ChatGPT nas salas de aula? Sim, mas “é preciso não esquecer a empatia”
Inteligência artificial em ambiente escolar esteve em debate no Collision, em Toronto. Peritos querem ChatGPT nas salas de aula. Mas ressalvam: a humanidade não pode ser renegada.
O novo capítulo da revolução tecnológica que está a ser escrito pelo surgimento da inteligência artificial é bem-vinda nas salas de aula para os três especialistas que debateram na passada terça-feira no Collision — o evento-irmão da Web Summit em Toronto, Canadá — “como é que as tecnologias emergentes estão a transformar a forma de ensinar e aprender”.
Numa das sessões de debate mais concorridas do palco Future Societies, houve unanimidade na plateia: todos os espectadores levantaram a mão quando questionados sobre quanto teriam gostado de ter ao seu alcance, nos tempos de escola, uma ferramenta do tipo ChatGPT. Ao longo da sessão, desvendou-se outra concordância entre os oradores: essa é uma revolução que peca por tardia. Mas com regras.
Isso mesmo foi partilhado por Meti Basari, fundador de uma empresa que simplifica o processo burocrático do estudo no estrangeiro: “Penso que nos próximos cinco a dez anos veremos uma grande diferença na educação, que já não mudava há, pelo menos, uma década. Teremos de trabalhar muito mais com ela”, assumiu. Porém, “a empatia ainda é um ponto de interrogação”.
Essa é a maior preocupação de Mary Gordon, directora executiva de uma organização para o desenvolvimento da escolaridade básica. Considerada uma das vozes mais poderosas na defesa dos direitos das crianças, Mary acredita que a inteligência artificial “está a ser usada de forma muito inteligente e apropriadamente”: “As crianças até são mais astutas tecnologicamente do que os professores, e isso é bom”, defendeu.
Mas “temos de ter cuidado para não permitirmos que a tecnologia eclipse a nossa humanidade”, apelou durante o debate: “É preciso não esquecer a necessidade de as crianças continuarem a usar a capacidade de empatia. Não podem ficar demasiado envolvidas neste tipo de soluções”. É um alerta que Joshua Wöhle, fundador de uma empresa que incentiva à produtividade académica, que remata com uma solução: ferramentas como o ChatGPT podem ser campos de treino para valências difíceis de treinar na vida real.
O argumento surgiu depois de Mary Gordon ter alertado para que, apesar de a saúde mental das crianças estar a mudar — há cada vez mais casos de ansiedade diagnosticados na população infantil —, os comportamentos não se alteraram tanto assim de uma geração para a outra — e certamente não ao mesmo ritmo que as novas tecnologias estão a surgir. “A vergonha de fazer uma pergunta na sala de aula quando se tem sete anos é hoje igual à que nós, os adultos, sentíamos com essa idade”.
A sugestão de Joshua é então transformar o ChatGPT num “ambiente simulado” e numa “ferramenta de feedback” para treinar a capacidade de comunicação, a clareza das mensagens, a empatia por quem tem opiniões diferentes — e, da mesma forma, para desenvolver um sentido crítico ao aprender a verificar a informação apresentada.
“A educação é o espaço que mais vai ser revolucionado por tudo o que está a acontecer”, defendeu Joshua: “As crianças de hoje precisam de aprender depressa, aprender bem e ter um maior leque de visões”. O ChatGPT, assim como outras ferramentas de inteligência artificial, podem, por isso, entrar nas salas de aula como mais um tipo de material escolar — mas “como se fosse um professor personalizado”.