Se Costa quer enfrentar o BCE, aprove medidas da habitação do PCP, diz Paulo Raimundo

Costa contrariou o pedido de Lagarde e garantiu que os apoios sociais vão continuar. Tem agora a “oportunidade” de melhorar o pacote da habitação aprovando as propostas do PCP, aponta Paulo Raimundo.

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Paulo Raimundo, secretário-geral do PCP LUSA/MANUEL FERNANDO ARAÚJO

O líder do PCP, Paulo Raimundo, lançou este sábado um desafio ao primeiro-ministro, António Costa, após este fazer frente à presidente do Banco Central Europeu (BCE) quando esta pediu moderação nos aumentos salariais e o fim dos apoios sociais às famílias e empresas. No final da reunião do Comité Central do PCP, o comunista pediu a António Costa que agarre a oportunidade e aprove as propostas que o PCP apresentou em áreas como habitação ou a fixação de preços, pelo menos de bens e serviços essenciais.

António Costa "tem agora uma oportunidade de aprovar as propostas que o PCP apresentou na Assembleia da República no quadro do pacote Mais Habitação, que materializam a suposta discordância com o BCE", afirmou o secretário-geral do PCP na sede do partido, numa conferência de imprensa para apresentar as conclusões da reunião do Comité Central do partido.

Seguro de que "é preciso que haja consequências das afirmações que são feitas", Paulo Raimundo sugeriu ao primeiro-ministro "atacar os lucros da banca", fazendo-a "pagar os aumentos brutais das taxas de juro, algo que vai ao encontro das preocupações do senhor primeiro-ministro".

"O Governo não pode ficar calado e quieto" face aos aumentos das taxas de juros, continuou Raimundo, acrescentando que considera insuficientes as críticas feitas por Costa em Bruxelas. "O senhor primeiro-ministro levantou a voz, mas isso de pouco vale se não forem tomadas medidas concretas", proclamou.

O chefe do Governo contrariou, na passada sexta-feira, a presidente do BCE, Christine Lagarde. Assegurando que "o aumento dos lucros extraordinários tem contribuído mais para a manutenção da inflação do que as subidas salariais", António Costa acrescentou que o facto de o BCE "não compreender" essa "natureza específica deste ciclo inflacionista" "limita muito a capacidade de o enfrentar”. Por isso mesmo, garantiu, tanto os apoios às famílias e às empresas como o aumento de salários vão continuar.

Fixem-se os preços de bens essenciais

Concordando com esta análise, Paulo Raimundo desafiou o primeiro-ministro a agir em conformidade, começando pelo "controlo e redução de preços, nomeadamente dos bens alimentares e outros bens essenciais" e dando luz verde às medidas propostas pelo PCP para combater a crise habitacional. Surge agora "uma oportunidade" para melhorar o pacote Mais Habitação e dar resposta "às questões concretas" de quem vive em Portugal: "aprovar as propostas do PCP", apontou Paulo Raimundo. A verdade, considera o comunista, é que "a propaganda dos “bons resultados da economia”, não tem correspondência com as condições de vida da maioria da população".

O pacote apresentado pelo Governo é, desde o início, "muito limitado; insuficiente", aponta o líder do PCP. Isto traduziu-se, "na prática, mais do que em Mais Habitação, em mais transferências para os responsáveis pela situação a que chegámos: a banca e os fundos imobiliários", concluiu. Além disto, "medidas como o IVA Zero ou o Mais Habitação mais não fazem do que procurar mascarar a contínua defesa dos grupos económicos, protegendo os seus lucros", acrescentou.

Sublinhando que "o rumo de deterioração das condições de vida dos trabalhadores e do povo não só se confirma como se acentua", Paulo Raimundo apontou ainda "outros problemas imediatos" que exigem resposta célere. São eles: o aumento das pensões e reformas para todos em 9,1%; o controlo e redução de preços; a valorização e investimento no Serviço Nacional de Saúde (SNS) e nos seus profissionais de saúde; e uma diminuição de impostos para os trabalhadores, reformados e micro, médios e pequenos empresários e comerciantes.

Neste sentido, o secretário-geral do PCP manifestou a expectativa de que possam ser aprovadas as medidas que o partido leva a discussão e votos na próxima sexta-feira, num agendamento potestativo, num diploma que visa baixar os impostos sobre trabalhadores e reformados, aumentar a tributação dos grupos económicos e reduzir o IVA na electricidade, gás e telecomunicações.

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