Projecto defende inventariação de património azulejar e mapa nacional do azulejo

“Não podemos proteger aquilo que não sabemos exactamente que temos. É mesmo a medida mais básica, inventariar o património”, diz Leonor Sá, responsável pelo Projecto SOS Azulejo, nascido em 2007.

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A produção de azulejos tem 500 anos de história em Portugal e ganhou tradição na arquitectura NUNO VEIGA/LUSA

A coordenadora do Projecto SOS Azulejo, Leonor Sá, defendeu a inventariação do património azulejar em todo o país para reforçar o seu conhecimento e salvaguarda, ultrapassadas as décadas de destruição sistemática.

"Não podemos proteger aquilo que não sabemos exactamente que temos. É mesmo a medida mais básica, inventariar o património", sublinhou a responsável, em entrevista à agência Lusa, a propósito de um balanço de 16 anos de actividade do projecto criado pelo Museu de Polícia Judiciária - Instituto de Polícia Judiciária e Ciências Criminais, em Lisboa.

A iniciativa nasceu oficialmente em 2007, numa altura em que "a delapidação azulejar era dramática". Desde essa altura, segundo um relatório de 2022 do SOS Azulejo, houve uma redução substancial de furtos (na casa dos 84%). A aprovação da lei 79/2017, que veio interditar a demolição das fachadas azulejadas e remoção de azulejos históricos e artísticos a nível nacional, também teve peso.

Leonor Sá argumenta que foram as propostas apresentadas pelo Projecto SOS Azulejo a partir de 2015, na Assembleia da República, que levaram ao debate de uma questão que até então estava totalmente fora do debate público e até académico, sugere.

Considerado um caso único a nível mundial devido às suas características particulares e variadas, o azulejo tem 500 anos de produção nacional e ganhou tradição em Portugal na arquitectura, revestindo inúmeras igrejas e palácios nobres, entre outros edifícios da paisagem urbana do país.

Ultrapassadas (sobretudo a partir dos anos 1980) as décadas de furtos, demolições e remoção de dezenas de milhares de azulejos por todo o país, o projecto continua activo e a chamar a atenção das autarquias, através dos seus parceiros, para a necessidade de preservação.

Uma das resoluções aprovadas no Parlamento, em 2017, recomendou a protecção e valorização do património azulejar português através de várias medidas, entre elas a inventariação, "a medida basilar de qualquer intervenção de salvaguarda".

Conservadora do Museu de Polícia Judiciária, para além de mentora e coordenadora do SOS Azulejo, Leonor Sá considerou que seria "muito interessante" fazer uma quantificação do património azulejar que existia e comparar com a situação actual, "para perceber o que se perdeu".

"Temos vindo a tentar incentivar os municípios que não têm esses inventários a realizá-los. São muito poucos os que já os têm", diz, sublinhando ainda a necessidade de que tais inventários "sejam realizados com os mesmos critérios".

O objectivo seria "unificar esses inventários municipais e criar um mapa nacional do azulejo, com muitas vantagens para a sua preservação e promoção, dentro do património cultural do país".

Embora considere que "o património azulejar português continua em risco parcial", Leonor Sá faz um balanço positivo dos resultados alcançados, com a redução progressiva dos furtos de azulejos históricos e artísticos e as já raras demolições que, diz, violam a lei em vigor.

"Resiliência é um dos segredos. É ficar contente com cada centímetro que se consegue avançar e ganhar ânimo para conquistas futuras", reflecte, a propósito de uma iniciativa que surgiu na esteira de outros projectos anteriores, dedicados à protecção, pela Polícia Judiciária, de património de museus e igrejas do país.

Apesar de o arranque do projecto se ter dado em 2007, o processo de obtenção de parcerias começou seis anos antes, e actualmente são oito as entidades envolvidas: a Associação Nacional dos Municípios Portugueses, a Direcção-Geral do Património Cultural (DGPC), as universidades de Lisboa e Aveiro, o Politécnico de Tomar, a Polícia de Segurança Pública e a Guarda Nacional Republicana.

Em 2013, o Projecto SOS Azulejo foi distinguido com um Prémio da União Europeia para o Património Cultural - Europa Nostra, dedicado ao património cultural europeu.