Nuno Ferrand de Almeida condecorado pela embaixada de França

Ao biólogo português serão agora entregues as insígnias do grau de cavaleiro da Ordem Nacional da Legião de Honra de França.

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O biólogo Nuno Ferrand de Almeida na Galeria da Biodiversidade, no Porto Nelson Garrido
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O biólogo Nuno Ferrand de Almeida, director do Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos (Cibio-InBio) da Universidade do Porto, é condecorado esta sexta-feira à tarde na embaixada de França em Portugal. Receberá em Lisboa as insígnias de cavaleiro da Ordem Nacional da Legião de Honra de França.

“Esta condecoração resulta de dezenas de anos de colaboração com França”, considera Nuno Ferrand de Almeida, que se tem dedicado a investigar a biologia evolutiva e a diversidade genética de populações naturais e domesticadas e é professor catedrático do Departamento de Biologia da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto.

“As minhas referências científicas foram sempre laboratórios em França, em particular há 20 anos, quando fiz uma sabática na Universidade de Montpellier. Essa sabática é coincidente com a fundação do Cibio”, recorda o biólogo que, em 2017, criou a Galeria da Biodiversidade na Casa Andresen, um pólo do Museu de História Natural e Ciência da Universidade do Porto que procura aliar a ciência e a arte.

A promoção da cultura científica tem sido outro dos interesses do biólogo. Concebeu três pólos do Museu de História Natural e da Ciência da Universidade do Porto, de que foi director: a Casa Andresen, o Pólo Central e o Aquário da Foz, tendo inaugurado os dois primeiros (o aquário, diz, permanece abandonado).

“O Cibio nasceu em 2003 e a partir daí desenvolveu-se uma colaboração intensa com a Universidade de Montpellier, que é uma das melhores universidades do mundo na área da ecologia e evolução”, conta ainda Nuno Ferrand de Almeida.

Desta colaboração, como destaca, nasceu um dos chamados “laboratórios internacionais associados ao CNRS” – a sigla em francês de Centro Nacional de Investigação Científica. Esta colaboração entre o CNRS e o Cibio, dedicada à biodiversidade e evolução, é de 2014. Seguiu-se a candidatura do Cibio a um dos grandes programas de financiamento da ciência europeia – o Teaming – em conjunto com a Universidade de Montpellier.

“O Teaming é uma maneira de fazer equipa entre um país considerado frágil do ponto de vista científico – Portugal – e outro, como França, considerado sólido”, acrescenta o biólogo, realçando que foi em 2019 que o Cibio e a Universidade de Montpellier ganharam o financiamento do Teaming, que representa 15 milhões de euros vindos de Bruxelas, a que se juntam outros 15 milhões de comparticipação nacional por parte de Portugal, num programa a dez anos conhecido por Biopolis, dedicado à investigação em áreas como a biodiversidade e a genética.

A crescente colaboração científica entre o centro que Nuno Ferrand de Almeida dirige e a Universidade de Montpellier terão originado a visibilidade suficiente que motivou a condecoração com o grau de cavaleiro da Ordem Nacional da Legião de Honra de França, por nomeação do Presidente francês, Emmanuel Macron.

“Um estímulo extraordinário”

Numa carta enviada a Nuno Ferrand de Almeida pela anterior embaixadora de França em Portugal, Florence Mangin, em Setembro de 2021, refere-se que esta distinção é um reconhecimento tanto da excelência do percurso académico do biólogo como da sua determinação, que o levou “a criar um pólo de investigação sobre biodiversidade de envergadura internacional”.

A cerimónia de entrega a Nuno Ferrand de Almeida, agora pela embaixadora de França Hélène Farnaud-Defromont, das insígnias desta condecoração honorífica francesa, criada em 1802 por Napoleão Bonaparte, terá lugar esta sexta-feira às 17h30. “Esta distinção é um estímulo extraordinário para esta colaboração entre Portugal e França se desenvolver ainda mais”, considera o biólogo, sublinhando que esta cooperação também passará por África, onde o biólogo está a estabelecer uma rede de laboratórios, os TwinLabs.

Na biologia evolutiva tem-se interessado particularmente por histórias como a do coelho, como contou na última terça-feira nas Jornadas Científicas 2023, na reitoria da Universidade de Lisboa. Na sua palestra “A vida em toda a parte: Algumas ideias sobre ciência, universidades, centros de investigação, museus, literacia científica e outras…”, Nuno Ferrand de Almeida regressou a este animal. “O coelho permite aceder a questões que vão para lá da própria espécie”, disse, recordando que Bartolomeu Perestrelo, um dos povoadores do arquipélago da Madeira, levou para a ilha de Porto Santo uma coelha que ia prenha e, assim, introduziam-se estes animais por essas paragens. “E isto chegou a Darwin, que estudou o coelho de Porto Santo.”

A última domesticação de um animal, transformando-o de selvagem em doméstico, foi a do coelho, há cerca de mil anos: “É a mais extraordinária. É mesmo! É a mais extraordinária porque é a única domesticação de um animal na Europa.”

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