Reino Unido teve recorde médio de temperaturas em Junho

Temperatura recorde em 140 anos tem “impressão digital” das alterações climáticas, defende serviço meteorológico do país.

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Um homem anda de patins em Hyde Park, em Londres, num fim-de-semana de Junho com temperaturas de 30 graus KEVIN COOMBS/Reuters

O mês passado foi o Junho mais quente alguma vez registado no Reino Unido, anunciou nesta segunda-feira o serviço de meteorologia do país, avisando que as alterações climáticas induzidas pela humanidade estão a tornar este tipo de recordes de temperatura cada vez mais provável.

Os recordes das ondas de calor estão a passar a ser um padrão mundial, à medida que os cientistas avisam de que os esforços para travar o aumento das temperaturas estão a ficar aquém do que é necessário para evitar os efeitos mais catastróficos do aquecimento global.

O Met Office (serviço meteorológico do Reino Unido) disse que a temperatura média de 15,8 graus Celsius em Junho foi a maior de sempre numa série anual de temperaturas que se regista desde há quase 140 anos, batendo o recorde anterior para aquele mês de 14,9 graus sentidos em 1940 e depois em 1976.

“Todos os números estão a sugerir que vamos na direcção errada em relação ao calor, à intensidade do calor e do quão prolongado ele é”, disse à Reuters Clare Nasir, meteorologista do Met Office.

No ano passado, o Reino Unido registou o seu dia de maior calor quando a temperatura atingiu a marca dos 40 graus pela primeira vez, causando disrupções em infra-estruturas como aeroportos e ferrovias, e provocando incêndios florestais.

Possibilidade de temperaturas recorde aumenta

Descrevendo o mais recente recorde como trazendo “uma impressão digital das alterações climáticas”, o Met Office disse que um estudo feito pelos seus cientistas descobriu que as probabilidades de um Junho ser mais quente do que 14,9 graus terão, pelo menos, duplicado desde 1940.

“Lado a lado com a variabilidade natural, o aquecimento de fundo da atmosfera terrestre, devido às alterações climáticas induzidas pelos humanos, fez subir a possibilidade de se alcançar temperaturas máximas recordes”, disse Paul Davies, meteorologista-chefe e investigador principal de extremos climáticos do Mett Office.

Na semana passada, a Espanha registou temperaturas acima dos 44 graus ao mesmo tempo que os dois maiores emissores de gases com efeitos de estufa, a China e os Estados Unidos, assistiram a uma série de ondas de calor em Junho.

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Um homem caminha numa porção seca do rio Derwent, em Seathwaite, no Noroeste de Inglaterra, em Junho, após uma seca prolongada PHIL NOBLE/Reuters

Há uma semana, a South East Water, uma empresa de fornecimento de água do Reino Unido, introduziu uma proibição temporária em relação ao uso de mangueiras e de aspersores para as regiões inglesas de Kent e Sussex em resposta às altas temperaturas e ao aumento de demanda de água para beber.

O Met Office disse ainda que a onda de calor marinha que está a afectar o Atlântico Norte teve um papel subjacente em aumentar as temperaturas terrestres no Reino Unido e acrescentou ainda que a chuva que caiu em Junho correspondeu a 68% do nível médio para aquele mês.

As políticas climáticas do primeiro-ministro britânico, Rishi Sunak, passaram a ser alvo de uma atenção apertada após a recente demissão de Zac Goldsmith, ministro de Estado dos Territórios Ultramarinos, da Commonwealth, da Energia, do Clima e do Ambiente, que fechou a porta com uma dura crítica ao primeiro-ministro, acusando-o de ser “hostil” ao ambiente. E de um relatório elaborado por conselheiros climáticos do país com críticas à política do Reino Unido.

Por sua vez, Sunak disse que o seu Governo era um líder mundial na redução de emissões, tinha um plano de melhoria ambiental e que o Reino Unido tem uma posição importante a nível mundial tendo negociado em 2021 um acordo climático que era um marco.

A Greenpeace disse que o relatório do Met Office demonstra a necessidade de uma acção radical.

“Não podemos lidar com esta enorme ameaça sem um esforço governamental maciço para reparar as nossas casas que desperdiçam energia, para instalar as renováveis em modo turbo, para melhorar a nossa rede eléctrica e limpar o nosso sector de transportes”, disse Mel Evans, responsável climática da Greenpeace do Reino Unido.