Pelo menos 150 detidos em protestos após morte de jovem às mãos da polícia francesa

Várias localidades de França foram palco de protestos, motins e confrontos entre manifestantes e as forças de segurança durante a noite. Macron reúne Governo de emergência.

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Cerca de 2000 polícias anti-motim foram mobilizados para os arredores de Paris na noite de quarta-feira EPA/YOAN VALAT
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Pelo menos 150 pessoas foram detidas entre a noite de quarta-feira e as primeiras horas desta quinta-feira, em França, por envolvimento em protestos que ocorreram em várias cidades e localidades do país, e que tiveram origem na morte de um jovem de 17 anos, em Nanterre, nos arredores de Paris, às mãos da polícia.

Iniciados na terça-feira, maioritariamente nos bairros circundantes da capital, os protestos alastraram-se na quarta-feira à noite para outras cidades, como Toulouse, Dijon, Lyon, Amiens ou Nice, tendo evoluído, em alguns casos, para motins, cenas de vandalismo urbano e confrontos com as forças de segurança.

A segunda noite de caos levou o Presidente francês, Emmanuel Macron, a convocar uma reunião de emergência com o Governo para esta quinta-feira de manhã. “A violência contra esquadras policiais, escolas, edifícios municipais e contra a República são injustificáveis”, escreveu no Twitter.

Só em Paris, informou o Ministério do Interior francês, foram mobilizados cerca de 2000 agentes das forças antimotim para conter a violência.

Na região ocidental de Paris, noticia a France 24, um grupo de manifestantes encapuzados e vestidos de negro atiraram fogo-de-artifício contra a polícia; e, a nordeste da capital, queimaram caixotes de lixo e arremessaram garrafas e outros objectos contra os agentes policiais.

Em Nanterre, onde os confrontos foram mais violentos, “vários edifícios públicos e privados, incluindo escolas, sofreram danos significativos e inaceitáveis, por vezes irreparáveis”, afirmou a autarquia, apelando ao fim desta “espiral destrutiva”.

Também há relatos de transportes públicos incendiados em Clamart e Essonne (região Sul) e de cenas de vandalismo e de confrontos com a polícia noutras cidades de França.

Fontes da polícia também disseram à AFP que um grupo de manifestantes atacou o complexo prisional parisiense de Fresnes, o segundo maior do país. Foram, no entanto, neutralizados e não conseguiram entrar no edifício.

“Uma noite de violência insuportável contra os símbolos da República: foram incendiados ou atacados edifícios municipais, escolas e esquadras da polícia. 150 detenções”, lamentou o ministro do Interior, Gérald Darmanin, numa mensagem publicada também no Twitter, e na qual elogiou a “coragem” das forças de segurança e critica “aqueles que não apelaram à calma”.

Macron: “Inexplicável e imperdoável”

Os protestos começaram depois de um jovem de 17 anos, com ascendência do Norte de África e identificado como Nahel M., ter sido baleado no peito, na terça-feira de manhã, depois de a polícia ter mandado parar o seu veículo, em Nanterre, por alegada infracção das regras do trânsito.

Num primeiro momento, a polícia parisiense disse que o agente que disparou sobre Nahel o fez porque este vinha a conduzir o veículo na sua direcção, com o intuito de o atropelar. Mas um vídeo posto a circular nas redes sociais, cuja veracidade foi confirmada pela AFP e por outros órgãos de comunicação social franceses, mostra um agente a apontar a arma ao condutor de um veículo parado e a dizer: “Vais levar com uma bala na cabeça”. Depois, no momento em que o veículo começa a avançar, ouve-se um disparo.

No carro de Nahel estavam mais duas pessoas. Uma pôs-se em fuga e a outra foi brevemente detida.

Depois da morte do adolescente, a polícia denunciou uma tentativa de atropelamento e fuga. Mais tarde, o agente de 38 anos que terá disparado sobre Nahel foi detido, por suspeitas de homicídio involuntário.

Na primeira reacção ao caso, na terça-feira, Macron não se coibiu de criticar a actuação da polícia. “Um adolescente foi morto. É inexplicável e imperdoável”, afirmou o Presidente francês. “Quero manifestar os sentimentos de toda a nação pelo sucedido e pela morte do jovem Nahel. E expressar a solidariedade e o carinho da nação à sua família”, acrescentou.

Já Marine Le Pen, principal figura da extrema-direita francesa, preferiu sublinhar que o agente policial detido goza de “presunção de inocência”.

O episódio trouxe novamente à discussão o debate sobre o uso excessivo e inadequado de força e de meios por parte da polícia francesa, nomeadamente quando se trata de lidar com pessoas de contextos mais desfavorecidos e de minorias étnicas.

Grupos de direitos humanos e civis, citados pela BBC, dizem que o número de casos envolvendo o disparo de armas de fogo pelas autoridades francesas aumentou desde 2017, na sequência da entrada em vigor de uma lei que expandiu o âmbito das situações em que a polícia pode recorrer a esses meios.

Prova dessa inadequação de meios, sublinham activistas e académicos, está o facto de 13 pessoas terem sido mortas pela polícia em 2022, depois de terem sido mandadas parar no trânsito.

“A lei veio confundir disposições que eram bem claras e que diziam que [um agente policial] não pode recorrer a armas de fogo, a não ser que seja para proteger a sua vida ou a vida de outros”, disse à Reuters Fabien Jobard, investigador do Centro de Investigação Sociológica de Instituições Penais e de Direito.

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