro 40 dB., divulgado pelo jornal e pela rádio do grupo Prisa, também assinala problemas à esquerda. Neste inquérito, a plataforma Sumar, de Yolanda Díaz, que congrega 17 formações políticas, não vai além dos 35 deputados que o Podemos conseguiu sozinho em 2019.
A tensão entre a actual ministra do Trabalho e o partido outrora liderado por Pablo Iglesias foi notória durante as negociações com vista a uma coligação pré-eleitoral. O acordo acabaria por ser firmado apenas no fim do prazo legal para a apresentação de listas, não sem antes Díaz ter imposto o afastamento das listas da actual ministra da Igualdade, Irene Montero, que nem sequer vai participar na campanha.
Montero foi o rosto mais visível da chamada lei do “só sim é sim”, sobre violência sexual, que reduziu penas de prisão a mais de 1000 condenados por violação, e que acabaria por ser alterada pelo PSOE, provocando um grande desgaste no Governo de coligação.
O que vai realmente acontecer a 23 de Julho dependerá muito de cada circunscrição eleitoral, alerta o académico David Campo ao El Diario. Em quase metade das 52 províncias espanholas, apenas são eleitos deputados de dois ou três partidos – o terceiro lugar pode revelar-se decisivo para a futura paisagem política no Congresso.