“Rebelião foi um desafio ao Estado russo”, diz director da CIA

William Burns vê descontentamento da sociedade russa com a guerra na Ucrânia como uma oportunidade de recrutamento de espiões.

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O director da CIA, William Burns Reuters/KEN CEDENO
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O director da CIA, William Burns, disse este sábado que a rebelião armada do líder mercenário Yevgeny Prigozhin foi um desafio ao Estado russo, que demonstra o efeito corrosivo da guerra na Ucrânia na sociedade da Rússia.

“É surpreendente que Prigozhin (Prigojin na transliteração portuguesa) tenha precedido as suas acções com uma acusação contundente à justificação mentirosa do Kremlin para a invasão da Ucrânia e à condução da guerra por parte da liderança militar russa”, afirmou Burns numa palestra na Fundação Ditchley, uma organização sem fins lucrativos centrada nas relações entre os EUA e o Reino Unido.

Durante meses, Prigozhin insultou abertamente as chefias militares do Kremlin, particularmente o ministro da Defesa, Serguei Shoigu, e o chefe do estado-maior das forças russas, Valeri Guerasimov, mas as acusações do líder do grupo Wagner nunca mereceram resposta pública por parte do Presidente russo, Vladimir Putin.

“O impacto dessas palavras e dessas acções será sentido durante algum tempo, uma recordação vívida do efeito corrosivo da guerra de Putin na sua própria sociedade e no seu próprio regime”, considerou o chefe da agência de espionagem norte-americana.

Burns, que foi embaixador dos EUA na Rússia entre 2005 e 2008 e e assumiu a direcção da CIA em 2021, classificou a rebelião como um “desafio armado ao Estado russo”.

Desde que foi alcançado um acordo, há uma semana, para pôr fim ao motim, o Kremlin tem procurado projectar calma e controlo, com Putin, de 70 anos, a discutir o desenvolvimento do turismo, a reunir-se com multidões no Daguestão e a debater ideias para o desenvolvimento económico.

O director da CIA vê ainda o descontentamento na Rússia com a guerra na Ucrânia como uma ocasião para os serviços de informação ocidentais, com a possibilidade de recrutar espiões.

“O descontentamento com a guerra continuará a atormentar a liderança russa sob a dieta constante de propaganda estatal e repressão”, disse Burns. “Esse descontentamento cria uma oportunidade única para nós, na CIA. Não a vamos desperdiçar”, acrescentou.

Minas em Zaporijjia

Na Ucrânia, os peritos da Agência Internacional da Energia Atómica (AIEA) presentes na central nuclear de Zaporijjia não viram sinais de que os ocupantes russos tenham colocado minas recentemente, embora tenham pedido tempo para uma avaliação mais aprofundada, enquanto o Presidente ucraniano Volodymyr Zelensky reiterou a sua convicção sobre a existência das mesmas.

A equipa de peritos, que está permanentemente estacionada na central nuclear, ainda não teve acesso a algumas áreas das instalações, reconheceu o chefe da AIEA, Rafael Grossi, numa declaração na sexta-feira à noite. Partes das salas das turbinas e do sistema de arrefecimento ainda não foram inspeccionadas.

Na semana passada, os serviços de informação militar ucranianos SBU afirmaram que a Rússia tinha minado a central e planeava um ataque terrorista, alegações que Moscovo negou. Já este sábado, Zelensky afirmou que existia uma “ameaça séria” à central, já que a Rússia estava “tecnicamente pronta” para provocar uma explosão localizada.

“Levamos muito a sério todos estes relatórios e dei instruções aos nossos peritos no local para analisarem esta questão e solicitarem o acesso de que necessitam para efectuar o seu trabalho”, afirmou Grossi num comunicado, acrescentando que “até agora não observámos quaisquer minas ou outros explosivos”.

Embora a AIEA não tenha visto sinais visíveis de minas nas suas últimas inspecções em Junho, a agência reconheceu que no passado “foram colocadas minas fora do perímetro da central” e “em locais específicos no interior”.

Na sexta-feira, numa entrevista aos meios de comunicação espanhóis, Zelensky reiterou que “a central nuclear de Zaporijjia está minada, e isso é um facto”.

“A AIEA confirma a existência de minas na central nuclear, de acordo com as últimas informações de que dispunha. Há uma confirmação definitiva dos nossos serviços secretos de que existem minas no local. E há informações precisas de que cerca de 500 milicianos permanecem no local”, disse o Presidente ucraniano.

A central de seis reactores, a maior da Europa, está ocupada pelas forças russas desde Março de 2022 e, no Verão passado, os bombardeamentos regulares causaram problemas com o fornecimento de energia externa. Por razões de segurança, a central foi colocada em paragem a frio.

No entanto, o procedimento não elimina o perigo de um acidente, uma vez que é necessária uma fonte externa de electricidade externa para manter os reactores frios e para outras operações críticas para a segurança da central.

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